Creio em Jesus Cristo, seu
único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo;
nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado,
morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está
sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os
vivos e os mortos.
Nesta segunda parte, o Credo Apostólico ratifica quem é Cristo, a Sua divindade
como segunda pessoa da Trindade, como ele nasceu, morreu e ressuscitou.
Durante séculos
Jesus sofreu vários ataques, alguns negaram a Sua divindade, sua humanidade,
sua existência. Hoje, os ataques à pessoa de Cristo são um pouco diferentes,
alguns desses ataques, ou melhor – blasfêmias, é inventar alguns títulos a
Cristo, os quais não possuem base bíblica. Na verdade esses títulos não são
para engrandecê-lo, mas para menosprezar sobre quem Ele é na realidade.
Certa feita Jesus pergunta aos seus
discípulos: “Quem diz os homens ser o Filho do homem? E eles disseram:
Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos
profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro,
respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt
16.13-16). A resposta de Pedro é a mesma que afirma o Credo em outras palavras,
Jesus Cristo, seu único Filho.
Para o homem moderno essa declaração de
Pedro é antiquada, para eles, Jesus foi um grande psicólogo que já
existiu, outros veem Jesus como um grande revolucionário de sua época,
um profeta. Todas essas declarações e outras as quais fazem com que percam
o sentido bíblico de quem é Jesus, podem ser consideradas como atitudes de um
anticristo. João, em sua primeira carta, vai nos mostrar que o espirito do
anticristo é aquele que não confessa que Jesus veio em carne.
Provavelmente João estava se deparando com um pré-gnosticismo, mas o mais
interessante é que não confessar como é Jesus e, como ele
veio, e para que veio, essa pessoa tem o espirito do anticristo. Logo,
qualquer pessoa que intitula Cristo de algo que faz com que se perca do foco da
revelação bíblica, esse tem o espirito do anticristo.[1]
Mas não é assim que o credo trabalha, ele
nos mostra de forma magnifica e resumida sobre quem é Cristo e o que Ele fez:
• Filho de Deus
• Nosso Senhor
• Nasceu da virgem Maria, concebido pelo Espirito Santo.
• Crucificado, morto e ressuscitado.
• A ascensão de Cristo
• Segunda vinda
1. Filho de Deus
No Antigo Testamento o termo “Filho de
Deus” era aplicado a nação de Israel, aos juízes, aos anjos e especialmente ao
rei. No Novo Testamento a igreja toma o lugar de Israel e ela é consistida dos
“filhos de Deus”, por adoção.
Mas, no caso de Cristo, este nome adquire
um significado mais profundo. Se eu não reconheço Cristo como Filho de Deus, eu
estarei negando o seu:
• Sentido messiânico. Crer que
Jesus é o Messias é crer que Cristo, o Filho de Deus, é o libertador
profetizado na Antiga Aliança, o qual deveria morrer pelos pecados de seu povo
(Is 52.13 – 53.12). Crer que Cristo é o Messias é crer que o Filho é o próprio
Deus. Pois alguns textos mostram claramente de que a salvação pertence ao
Senhor (Jn 2.9), e que o próprio braço do Senhor pode salvar (Is 59.15-20; cf.
43.3, 11; 45.15,21). A afirmação de que Jesus é o Messias é central no
evangelho bíblico.
• Sentido trinitário. A Escritura
mostra que Cristo é a segunda Pessoa da trindade, o testemunho escriturístico e
é claro em mostrar que Cristo é Deus porque é igual ao Pai em essência, poder e
santidade, em essência, Cristo é igual ao Pai em eternidade (Jo 17.5,24), em
honra e glória (Jo 5.23, 17.1,4,5), criador e redentor (Jo 1.3; 5.21), em
domínio (Lc 10.22; 22.29), em perfeição (Hb 7.28), auto existência (Jo 1.4. 14.6)
e digno de adoração (Mt 14.33); em poder, Cristo mostra sobre a natureza (Mt
4.3; 14.15-23), sobre satanás (Jo 5.21; 6.40), para perdoar pecado (Mc 2.5-7) e
em santidade (Lc 1.35; Jo 10.36).
Assim, com as definições acima, podemos
ver que há, de fato, duas naturezas em Cristo. Quando a Bíblia mostra Jesus
como Filho de Deus, a Bíblia está mostrando a deidade de Cristo. E quando a
Bíblia mostra Jesus como o Filho do Homem, a Bíblia está mostrando a sua
humanidade. Mas Cristo é também chamado de Filho de Davi, onde que, esse título
faz referência ao seu messianismo. É em Cristo que o trono de Davi é
perpetuamente continuado (Sl 89.29,34-36), é onde que o tabernáculo de Davi é
levantado (Am 9.11, cf. At 15.16). Este Rei, o Filho de Davi, não tem um reino politico,
mas é Ele que inaugura e anuncia o Reino de Deus.
2. Nosso Senhor
Crer que Cristo é Senhor sobre tudo e
todos para a atual sociedade é repugnante, para a atual sociedade a melhor
forma de guiar o mundo é não tendo um governante, fazendo assim, com que todos
sejam anárquicos.
Até para o evangelicalismo o título de
Senhor atribuído a Cristo é menosprezado, um dos sentidos que o termo Senhor é
usado é o fato de fazer referência a um senhor que é dono de escravos. E é isso
que a Bíblia declara. Ela nos testifica que “…não sois de vós mesmos? Porque
fostes comprados por preço…” (1 Co 6.19,20) e o mesmo Paulo fala em suas
epístolas que é “escravo de Cristo”. Aqui o crente é visto como uma
possessão de Cristo, mas para alguns ser escravo de Cristo é humilhante e
opressor, mas o que alguns não entendem é que a verdadeira liberdade é ser
escravo de Cristo.
Outro uso da palavra Senhor no Novo
Testamento referindo-se a Cristo está relacionado com o Antigo Testamento. A
palavra “senhor” no grego (Kyrios) foi usada para traduzir a palavra
hebraica Adonai na Bíblia do Antigo Testamento em grego (LXX), palavra essa que
foi usada na liturgia de Israel para substituir a palavra Yahweh, a qual
não podia ser proferida.[2] No Novo Testamento Jesus recebe o título de Senhor
o qual está assentado à direita de Deus, e assim, Cristo recebe o título de
Adonai, pois quando Jesus é chamado de “Senhor dos senhores” não resta
dúvida que o termo se refere a uma autoridade absoluta sobre toda a autoridade.
Por isso que para a atual sociedade crer
que Jesus é Senhor sobre tudo e todos, é humilhante. Para os cristãos do
primeiro século, crer que Jesus como Senhor era desonrar a César e esperar
arcar com as consequências.
3. Nasceu da virgem Maria, concebido
pelo Espírito Santo
Como uma expressão de fé, o Credo confirma
que Jesus nasceu de uma virgem por obra do Espirito Santo, e este é um dos
temas mais descridos. Como uma virgem pode dar a luz se não houver um contato
com um homem? Mas qual a implicação de crer que Cristo nasceu de uma virgem?
3.1. A necessidade de uma virgem
A necessidade de uma virgem não era para
fazer com que Jesus fosse santo, no entanto, Cristo seria e é santo por ser a
sua natureza eternamente santa. Mas a necessidade de que Cristo nascesse de uma
virgem era para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta “Eis que a
virgem conceberá, e dará à luz um filho…” (Is 7.14). Alguns entendem que o
termo almah não é tão apropriado assim para fazer jus ao termo “virgem”
que Mateus descreve em 1.23. Holladay define o termo almah como uma
“moça (em idade para se casar)”.[3] E assim surgiram vários ataques dizendo que
a referência de Mateus a Isaias era forçada demais. A questão é que a profecia
se cumpre nos tempos de Isaias (a curto prazo) e ela aponta para o futuro por causa
doDeus Conosco (a longo prazo).[4] Além de ser uma dupla referência, a
própria Septuaginta (LXX – uma tradução do 1º século antes de Cristo do Antigo
Testamento) traduz o termo “virgem” do hebraico para o grego perthernos,
da mesma forma que cita Mateus. Logo, seria difícil concluir que os tradutores
da Septuaginta queriam favorecer o cristianismo, como acusam Mateus, o
evangelista, de ter feito isso.
Beale explica sobre o significado de
explícitos e implícitos que há em tais passagens, G.K. Beale defende que tal
concepção, o qual ele chama de “O conceito de visão periférica cognitiva,[5]
era mantida pelos escritores do AT (significados explícitos) e que estes
possuíam, o significado implícito. Ou seja, segundo Beale, “quando os autores
neotestamentários e veterotestamentários fazem afirmações diretas com um
significado explicito, essas afirmações sempre pressupõem uma gama correlata de
significados secundários que ampliam o significado explicito”.[6] Por exemplo,
quando o autor neotestamentário diz que os crentes estão “em Cristo”, quais
aspectos envolvem essa união? Essa união de estar “em Cristo” envolve todos os
aspectos salvívicos concedidos por Cristo e em Cristo. Ou seja, quando o
apóstolo Paulo fala de justificação, é óbvio que o apóstolo não estava deixando
de lado o tema sobre santificação.
3.2. Por que crer que Jesus nasceu de
uma virgem?
Vimos acima que o fato de Cristo nascer de
uma virgem não era para que Ele nascesse santo, mas para se cumprir a profecia
que fora dita pelo profeta. Mas, por que é essencial para a fé cristã crer que
Jesus nasceu de uma virgem?
Além de crer que a Escritura é inerrante,
pelo fato de cumprir a profecia, é crer na salvação como uma obra sobrenatural.
Crer que o nosso Senhor nasceu de uma virgem mostra a eficácia da redenção,
isso mostra que Cristo era verdadeiro homem e verdadeiro Deus, pois Cristo era
um homem perfeito porque não herdou a natureza pecaminosa de Adão, e era Deus
por ser a sua natureza santa, sendo assim, um redentor perfeito. O milagre do
nascimento virginal de Cristo mostra a realidade do milagre do novo nascimento
na vida do pecador.
Rousas John Rushdoony, diz:
“O nascimento virginal é um milagre, o
milagre de uma nova criação, uma nova humanidade. O renascimento de todo
cristão é um milagre, o milagre da regeneração por Jesus Cristo. Esse segundo
milagre depende do primeiro. Porque Jesus Cristo é verdadeiro homem e
verdadeiro Deus, ele é capaz de refazer o homem segundo a sua imagem. Ele é
capaz de preservar o homem dos poderes das trevas, e é capaz de sujeitar todas
as coisas ao seu domínio. De fato, o objetivo da história é declarado de
antemão: “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, ele
reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15). Temos um destino glorioso
naquele que nasceu da virgem Maria.[7]
Somente aquele que nasceu de novo, provou
a graça do novo nascimento, pode afirmar que o nosso Salvador nasceu de uma
virgem, não herdando a sua natureza pecaminosa porque o seu Pai é Deus e sua
natureza é santa.
4. Crucificado, morto e ressuscitado
Esta parte, para qualquer teólogo liberal
é difícil de aceitar. E isso pode ser um problema para a atual sociedade. Por
exemplo, todo o mundo comemora o Natal (de forma errada, mas comemoram). É mais
fácil crer no nascimento do que na morte e ressurreição de alguém. O Natal, até
para os cristãos, é mais comemorado do que a Páscoa (que simboliza a
ressurreição). Ou seja, crer em um nascimento é fácil, mas na ressurreição não.
Mas, o que significa o fato de Cristo ter sido crucificado, morto e
ressuscitado?
4.1. Por que Deus necessitou de uma
cruz?
Sendo Deus todo poderoso, criador de todas
as coisas, por que Ele precisou de uma cruz para com que recebêssemos o perdão
de nossos pecados?
Paulo nos dá uma luz, dizendo:
“Cristo nos resgatou da maldição da
lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que
for pendurado no madeiro.” (Gl 3:13)
“Mas nós pregamos a Cristo crucificado,
que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.” (1º Coríntios
1:23)
Paulo nos mostra que a cruz era maldição
que produzia escândalo nos gregos. Para os romanos era o castigo mais cruel e
asqueroso, morrer em uma cruz era a forma de morrer mais torturante que podia
existir, era para os assassinos e rebeldes.
Se a cruz para os romanos era asquerosa,
quanto mais para um judeu que, segundo a Lei, ser pendurado no madeiro era
sinal de maldição (Dt 21.22,23).
A maldição da cruz é colocada sobre
Cristo. Ele, sendo o nosso substituto, se faz maldito para nos tornar bendito
diante de Deus, o Pai. O Justo morre pelos injustos. E Pedro, enfatizou aos
judeus de sua época, lembrando-os da maldição de Cristo:
“O Deus de nossos pais ressuscitou a
Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro.” (At 5.30)
“E nós somos testemunhas de
todas as coisas que fez, tanto na terra da Judéia como em Jerusalém; ao qual
mataram, pendurando-o num madeiro.” (Atos 10.39)
“Por não terem conhecido a
este, os que habitavam em Jerusalém, os seus príncipes, condenaram-no,
cumprindo assim as vozes dos profetas que se leem todos os sábados. E, embora
não achassem alguma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto. E,
havendo eles cumprido todas as coisas que D’Ele estavam escritas, tirando-O do
madeiro, o puseram na sepultura.” (At 13.27-29)
Pedro, assim como outros
cristãos, não tinha vergonha de falar que o seu Senhor foi amaldiçoado no
madeiro, por causa de seus pecados. Como o próprio Pedro fala: “carregando
Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados.” (1Pe 2.24)
A cruz de Cristo mostra que os
planos de Deus são bons, mesmo quando não entendemos, a crucificação de um
inocente é a pior coisa que aconteceu, mas ao mesmo tempo foi a melhor coisa
que nos aconteceu. Pois, se cremos que Deus tira um Bem Maior do mal, o maior bem
que Deus fez foi moer o seu próprio Filho na cruz em favor de muitos.
Sendo assim, a razão da cruz,
segundo Philip Ryken, era sofrer a maldição que nós merecemos pelos nossos
pecados.[8]
4.2. O Servo sofredor
Jesus, em Isaías 53, é descrito
como o “servo sofredor”. O termo não aparece no texto, mas mostra o Servo de
Deus sofrendo, pela vontade e pelas mãos de Deus, em favor de muitos. Não
podemos falar sobre a morte de Cristo sem falar de suas causas. Vejamos algumas
coisas que o profeta Isaías nos revela sobre a morte de Cristo e o propósito da
causa do sofrimento de Cristo.
4.2.1. O pecado humano
“Verdadeiramente ele tomou
sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por
causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo
seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi
oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao
matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não
abriu a sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da
sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu
povo ele foi atingido. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na
sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.”
(Isaías 53.4-9)
Isaías mostra que as nossas
dores, enfermidades, transgressões e iniquidades são a causa da morte de
Cristo, o servo sofredor, por causa da desobediência de nossos primeiros pais e
o pacto quebrado, toda a humanidade recebeu a condenação de Adão. Este, sendo o
representante de toda a raça humana, condenou a todos ao inferno. Mas Deus o
fez enfermar para que nos reunisse em um só rebanho com um só pastor.
4.2.2. O agrado do Pai
“Todavia, ao Senhor agradou
moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado,
verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do Senhor
prosperará na sua mão.” (Isaías 53.10)
A morte de Cristo não foi um
mero acaso, até porque Cristo é o cordeiro morto desde a fundação do mundo (Ap
13.8). Foi a vontade de Deus moer o Seu Filho. Aqui, a pergunta sobre o mal é
respondida: Por que Deus permite que alguém bom (realmente bom) sofra, Deus
seria capaz disso? Sim! Deus permitiu e fez com que o Santo de Israel, o
Ungido, sofresse em favor de seu povo para que o bom prazer prosperasse em suas
mãos.
John Piper, diz:
O seu alvo era destruir o mal e
o sofrimento através do próprio mal e sofrimento. “Pelas suas pisaduras
fomos sarados” (Isaías 53.5). Por meio do sofrimento de Jesus Cristo, Deus
deseja mostrar ao mundo que não há pecado nem mal tão grande do qual Ele, em
Cristo, não possa fazer surgir justiça e alegria eternas. “O próprio sofrimento
que causamos tornou-se a esperança de nossa salvação.” [9]
4.2.3. Expiação
A morte de Cristo, segundo o
texto de Isaías 53.10, é expiatória. D.A. Carson define expiação como “o ato
pelo qual o pecado é cancelado, anulado, apagado do registro”.[10] A morte de
Cristo na cruz nos mostra que por nós mesmos os nossos pecados não poderiam ser
pagos, muito menos cancelados. Em Cristo, Deus propôs expiação por nossos
pecados (Rm 3.25), ou seja, removendo e afastando de nós o nosso pecado.
4.2.4. Para se satisfazer
O texto prossegue
dizendo: “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará
satisfeito; com o seu conhecimento, o meu servo, o justo, justificará a muitos;
porque as iniquidades deles, levou sobre si.” (Isaías 53.11)
Cristo morre na cruz sabendo
que seu trabalho não seria em vão, tinha plena certeza do bom resultado do seu
penoso trabalho. Aqueles que creem em uma expiação universal têm sérios
problemas com esse verso, visto que, Cristo morre por toda a humanidade,
sabendo que nem todos serão salvos, Ele ficaria com o fruto do seu trabalho?
Creio que não, pois que fruto é esse de algo que não foi eficaz? Somente a
morte substitutiva pode cumprir com este propósito.
Este belo trabalho envolve a
justificação, esta só pode ser feita por alguém justo, e Cristo é Servo Justo,
o qual justificará a muitos. A justificação é o ato pelo qual Cristo, tomando o
nosso lugar, nos declarou quites para com a Lei de Deus.
Sendo assim, a morte de Cristo
era necessária para se cumprir o que os Escritos já mostravam, pois era
impossível a nós satisfazer à ira de Deus, e Cristo, Seu Filho, recebe a nossa
condenação na cruz cancelando os nossos pecados e dividas diante de Deus.
4.3. Ele não está aqui
Esta foi a frase que o anjo
disse às mulheres quando foram até o túmulo no domingo de manhã (Mt 28.6).
Nos pontos acima vimos a Sua
humilhação, Cristo, sendo Deus, como Paulo descreve, não teve usurpação em ser
igual a Deus, antes, foi um servo obediente até a morte e morte de cruz (Fp
2.5-11). Cristo, em seu estado de humilhação, nasceu de uma pecadora, viveu entre
pecadores, comeu com esses pecadores, por causa dos pecadores foi humilhado,
cuspido e morto na cruz. O credo agora vai mostrar o Seu estado de exaltação:
Ressurreição e ascensão.
4.3.1. Cristo ressuscitou
para quê?
Como mostrei acima quando falei
do seu nascimento, abordei a questão de que a nossa sociedade, mesmo sendo a
comunidade cristã, não dá tanta importância a Páscoa. Infelizmente alguns
cristãos fazem mais festa no dia 25 de dezembro (tradicionalmente comemora-se o
nascimento de Cristo), do que a sua ressurreição, a qual os primeiros cristãos,
com o testemunho bíblico, entenderam ser Cristo a nossa páscoa (1Co 5.7).
Portanto, nós vimos acima que
Cristo foi morto na cruz por causa dos nossos pecados. Mas, e se Cristo não
tivesse ressuscitado? Paulo nos responde que “se Cristo não ressuscitou,
logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1Co 15.14)
Calvino, diz:
“É vã a pregação, não
simplesmente porque ela inclua certo elemento de falsidade, mas porque é
indigna e um completo logro. Pois o que fica se Cristo foi devorado pela morte;
se foi aniquilado; se sucumbiu sob a maldição do pecado; se, finalmente, ficou
cativo de Satanás? Numa palavra, uma vez que o principio fundamental foi
removido, tudo o que resta será de nenhum valor”. [11]
A nossa fé e pregação, que é
uma exposição daquilo que cremos, vai por água abaixo. Pois, a nossa
justificação foi fruto da ressurreição de Cristo, vencendo a morte. Cremos e
pregamos que todos quantos morrerem em Cristo antes da Sua volta, ressuscitarão
para a vida eterna, porque Cristo também ressuscitou sendo a primícia dos que
dormem (1Co 15.13,20). Se Cristo não ressuscitou a nossa vida continua a mesma,
debaixo de maldição, sendo escravo do mundo, a carne e o Diabo, e assim, “comamos
e bebamos que amanhã morreremos” (1Co 15.32).
A ressurreição é o elemento
mais importante da igreja cristã, pois quando Cristo foi crucificado os
discípulos fugiram, mas quando Cristo ressuscita eles saíram de onde estavam
escondidos e passaram com Cristo quarenta dias ouvindo acerca do reino de Deus
(At 1.3).
É nisso que está firmada a
nossa fé, pois na ressurreição de Cristo temos:
• A certeza de nossos pecados pagos;
• A
certeza de que fomos absolvidos diante de Deus;
• A
certeza de que Cristo não era pecador, porque a morte não o venceu;
• Que na sua morte e ressurreição Cristo venceu a morte e despojou
os principados e potestades;
• A
certeza de que ressuscitaremos e viveremos com ele eternamente.
4.3.2. A ressurreição de Cristo é uma
prova da
Trindade
Assim com a obra de salvação é realizada
pela Trindade[12], a ressurreição de Cristo é também uma prova disto. A
Escritura declara que a ressurreição de Cristo foi pelo:
Deus Pai – At 3.26 “Ressuscitando Deus a seu Filho
Jesus, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, no apartar, a
cada um de vós, das vossas maldades.” (cf. Gl 1.1)
Deus Espirito – Rm 8.11 “E, se o Espírito daquele que dentre
os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos
ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu
Espírito que em vós habita.”
Deus Filho – Jo 10.18 “Ninguém ma tira de mim, mas eu de
mim mesmo a dou; tenho poder para dar, e poder para tornar a tomá-la. Este
mandamento recebeu de meu Pai.” (cf. Jo 2.9)
4.4. A ascensão de Cristo
A ascensão de Cristo é a ordem natural da
ressurreição, se constituindo no selo do cumprimento da sua obra expiatória. A
ressurreição de Cristo está ligada a três princípios: Eclesiologia, soteriologia
e escatologia.
4.4.1. Eclesiologia
Cristo, ao ressuscitar, passa quarenta
dias ensinando os seus discípulos e com mais de quinhentos irmãos (1Co 15.6).
Antes de ascender aos céus Cristo incumbiu aos seus discípulos que ficassem em
Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24.49). Sendo assim, a
igreja tem a incumbência de:
• Pregar
a Cristo – Mc 16.19,20; cf. At 4.13
• Viver diariamente como Corpo de Cristo – Ef 1.22,23
A ascensão de Cristo é um estimulo de
perseveramos na fé, sabendo piamente, que o nosso Senhor estará conosco até a
consumação dos séculos.
4.4.2. Soteriologia
A ascensão de Cristo ressalta o
cumprimento de sua missão, revelando a Sua glória e poder, enquanto na
encarnação Cristo se desprende de Sua glória, na sua ascensão Cristo volta ao
seu estado anterior ao seu nascimento. E assim Paulo diz sobre a ascensão e
salvação: “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro” (Ef 4.8). As suas
ovelhas estavam mortas em pecado, cativos no poder de satanás. Mas, na ascensão
de Cristo, Ele consome a sua obra para a plena posse da salvação dos eleitos.
4.4.3. Escatologia
A ascensão de Cristo é marcada por um
dialogo entre os seus discípulos e seu Senhor e a resposta de dois homens
vestidos de branco:
”Aqueles, pois, que se haviam reunido
perguntou-lhe, dizendo: Senhor te restaurará neste tempo o reino a
Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que
o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder […] E, quando dizia isto, vendo-o
eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos.
E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles
se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes disseram: Homens
galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi
recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.”
(Atos 1.6,7, 9-11)
A resposta de Jesus aos seus discípulos é
bem enfática, dizendo que não compete aos homens saber o dia de sua vinda (cf.
1Ts 5.1), mas que Jesus voltará da mesma forma que os vistes subir, afirmam os
homens de branco.
Essa é a esperança que move a Igreja,
pregar o Evangelho a todas as pessoas até que venha o fim, sabendo que o nosso
Senhor Jesus voltará com grande poder e glória e consumará todo o mal, fazendo
justiça começando pela casa de Deus (Ml 3.1-5, 13-18; cf. 1Pe 4.17).
4.4.4. Em que a ascensão de Cristo nos
beneficia
Primeiro, temos um advogado junto ao Pai
(1Jo 2.1), Cristo está no céu defendendo a nossa causa, para sempre. Satanás
não pode nos acusar mais, pois Cristo é o nosso advogado que está pronto para
nos defender.
Segundo, temos a nossa própria carne no
céu. Cristo, quando ressuscitou, foi com o mesmo corpo, só que glorioso. Ou
seja, o corpo que Ele viveu entre os pecadores foi o mesmo que ressuscitou e
ascendeu aos céus. Essa é a nossa esperança, de que, da mesma forma que Cristo
ressuscitou e ascendeu aos céus, nós, os que estamos em Cristo, ressuscitaremos
e viveremos eternamente com ele (Cl 3.3-4).
Terceiro, temos o Espírito Santo como
resultado, Cristo tinha dito aos seus discípulos que se Ele não fosse o
Espírito não viria. Ele sobe aos céus, a promessa é cumprida e o Espírito
passou a habitar em toda carne (Jo 16.7; At 2.17). Por intermédio do Espírito,
Cristo está presente conosco.
4.4.5. Assentado a direita de Deus
No último aspecto sobre o seu estado de
exaltação, após a ressurreição, o Credo mostra que Cristo foi levado às
alturas, posto à direita de Deus em sinal de autoridade, ficando acima de todo
principado, potestade, um nome que está acima de todo nome (Ef 1.10,21),
sujeitando todas as coisas sob seus pés (1Co 15.27), tendo-se tornado tão
superior aos anjos quando herdou mais excelente nome do que eles (Hb 1.3-4).
A.A. Hodge, diz:
“Cristo assentado sobre esse trono,
durante a presente dispensação, como mediador, aplica eficazmente ao seu povo,
por meio do seu Espírito, a salvação que previamente havia adquirido para eles
em seu estado de humilhação.”[13]
Enquanto Cristo estiver à direita de Deus,
Cristo está intercedendo pelos eleitos e por aqueles que serão salvos, mas
Cristo virá outra vez para julgar os vivos e os mortos.
4.5. Segunda vinda
A vinda de Cristo, para o Credo, é
enfática. Ele morre, ressuscita, ascende aos céus e voltará. Essa é a certeza
de toda a história cristã, tendo como base a certeza de sua ressurreição, como
mostrei acima.
A certeza da volta de Cristo é um sinal de
esperança gloriosa e de medo, porque a Bíblia diz para nós vigiarmos todos os
dias, pois não sabemos nem o dia e nem a hora da volta do Filho do Homem, e uma
esperança, pois temos a certeza de que nossas lágrimas serão enxugadas.
O crente deve ter em mente que a volta de
Cristo, para a sua igreja fiel, é um consolo. O Catecismo de Heidelberg,
no 19º Dia do Senhor, pergunta:
Que consolo lhe dá o fato de que Cristo há
de vir para julgar os vivos e os mortos?
Resposta: Que em todas as minhas aflições
e perseguições eu de cabeça erguida e cheio de ânimo espero vir do céu, como
juiz, Aquele mesmo que antes se submeteu ao juízo de Deus por minha causa, e
removeu de sobre mim toda a maldição. Ela lançará todos os Seus e meus inimigos
na condenação eterna, mas levará para Si mesmo, para o gozo e glória
celestiais, a mim e a todos os Seus escolhidos. (pergunta 52)
A resposta da pergunta 52 do Catecismo nos
mostra três motivos para nos alegrarmos sobre a sua segunda e única vinda.
Primeira, é um consolo porque não tememos
o julgamento, porque a ira que nós merecíamos foi derramada sobre o nosso
Senhor, sendo assim, todas as nossas aflições e perseguições que sofremos aqui
na terra cessarão. Segundo, a sua vinda nos traz consolo porque Cristo
subjugará todos os nossos inimigos debaixo de seus pés. Isso não surge com um
tom de vingança pecaminoso, mas a certeza, a qual a Bíblia nos diz, que toda
injustiça será feita justiça que é vinda do próprio Deus. Esse é o brado
daqueles que estão debaixo do trono de Deus: “E clamavam com grande
voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o
nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Ap 6.10).
Terceiro, nos mostra que na sua vinda
teremos a certeza que em corpo e alma moraremos eternamente com o nosso Senhor.
A vinda do juiz indica o fim de todo sofrimento, de toda depressão, de todo
câncer e de todos os males causados pelo pecado.
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Notas:
[1] Cf. 1 João 2.18,22; 4.4.3; 2 João 1.7
[2] SPROUL, R.C. Discípulos hoje. 1º ed. – São Paulo: Cultura Cristã, p.
32
[3] HOLLADAY, William L. Léxico hebraico e aramaico do Antigo
Testamento. 1ªed. – São Paulo: Vida Nova, p. 389
[4] Cf. OSWALT, John. Comentário do Antigo Testamento – Isaías – vol. 01.
1ªed. – São Paulo: Cultura Cristã. p. 263-267
[5] BEALE, G.K. O uso do Antigo Testamento no Novo Testamento e suas
implicações hermenêuticas. 1ª ed.– São Paulo: Vida Nova, p. 11-12
[6] Ibidem. p.55
[7] RUSHDOONY, Rousas John. Nascido da virgem Maria.
http://www.monergismo.com/textos/cristologia/nascido-virgem-maria_rushdoony.pdf
Acessado em 26/Dezembro/2014.
[8] Veja a obra de MONTGOMERY, James. A ofensa da cruz. In: GRAHAM,
Philip. Et al. O coração da cruz. 1ª ed. – São Paulo: Cultura Cristã,
2008.
[9] PIPER, John. Para sua alegria. 1ªed. São José dos Campos, SP – Ed.
Fiel. 2008, p. 25
[10] CARSON, D.A. Qual a diferença entre propiciação e expiação?
https://www.youtube.com/watch?v=Zz8rDC8pess.
Acessado em 26/12/2014.
[11] CALVINO, João. 1 Coríntios. – 2.ed. – São Bernardo do Campo, SP:
Edições Parakletos. 2003, p. 465
[12] Ef. 1.3-5 (Deus Elege); 6-12 (Jesus redime); 13-14 (Espirito Santo sela)
(cf. 1Pe 1.2).
[13] HODGE, A.A. Esboços de teologia. 1.ed. – São Paulo: PES, 2001, p.
617.