1. Dois argumentos baseados na natureza do
novo concerto
Argumento 1 - Em Mateus 26:28 o
Senhor Jesus Cristo fala de "o meu sangue, o sangue do Novo
Testamento". Este novo "testamento", ou "concerto"
é um novo acordo, ou contrato, que Deus fez para salvar os homens. O
sangue de Cristo derramado em Sua morte, é o preço desse acordo, e diz
respeito somente àqueles a quem o acordo se aplica.
Este novo acordo, ou aliança, é diferente do
velho acordo que Deus fez com os homens. Pelo velho acordo (ou concerto) Deus
prometeu salvar todos os que guardassem as Suas leis: "o homem que
fizer estas coisas viverá por elas". (Romanos 10:5; Levítico 18:5).
Mas, em razão dos homens serem pecadores, eles não podem guardar as leis de
Deus. Portanto, o velho acordo ficou sem efeito.
No novo acordo, Deus promete colocar Suas
leis em nossas mentes e escrevê-las em nossos corações (Hebreus 8:10). É
claro, então, que esse acordo diz respeito somente àqueles em cujos corações e
mentes Deus realmente faz isso. Desde que Deus, obviamente, não faz isso
para todos os homens, todos os homens não podem estar incluídos no acordo
pelo qual Cristo morreu.
Alguns têm sugerido que Deus iria escrever
Sua lei em nossas mentes se apenas crêssemos. Mas, fé é a mesma coisa que ter a
lei de Deus escrita em nossos corações!
Então, falar como alguns, significa dizer:
"se a lei está em nossos corações (isto é, como ela é, em todos os
crentes), Deus promete que Ele irá escrever Sua lei em nossos corações" -
o que é uma tolice! A natureza do novo concerto deixa claro que a morte de
Cristo não foi por todos os homens.
Argumento 2 - O evangelho - em
outras palavras, as novas sobre o novo concerto - tem estado no mundo
desde os tempos de Cristo. Contudo, nações inteiras têm vivido sem qualquer
conhecimento dele. Se o objetivo da morte de Cristo era salvar todos os homens,
sob a condição de que eles cressem, então o evangelho devia ter sido anunciado
a todos os homens.
Se Deus não providenciou para que todos os
homens ouvissem o evangelho, então, ou deveria ser possível que todos os
homens fossem salvos sem fé e sem conhecimento do evangelho, ou o
propósito de salvar todos os homens falhou, uma vez que nem todos os homens
ouviram o evangelho. A primeira afirmativa não pode ser verdadeira, pois a fé é
uma parte da salvação (ver Parte Dois, capítulo cinco). A última afirmativa
também não pode ser verdadeira; seria próprio da sabedoria de Deus enviar
Cristo para morrer a fim de que todos os homens fossem salvos, sem, contudo,
certificar-Se de que todos os homens ouvissem o evangelho? Seria a benignidade
de Deus demonstrada através de tal comportamento?
Isso seria como se um médico dissesse que
tem um remédio que curaria a doença de todos. E, no entanto, escondesse,
deliberadamente, tal conhecimento de muitas pessoas. Poderíamos realmente
argumentar, nesse caso, que o médico pretendia, genuinamente, curar a
doença de todos?
Há muitos versículos bíblicos que deixam
claro que milhões jamais ouviram uma palavra sobre Cristo. E não podemos
apresentar outra razão para isso, senão a razão que o próprio Jesus deu: "Sim,
ó Pai, porque assim te aprouve". (Mateus 11:26). Tais versículos como
Salmo 147: 19-20; Atos 14: 16; Atos 16: 6-7; confirmam os fatos de nossa
experiência comum de que o Senhor não tomou qualquer providência para assegurar
que todos ouvissem o evangelho. Precisamos concluir que não é propósito de Deus
salvar todos os homens.
2. Três argumentos baseados nas descrições
bíblicas da salvação
Argumento 3 - As Escrituras
descrevem o que Jesus Cristo obteve com Sua morte como "redenção
eterna" (isto é, nossa libertação do pecado, da morte e do inferno, para
sempre). Ora, se esta bênção foi comprada para todos os homens, então todos os
homens têm esta redenção eterna automaticamente; ou ela está à disposição de
todos os homens na dependência do cumprimento de certas condições.
De acordo com nossa experiência, não é
verdade, de maneira alguma, que todos os homens têm redenção eterna.
Portanto, seria a redenção eterna disponível sob certas condições?
Pergunto, Cristo satisfez essas condições
por nós, ou apenas nos tornamos merecedores do cumprimento dessas
condições se outras condições forem cumpridas por nós? A primeira dessas
afirmativas - que Cristo realmente cumpriu todas as condições necessárias
quanto ao dom da redenção eterna - significa que todos os homens
têm realmente essa redenção; o que, como já temos visto, não concorda com
nossa experiência a respeito dos homens! Temos que dizer, portanto, que se
Cristo não cumpriu as condições para que todos os homens obtivessem a redenção,
Ele deveria ter cumprido essas condições apenas por aqueles que cumpririam
outras condições. Estamos agora andando em círculos, fazendo com que aquelas
condições que foram cumpridas dependam de que outras condições sejam
cumpridas! Estes argumentos demonstram quão irracional é supor que Cristo
morreu a fim de obter a salvação eterna para todos os homens.
Se insiste ainda que a redenção eterna é
obtida sob o cumprimento de certas condições, então, todos os homens
deveriam ser notificados. Mas, esse conhecimento lhes tem sido sonegado, como
vimos na Terceira Parte, capítulo um.
Além disso, se a obtenção da redenção eterna
depende do homem cumprir condições, então ou eles têm ou não têm o poder
para fazer isso. Se são capazes por si mesmos de cumprir as condições
necessárias, então temos que dizer que todos os homens podem, por si mesmos,
crer no evangelho. Mas isto é bastante contrário às Escrituras, as quais
mostram que os homens estão mortos em pecado e, portanto, não podem
cumprir quaisquer condições.
Se concordamos que os homens não podem, por
si mesmos, cumprir as condições para a obtenção da salvação eterna, então,
ou Deus intenta dar-lhes esta habilidade, ou não. Se Ele realmente intenta
isto, então, por que não o faz? Assim, todos os homens seriam salvos.
Se, entretanto, Deus não pretende dar a
todos os homens a capacidade de crer, e, contudo, Cristo morreu para que
todos os homens tenham a salvação eterna, então, Deus está requerendo dos
homens que tenham habilidades as quais Ele recusa dar-lhes. Isto não seria
uma loucura? É como se Deus prometesse dar a um homem morto o poder
de vivificar-se a si mesmo, mas ao mesmo tempo não tenha a intenção de lhe
dar o poder prometido!
Argumento 4 - A Bíblia descreve
cuidadosamente aqueles pelos quais Cristo morreu. Lemos que toda a raça
humana pode ser dividida em dois grupos, e que Cristo morreu apenas por um
desses grupos.
Os versículos bíblicos que mostram que Deus
dividiu os homens em dois grupos são:
Mat. 25:12 e 32 Jo. 10:14,26
Jo. 17:9, 1Ts. 5:9
Rom. 9:11-23
Jo. 17:9, 1Ts. 5:9
Rom. 9:11-23
Daí aprendemos que há aqueles a quem Deus
ama, e aqueles a quem Ele odeia; aqueles a quem Ele conhece, e aqueles a
quem Ele não conhece.
Outros versículos deixam claro que Cristo
morreu apenas por um destes dois grupos. É-nos dito que Ele morreu por:
Seu povo - Mt. 1:21
Suas ovelhas - Jo. 10:11,14
Sua igreja - At. 20:28
Seus eleitos - Rom. 8:32-34
Seus filhos - Heb. 2:13
Suas ovelhas - Jo. 10:11,14
Sua igreja - At. 20:28
Seus eleitos - Rom. 8:32-34
Seus filhos - Heb. 2:13
Acaso não deveríamos concluir, de tudo isso,
que Cristo nã morreu por aqueles que não são Seu povo, ou Suas ovelhas, ou
Sua Igreja? Ele não pode, portanto, ter morrido por todos os homens.
Argumento 5 - Não devemos
descrever a salvação de nenhuma maneira diferente daquela que a Bíblia a
descreve. E a Bíblia não diz, em lugar algum, que Cristo morreu "por todos
os homens", ou por cada homem em particular. Ela diz que Cristo deu Sua
vida "em resgate de todos"; entretanto, isso não pode provar que signifique
mais que "todas as Suas ovelhas" ou "todos os Seus
eleitos". Se estudarmos cuidadosamente qualquer versículo que emprega a
palavra "todos" e o examinarmos em seu contexto, logo estaremos
convencidos de que, em lugar algum, as Escrituras dizem que Cristo morreu por
todos os homens, sem exceção de nenhum.
(Na Quarta Parte, capítulos três e quatro,
vamos considerar, detalhadamente, muitos versículos bíblicos nos quais as
palavras "mundo" e "todos" são usadas em conexão com a
morte de Cristo.)
3. Dois argumentos baseados na natureza da
obra de Cristo
Argumento 6 - Há muitos
versículos bíblicos que falam do Senhor Jesus Cristo
tornando-Se responsável por outros na Sua morte; por exemplo:
Ele morreu por nós - Rom. 5:8
Foi feito maldição por nós - Gál. 3:13
Foi feito pecado por nós - 2Co. 5:21
Foi feito maldição por nós - Gál. 3:13
Foi feito pecado por nós - 2Co. 5:21
Tais expressões deixam claro que qualidade de substituto de
outro.
Ora, se Ele morreu em lugar de outros,
segue-se que todos aqueles cujo lugar Ele tomou devem estar agora livres
da ira e do julgamento de Deus. (Deus não pode punir justamente Cristo e
aqueles a quem Ele substituiu!) Contudo, está claro que nem todos os homens
estão livres da ira de Deus (ver João 3:36). Portanto, Cristo não pode ter sido
o substituto de todos os homens.
Se insiste ainda que Cristo realmente morreu
como um substituto de todos os
homens, então devemos concluir que Sua morte
não foi um sacrifício bastante suficiente, pois nem todos os homens são salvos
do pecado e do julgamento!
De fato, se Cristo realmente morreu em lugar
de todos os homens, então, ou Ele Se ofereceu a Si mesmo como um
sacrifício por todos os pecados deles (neste caso, todos os homens são salvos),
ou foi um sacrifício por alguns dos pecados deles apenas (neste caso, ninguém é
salvo, pois alguns pecados permanecem). Nem uma nem outra dessas declarações
pode ser verdadeira, como nós já temos visto neste livro (Primeira
Parte, capítulo três). Deve ser evidente que não podemos dizer, de maneira
alguma, que Cristo morreu por todos os homens.
Argumento 7 - As Escrituras descrevem
a natureza da obra que Cristo realizou, como a obra de um mediador e de um
sacerdote:
Ele "é Mediador dum novo
Testamento" (Hebreus 9:15). Ele age como um mediador sendo o
sacerdote daqueles que Ele leva a Deus. Que Jesus Cristo não é o sacerdote
de todos é óbvio, tanto pela experiência como pelas Escrituras; nós já
discutimos isso na Segunda Parte, capítulo dois.
4. Três argumentos baseados na natureza da
santidade e da fé
Argumento 8 - Se a morte de
Cristo é o meio pelo qual aqueles por quem Ele morreu são purificados do
pecado e são santificados, então Ele deve ter morrido somente por aqueles que
realmente estão limpos de pecados e santificados. É óbvio que nem todos os
homens são santificados. Portanto, Cristo não morreu por todos os homens.
Talvez eu deva provar que a morte de Cristo
é, de fato, o meio para obter a purificação e a santidade. Vou fazer isso
de duas maneiras:
Primeira, o padrão de adoração do Velho
Testamento destinava-se a ensinar verdades a respeito da morte de Cristo.
O sangue dos sacrifícios do Velho Testamento fez com que aqueles por quem
era derramado se tornassem adoradores aceitáveis a Deus. Se foi assim,
quanto mais o sangue de Cristo deve realmente purificar do pecado aqueles
por quem Ele morreu? (Hebreus 9: 13-14).
Segunda, há versículos bíblicos que declaram
com clareza que a morte de Cristo faz realmente as coisas que ela
intencionava fazer; o corpo do pecado é destruído, para que não mais
sirvamos ao pecado (Romanos 6:6); temos redenção através do Seu
sangue (Colossenses 1: 14); Ele Se deu a Si mesmo para nos remir e nos
purificar (Tito 2: 14). Estes versículos, e muitos outros, enfatizam
que a santidade é o resultado certo nas vidas daqueles por quem Cristo morreu.
Visto que todos os homens não são santos, Cristo não morreu por todos os
homens.
Alguns sugerem - inutilmente! - que a morte
de Cristo não é a única causa dessa santidade. Dizem que ela somente se
torna verdadeira ou real quando o Espírito Santo a traz, ou quando é
recebida por fé. Mas a obra do Espírito Santo, e o dom da fé, são também o
resultado ou o fruto da morte de Cristo! Assim sendo, essa sugestão
não altera o fato que a verdadeira santidade é o resultado certo somente
nas vidas daqueles por quem Cristo morreu. O fato do juiz dar permissão ao
carcereiro para destrancar a porta da prisão, não é a causa do prisioneiro
ser posto em liberdade; a causa é que alguém pagou seus débitos por ele.
Argumento 9 - A fé é essencial à
salvação. Isso é claro nas Escrituras (Hebreus 11:6) e a maioria das
pessoas aceita o fato. Mas, como já temos visto, tudo que é necessário
para a salvação foi obtido para nós por Cristo.
Ora, se esta fé essencial é obtida para
todos os homens por Cristo, então é nossa com ou sem certas condições. Se
é sem condições, então todos os homens a têm. Mas isso é contrário à
experiência, e também às Escrituras (2 Tessalonicenses 3:2). Se a fé é
dada somente sob certas condições, então eu pergunto: sob que condições?
Alguns dizem que a fé é dada sob a condição
de que nós não resistamos à graça de Deus. Contudo, não resistir
significa, realmente, obedecer. Obedecer significa crer. Portanto, o que estes
amigos realmente estão dizendo é: "a fé é concedida somente àqueles que
crêem" (isto é, àqueles que têm fé!). Isso é completamente absurdo.
Por outro lado, alguns argumentam que a fé
não é obtida para nós pela morte de Cristo. Então, seria a fé um ato de
nossa própria vontade? Mas isso é bastante contrário àquilo que muitos
versículos bíblicos ensinam, e ignora o fato de que os incrédulos estão
mortos em pecados, incapazes de realizar qualquer ato espiritual
(I Coríntios 2:14). Portanto, volto à posição de que a fé é obtida por
Cristo.
A fé é uma parte essencial da santidade. No
Argumento 8, mostrei que a santidade é obtida para nós pela morte de
Cristo. Portanto, Ele também obteve a fé para nós. Negar isso é dizer que
Ele obteve apenas uma santidade parcial, isto é, uma fé deficiente.
Ninguém sugere isso seriamente. Mais ainda, Deus escolheu Seu povo, como
nos é dito, a fim de que ele fosse santo; Deus "nos elegeu ...
para que fôssemos santos" (Efésios 1 :4). Repetindo, a fé é uma parte
essencial da santidade. Ao eleger Seu povo para ser santo, necessariamente
Deus decidiu que ele teria fé.
Era parte do pacto entre Deus, o Pai, e
Deus, o Filho, que todos aqueles por quem Cristo morreu tivessem as
bênçãos que o Pai tencionava dar-lhes. A fé é uma das bênçãos que o Pai dá
(Hebreus 8:10,11).
As Escrituras afirmam claramente que a fé é
obtida para nós por Jesus Cristo, que é "o autor e consumador da
fé" (Hebreus 12:2). Declarações como esta e as declarações dos
três parágrafos acima, que acabamos de ler, confirmam, todas elas, que a
morte de Cristo obtém fé para Seu povo. Visto que não são todos os homens
que a têm, Cristo não pode ter morri do por todos os homens.
Argumento 10 - O povo de Israel
era, de muitas maneiras, uma espécie de ilustração da Igreja de Deus do Novo
Testamento (I Coríntios 10:11). Seus sacerdotes e sacrifícios eram
exemplos daquilo que Jesus viria fazer pela Igreja de Deus. Jerusalém, a
cidade deles, é usada como uma figura do céu do crente (Hebreus 12:22).
Um verdadeiro israelita é um crente (João
1:47) e um verdadeiro crente é um israelita (Gálatas 3:29). Portanto, eu
argumento da seguinte maneira:
Se a nação dos judeus foi escolhida por
Deus, entre todas as nações do mundo, para ilustrar Suas relações
com a Igreja, segue-se, então, que a morte de Cristo foi somente pela Igreja e
não pelo. mundo todo. A maneira como Deus tratou o Seu povo escolhido no Velho
Testamento é uma ilustração de que a salvação obtida por Cristo não é para
todos os homens, mas é apenas para o Seu povo escolhido.
5. Um argumento baseado no significado da
palavra "redenção"
Argumento 11 - A maneira como a
Bíblia descreve uma doutrina deve nos ajudar a entender a doutrina. Uma
palavra bíblica que é usada para descrever a salvação obtida por Cristo é
a palavra redenção. Exemplo: " ...temos a redenção pelo
seu sangue" (Colossenses 1:14). Essa palavra significa
"libertar uma pessoa do cativeiro através do pagamento de um
preço". A pessoa não está redimida a não ser que seja libertada.
Por isso, a própria palavra nos ensina que Cristo não pode ter obtido
a redenção para aqueles que não estão livres. A redenção universal (assim
chamada!) que finalmente deixa alguns ainda no cativeiro é uma contradição
de termos.
O sangue de Cristo é realmente chamado de
preço, e de resgate, em alguns versículos bíblicos (vide Mateus 20:28). Ora, o
propósito de um resgate é obter a libertação daqueles pelos quais o preço é
pago. É inconcebível que um resgate seja pago e a pessoa ainda continue
prisioneira. Por conseguinte, como pode ser argumentado que Cristo morreu
por todos os homens, quando nem todos os homens são salvos? Somente os que
estão realmente livres do pecado podem ser aqueles por quem Cristo morreu.
"Redenção" não pode ser "universal", como
"romano" não pode ser "católico"! A redenção tem que
ser particular, visto que somente alguns são redimidos.
6. Um argumento baseado no significado da
palavra “reconciliação"
Argumento 12 - Uma outra palavra
que a Bíblia usa para descrever aquilo que
Cristo obteve mediante Sua morte, é a
palavra reconciliação: "...inimigos... vos reconciliou." (Colossenses
1:21). Reconciliação quer dizer restaurar as relações de amizade entre
duas partes que anteriormente eram inimigas. Na salvação, da qual a Bíblia
nos fala, Deus é reconciliado conosco e nós somos reconciliados com Deus.
Estas duas coisas têm que ser verdadeiras; a
reconciliação de uma parte e da outra são dois atos separados, mas ambos
são necessários para tornar uma reconciliação completa. É uma tolice
sugerir que Deus, por intermédio da morte de Cristo, agora está reconciliado
com todos os homens, mas que somente alguns homens estão reconciliados com
Ele. Espero que ninguém sugira que Deus e todos os homens
estão reconciliados desta maneira. Isso seria uma reconciliação capenga!
Não há verdadeira reconciliação a menos que ambas as partes estejam
reconciliadas uma com a outra.
O efeito da morte de Cristo foi a
reconciliação tanto de Deus com os homens como os homens com Deus; "fomos
reconciliados com Deus pela morte de seu Filho" (Romanos 5:10) e "nosso
Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação."
(Romanos 5:11). Ambas as reconciliações são, também, mencionadas em II
Coríntios 5:19-20 - "Deus ... reconciliando consigo", e "vos
reconcilieis com Deus".
Ora, como esta dupla reconciliação pode ser
"reconciliada" com a noção de que
a morte de Cristo é para todos os homens, eu
não posso entender! Porque, se todos os homens são, pela morte de Cristo,
assim duplamente reconciliados, como pode acontecer que a ira de Deus
esteja sobre alguns? (João 3:36). Sem dúvida alguma, Cristo somente pode
ter morri do por aqueles que estão realmente reconciliados.
7. Um argumento baseado no significado da
palavra " satisfação"
Argumento 13 - E verdade que a
palavra satisfação não é usada na versão inglesa da Bíblia, com referência
à morte de Cristo. Mas, aquilo que a palavra significa, isto é, "um
pagamento total daquilo que é devido a um credor por um devedor" é um
pensamento frequentemente usado no Novo Testamento, quando se refere à morte
de Cristo.
Em nosso caso, os homens são devedores a
Deus, pois falharam em obedecer aos Seus mandamentos. A satisfação requerida
para pagar nosso pecado é a morte - "o salário do pecado é a
morte" (Romanos 6:23). As leis de Deus nos acusam, expressando a
justiça e a verdade de Deus. Perante elas estamos convictos de que somos
seus transgressores, merecendo, portanto, morrer. A salvação só é possível
se Cristo pagar nosso débito e, assim, satisfazer a justiça de Deus. Sua
morte é chamada de uma "oferta" (Efésios 5:2) e de "propiciação"
(l João 2:2). A palavra oferta significa um sacrifício de expiação ou um
sacrifício para fazer reparação devido o pecado.
Propiciação significa uma oferta para
satisfazer a justiça ofendida. Dessa forma, podemos usar corretamente a
palavra satisfação para abranger todo o ensino bíblico quanto ao
significado da morte de Cristo.
Ora, se Cristo pela Sua morte realmente fez
uma satisfação por alguns, então Deus precisa agora estar completamente
satisfeito com eles. Deus não pode requerer licitamente um segundo pagamento de
qualquer espécie. Então, como pode ser que Cristo tenha morrido por todos os
homens e ainda muitos vivam e morram como pecadores sob a condenação da lei de
Deus? Reconciliem essas coisas aqueles que podem! Afirmo que somente os que estão
realmente livres do débito nesta vida podem ser aqueles pelos quais Cristo
pagou a satisfação.
8. Dois argumentos baseados no valor da
morte de Cristo
Argumento 14 - O Novo Testamento
fala, frequentemente, do valor da morte de Cristo, com a qual Ele pôde
comprar e obter certas coisas. Exemplo: é dito que a redenção eterna é obtida "por
seu próprio sangue" (Hebreus 9:12); é dito que a Igreja de Deus foi
resgatada "com seu próprio sangue." (Atos 20:28); e os
cristãos são chamados "povo adquirido" (I Pedro 2:9).
Cristo por Sua morte, então, comprou para
todos aqueles por quem Ele morreu, todas aquelas coisas que a Bíblia
salienta como resultados de Sua morte. O valor da Sua morte comprou a
libertação do poder do pecado e da ira de Deus, da morte e do poder do diabo,
da maldição da lei e da culpa do pecado. O valor da Sua morte obteve a
reconciliação com Deus, paz e redenção eterna. Estas coisas são agora dons
gratuitos de Deus, porque Cristo as comprou. Se Cristo morreu por todos os
homens, por que então todos os homens não têm essas coisas? Será que o valor da
Sua morte não é suficiente?
Será que Deus é injusto por não dar a todos
aquilo que Cristo comprou? Tem que ser óbvio que Cristo não pode ter morrido
para adquirir essas coisas para todos os homens, e sim somente para aqueles que
realmente desfrutam delas.
Argumento 15 - Há frases que são
frequentemente empregadas para se fazer referência à morte de Cristo, tais
como: morrendo por nós; suportando nossos pecados; sendo
nossa segurança. O significado evidente de tais frases é que Cristo, em
Sua morte, foi um substituto de outros para que eles pudessem ser livres.
Se, em Sua morte, Cristo foi um substituto
de outros. como podem eles mesmos morrerem também, carregando ainda seus
próprios pecados? Assim sendo, Cristo não pode ter sido um substituto a
favor deles. Daí, fica claro que Ele não pode ter morrido por todos os homens.
De fato, dizer que Cristo morreu por todos
os homens é a maneira mais rápida de provar que Ele não morreu por
ninguém. Porque se Ele morreu em lugar de todos, e, contudo, nem todos são
salvos, então Ele falhou em Seu propósito.
9. Um argumento geral baseado em versículos
específicos das Escrituras
Argumento 16 - Há um grande número
de versículos bíblicos que eu poderia usar para argumentar que Cristo não
morreu pelos pecados de todos os homens. Vou selecionar apenas nove, e,
com eles, encerrar nossos argumentos nesta parte.
1. Gênesis 3: 15. Este é o primeiro versículo
bíblico no qual Deus indica que há uma diferença entre o povo de Deus e
seus inimigos. "...sua semente" (da mulher) significa
Jesus Cristo e, portanto, também todos os crentes em Cristo. (Isto é claro
a partir do fato de que a profecia sobre a semente da mulher é cumprida em
Cristo e em Seu povo). "...tua semente" (da serpente)
significa todos os homens incrédulos do mundo (Vide João 8:44). Desde que
Deus prometeu somente inimizade entre a semente da serpente e a semente da
mulher, é óbvio que Cristo, a semente da mulher, não morreu pela semente
da serpente!
2. Mateus 7:23. Cristo aqui declara que há
pessoas que Ele jamais conheceu. Contudo, em outro lugar (João 10:14 a 17)
Ele diz que conhece todo o Seu povo. Será que Ele não conhece todos
aqueles por quem morreu? Se há alguns que Ele não conhece, então Ele não
pode ter morrido por eles.
3. Mateus 11:25-27. Conforme estas palavras, é
claro que há alguns dos quais Deus esconde o evangelho. Se é a vontade do
Pai que o evangelho não seja revelado a eles, Cristo não pode ter morrido
por eles. E nós devemos notar que Cristo, aqui, agradece ao Pai por fazer
esta diferença entre homens - uma diferença que somente alguns homens
ainda se recusam a acreditar!
4. João 10:11, 15-16, 27-28. Destes versículos
fica bastante claro que:
I. Nem todos os homens são ovelhas de Cristo.
II. A diferença entre os homens um dia será óbvia.
III. As ovelhas de Cristo são identificadas como "aquelas que ouvem a voz de Cristo"; outros não a ouvem.
IV. Alguns que ainda não são identificados como ovelhas já estão escolhidos e se tornarão conhecidos ("outras ovelhas").
V. Cristo morreu, não por todos, mas especificamente por Suas ovelhas.
VI. Aqueles por quem Cristo morreu são os que Lhe foram dados pelo Pai. Ele não pode, então, ter morrido por aqueles que não Lhe foram dados.
5. Romanos 8:32-34. Destes versículos entendemos com clareza que a morte de Cristo pertence somente ao povo eleito de Deus e, também, que a intercessão de Cristo é somente em favor desse mesmo povo.
I. Nem todos os homens são ovelhas de Cristo.
II. A diferença entre os homens um dia será óbvia.
III. As ovelhas de Cristo são identificadas como "aquelas que ouvem a voz de Cristo"; outros não a ouvem.
IV. Alguns que ainda não são identificados como ovelhas já estão escolhidos e se tornarão conhecidos ("outras ovelhas").
V. Cristo morreu, não por todos, mas especificamente por Suas ovelhas.
VI. Aqueles por quem Cristo morreu são os que Lhe foram dados pelo Pai. Ele não pode, então, ter morrido por aqueles que não Lhe foram dados.
5. Romanos 8:32-34. Destes versículos entendemos com clareza que a morte de Cristo pertence somente ao povo eleito de Deus e, também, que a intercessão de Cristo é somente em favor desse mesmo povo.
6. Efésios 1: 7. A partir deste versículo,
podemos dizer que se o sangue de Cristo foi derramado por todos, então
todos devem ter esta redenção e este perdão. Mas, certamente, nem todas as
pessoas os possuem.
7. II Coríntios 5:21.
Portanto, em Sua morte Cristo foi feito pecado por todos aqueles que nEle
foram feitos justiça de Deus. Se Ele foi feito pecado por todos, então,
por que todos não são feitos justiça?
8. João 17:9. A intercessão de Cristo não é
por todos os homens, e, portanto, nem a Sua morte o foi. (Ver Segunda
Parte, capítulos quatro e cinco).
9. Efésios 5:25. Cristo ama a Igreja e isto é
um exemplo de como um homem deve amar a sua esposa. Mas se Cristo amou
outros tanto quanto a Sua Igreja, até ao ponto de morrer por eles, então
os homens podem certamente amar outras mulheres além de suas esposas!
Pensei que poderia acrescentar outros
argumentos - mas, considerando aquilo que já disse, estou certo de que o
que já foi argumentado é bastante para satisfazer os que se satisfarão com
argumentos; no entanto, aqueles que são obstinados não se satisfarão ainda que
eu inclua outros argumentos. Portanto, encerro meus argumentos aqui
***
Fonte: John Owen, Por quem Cristo morreu, págs. 49-70. Editora PES - 1986.
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