Introdução
Em uma tarde numa livraria fui
abordado por um senhor que olhava curiosamente a seção de livros religiosos,
ele me fez uma pergunta muito interessante; você acredita na ressurreição ou na
reencarnação? Então lhe respondi, acredito na ressurreição, pois é isso que a
Bíblia diz. Com muita gentileza e educação ele retrucou, não, não meu jovem, em
João 3.3 a Bíblia ensina a reencarnação. Nossa conversa estendeu-se por alguns
minutos e discutimos se realmente a Bíblia fala e ensina a reencarnação. Bem, é
claro que ao tratarmos desse assunto temos inúmeras passagens da Bíblia que
foram utilizadas por reencarnacionistas, para supostamente provar que tal
ensino está nas Escrituras. Não tenho a pretensão de esgotar o assunto,
trataremos neste artigo do que a Bíblia ensina nessa passagem em especial, e
veremos que a reencarnação não tem respaldo bíblico.
Interpretação reencarnacionista
O texto Bíblico diz o
seguinte: “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo
que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.”
- João 3.3.
A declaração reencarnacionista: “Se o
homem não renasce da água e do espírito, ou em água em espírito, significa: Se
o homem não renasce com seu corpo e sua alma”, (O Evangelho Segundo o
Espiritismo, p. 561). Antes de analisarmos o texto Bíblico e a declaração
espírita, vejamos a definição dada por Kardec ao pensamento reencarnacionista:
“A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas
existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia da justiça de
Deus com respeito aos homens de condição moral inferior, a única que pode
explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois oferece-nos o
meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos
diz, é o que os espíritos ensinam”, (O Livro dos Espíritos, p. 84).
João 3.3
O texto em foco em nosso estudo é uma
declaração de Jesus a Nicodemos, que era um homem de autoridade entre os
judeus. Ao declarar no versículo 3, que ninguém poderia entrar no reino de Deus
se não nascesse de novo, Jesus não estava defendendo a reencarnação, num olhar
simples sobre o texto vemos que nem Nicodemos entendeu assim, disse Nicodemos
no versículo 4: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode,
porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” - João
3:4.
Nicodemos não entendeu o nascer de
novo como uma multiplicidade de existências, mas, como voltar a nascer da mesma
mãe. Portanto, vemos que a interpretação de Nicodemos em si já contradiz o que
ensina a crença espírita, pois aqui no entendimento errôneo de Nicodemos,
pensou ele que nasceria no mesmo tempo e teria a mesma descendência, o que vai
de encontro também a crença reencarnacionista. Também pontuamos que o termo
“nascer de novo” (do grego anotem) significa nascer do alto, nascer de
cima, pela obra soberana da graça de Deus, pela regeneração operada pelo
Espírito Santo, mediante a Palavra ( João 15.3; Efésios 5.26). A Escritura nos
diz que Deus nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito
Santo (Tito 3.5). Jesus estava falando de regeneração e não de reencarnação,
Ele se referiu as mudanças íntimas das disposições da alma e não do corpo. O
apóstolo Paulo nos diz na segunda epístola aos coríntios: “Assim que, se
alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que
tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo
por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava
em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e
pôs em nós a palavra da reconciliação.” - 2 Coríntios 5.17-19.
Podemos perceber claramente nessa
passagem que o agir regenerador de Deus no homem é parte de seu ato reconciliador
em Jesus Cristo. Através de Jesus é que somos trazidos a Deus. O reformador
João Calvino disse certa vez que “Não há outra vida da alma senão aquela que é
bafejada em nós por Cristo; de modo que só começamos a viver quando somos
enxertados nele e passamos a desfrutar vida comum com Ele”.[1]
Algumas perguntas aos
reencarnacionistas
Se a alma se reencarna para pagar os
pecados de uma vida anterior, dever-se-ia perguntar quando se iniciou esta
série de reencarnações. Onde estava o homem quando pecou pela primeira vez?
Tinha ele então corpo? Ou era puro espírito? Se tinha corpo, então já estava
sendo castigado. Onde pecara antes? Só poderia ter pecado quando ainda era puro
espírito. Como foi esse pecado? Era então o homem parte da divindade? Como
poderia ter havido pecado em Deus? Se não era parte da divindade, o que era
então o homem antes de ter corpo? Era anjo? Mas o anjo não é uma alma humana
sem corpo, ele é um ser de natureza diversa da humana. O que era o espírito
humano quando teria pecado essa primeira vez? [2]
A reencarnação prova a Justiça de
Deus?
Como vimos no inicio de nosso breve
comentário, Kardec afirma que a crença na reencarnação demostra a justiça de
Deus:
“A doutrina da reencarnação, que
consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que
corresponde à ideia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição
moral inferior, a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as
nossas esperanças, pois oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros
através de novas provas. A razão assim nos diz, é o que os espíritos ensinam”,
(O Livro dos Espíritos p. 84).
O ensino espírita nega o que a
Palavra de Deus nos diz a respeito da justiça redentiva de Deus: “Mas vós
sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e
justiça, e santificação, e redenção.” - 1 Coríntios 1.30. Cristo é
nossa Justiça e não a reencarnação. A Escritura continua a nos ensinar:
“Porque primeiramente vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras” (1Co 15.3,4).
“Verdadeiramente ele tomou sobre
si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por
causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados” (Is 53.4,5).
“Desde então começou Jesus a
mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas
coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser
morto, e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-o de parte, começou a
repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te
acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim,
Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são
de Deus, mas só as que são dos homens” (Mt 16.21-23).
“Porque pela graça sois salvos,
por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para
que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para
as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef
2.8-10).
Ainda citando Calvino, vemos
que: “Fora de Cristo não há justiça alguma, nem salvação, nem
mérito”.³ Somente em Jesus temos a justificação de nossos pecados, Ele é a
porta (Jo 10.9), Ele é a vida (Jo 14.6), Ele é o mediador (1 Tm 2.5). Nas
palavras do reformador ainda lemos: “Nenhum outro jamais se apropriará
corretamente da justiça divina senão aquele que a abraça como ela é oferecida e
apresentada na Palavra” (Comentário dos Salmos, Sl 40.10, p. 233). O que
a Bíblia nos ensina claramente, como vimos, são as doutrinas da regeneração e
da ressurreição, nunca reencarnação, Jesus disse: “Não vos maravilheis
disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua
voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que
fizeram o mal para a ressurreição da condenação.” - João 5.28-29.
“E, como aos homens está ordenado
morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo.” - Hebreus 9.27.
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Notas:
[1] Comentário
de Efésios 2.4, João Calvino, p. 51.
[2] Perguntas
aos reencarnacionistas - http://www.cacp.org.br/perguntas-aos-reencarnacionistas
[3] Comentário
de Efésios 2.3, João
Calvino, p. 54.
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Divulgação: Bereianos
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