"Ao
Senhor pertence a salvação!" (Jn 2.9), Mas o Senhor não salva a todos. Por
que não? Ele salva alguns; e, se salva alguns, por que não salva os demais?
Porventura é por que são demasiadamente pecadores e depravados? Não; pois o
apóstolo escreveu: "Fiel é a palavra e digna de toda aceitação, que Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o
principal" (1 Tm 1.15). Por conseguinte, se Deus salvou àquele que foi o "principal"
dos pecadores, ninguém é excluído por ser demasiadamente depravado. Então, por
que Deus não salva a todos? É por que alguns têm o coração tão endurecido, que
não se deixam vencer? Não, porque está escrito a respeito daqueles que têm o
coração mais endurecido do que o de quaisquer outras pessoas: "Tirarei da
sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne" (Ez 11.19).
Então, será que alguns são tão obstinados, tão intratáveis, tão atrevidos, que
Deus não pode atraí-los para Si? Antes de responder a essa pergunta, vamos
formular outra; apelemos para a experiência de pelo menos alguns dentre os do
povo do Senhor.
Amigo,
não houve um tempo quando você andava segundo o conselho dos ímpios, se detinha
no caminho dos pecadores e se assentava junto aos escarnecedores e com aqueles
que diziam: "Não queremos que este reine sobre nós" (Lc 19.14)? Não
houve um tempo quando você não queria vir a Cristo para ter vida (Jo 5.40)?
Sim, não houve um tempo quando você mesclava a sua voz à daqueles que diziam a
Deus: "Retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos. Que é o
Todo-poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos
orações" (Jó 21.14, 15)? Envergonhado, você tem de reconhecer que houve um
tempo assim.
Como é
que tudo isso mudou? O que o levou a abandonar sua orgulhosa auto-sufíciência,
para ser um humilde suplicante; a deixar sua situação de inimizade contra Deus,
para fazer as pazes com Ele, passando da rebeldia à sujeição, do ódio ao amor?
"Pela graça de Deus, sou o que sou" (1 Co 15.10), responderá você, se
é "nascido do Espírito". Você percebe que não é por causa de qualquer
falta de poder da parte de Deus que outros rebeldes não são salvos também? Se
Deus teve a capacidade de subjugar a sua vontade e ganhar o seu coração, sem
interferir em sua responsabilidade moral, então não poderia fazer o mesmo com
as outras pessoas? Certamente que sim. Logo, quão incoerente, ilógico e estulto
você se mostra em procurar explicar a atual situação dos maus e o destino final
deles, argumentando que Deus é incapaz de salvá-los e que eles não deixam que
Deus os salve. Você talvez argumente: "Mas chegou o momento em que me
dispus, desejoso de receber a Cristo como meu Salvador". É verdade, mas
foi o Senhor quem lhe deu essa disposição (SI 110.3 e Fp 2.13). Nesse caso, por
que Deus não faz com que todos se disponham? Pelo fato de que Ele é soberano e
age como bem Lhe apraz!
Mas,
voltemos à nossa indagação inicial. Por que razão todos não são salvos,
especialmente todos quantos ouvem o evangelho? Você continua argumentando:
"Não será porque a maioria se recusa a crer?" Bem, é verdade, mas
isso é apenas parte da verdade. É a verdade do lado humano. Há também o lado
divino, e esse lado precisa ser ressaltado; caso contrário, Deus será despojado
de sua glória. Os não-salvos estão perdidos porque se recusam a crer; os demais
estão salvos justamente porque crêem. Mas, por que estes crêem? O que os leva a
confiarem em Cristo? Porventura são mais inteligentes do que os seus
semelhantes, mais prontos a discernirem a sua própria necessidade de salvação?
Longe de nós tal ideia, "Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu
que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o
não tiveras recebido?" (1 Co 4.7).
É o
próprio Deus quem estabelece a diferença entre os eleitos e os não-eleitos,
porque está escrito acerca dos que lhe pertencem: "Também sabemos que o
Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos o
verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo 5.20).
A fé é um
dom de Deus, e "a fé não é de todos" (2 Ts 3.2). Portanto, vemos que
Deus não concede esse dom a todos. Quem, pois, recebe essa graça salvadora?
Nós, seus próprios eleitos, respondemos — "e creram todos os que haviam
sido destinados para a vida eterna" (At 13.48). Por isso é que lemos:
"A fé que é dos eleitos de Deus" (Tt 1.1). Mas, é Deus soberano na
distribuição dos seus favores? Não tem Ele o direito de ser assim? Existem
ainda aqueles que "murmuram contra o dono da casa"? Então, as
próprias palavras do Senhor são resposta suficiente: "Porventura não me é
lícito fazer o que quero do que é meu?" (Mt 20.15). Deus é soberano na
distribuição dos seus dons, tanto no âmbito das coisas naturais como das
espirituais.
Fonte –
Matérias de Teologia - 05/09/2014
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