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sábado, 16 de janeiro de 2016

Deus escolheu alguns porque previu a fé neles?






A teologia arminiana afirma que Deus escolheu os que seriam salvos com base em sua presciência. Segundo essa concepção, Deus olhou para o futuro e viu os homens que creriam, elegendo-os então. Isso levanta a seguinte pergunta: Quem fixou o futuro para o qual Deus olhou? Se foi ele mesmo (e ao crente não resta outra opção), por que teve que consultá-lo? E mais: Se foi o próprio Deus quem estabeleceu o futuro no qual poderia ver de antemão quem creria, isso não equivale a dizer que ele próprio estabeleceu quem creria? Ora, é exatamente isso o que os calvinistas afirmam. Então, por que não concordar com eles de uma vez? Dentro ainda dessa discussão, deve-se considerar que a Bíblia diz que a fé é dom de Deus (Ef 2.8 [o "isto" mencionado nesse versículo se refere ao processo todo que abrange a fé]; Fl 1.29; Hb 12.2). Se é, pois, o Senhor quem concede a fé, por que ele teria que “descobrir” quem creria e, então, escolhê-los?

A posição arminiana, contudo, nesse aspecto, não enfrenta dificuldades apenas por causa da falta de lógica em seus argumentos. A ideia de que Deus elege com base no que antevê também encontra problemas teológicos insolúveis. Por exemplo: se Deus escolhe o homem baseando-se em algum bem visto nele previamente, então a graça de Deus desaparece para dar lugar a uma forma disfarçada de retribuição. Com efeito, se a visão arminiana estivesse correta, a eleição divina deixaria de ser gratuita e incondicional, tornando-se a recompensa dada por Deus àqueles em quem anteviu algo que o agradou, a saber, a fé resultante do uso adequado da graça preveniente. No arminianismo, portanto, a gratuidade da eleição é demolida e, em seu lugar, é edificada uma escolha divina meritória. No fim das contas, o homem é salvo porque Deus o considera digno disso, ao descobrir previamente que ele, de si mesmo e por si mesmo, fará bom uso da graça capacitadora dada a todos.


Ora, o Novo Testamento não dá margem alguma para essa hipótese. De fato, Paulo ensina que a graça de Deus não procura homens dignos, mas sim cria homens dignos (Cl 1.12). A triste realidade é que se Deus procurasse homens dignos para então escolhê-los, ninguém seria salvo. Aliás, a beleza, infinitude e magnificência da graça de Deus é percebida precisamente no fato dele ter escolhido homens que mereciam somente a sua ira (Ef 2.3), pessoas em quem o Senhor não viu virtude alguma, mas sim pecado, maldade, rebelião e ódio contra ele (Rm 5.6-10).


Contrariando o ensino arminiano, o Novo Testamento também realça que a eleição não é a recompensa da fé, mas sim a sua causa (2Ts 2.13), de modo que o indivíduo não é eleito porque vai crer, mas sim vai crer porque é eleito. Realmente, o texto sagrado sempre coloca a eleição como a razão da fé e não o contrário. A escolha de Deus não depende, assim, da fé prevista. É a fé que depende da escolha prévia. É por isso que em Atos 13.48, Lucas afirma que entre os gentios que ouviam a pregação de Paulo em Antioquia da Pisídia, “creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna”. Na dinâmica da frase de Lucas, a eleição é a causa, não o efeito da fé.


Como então lidar com Romanos 8.29 e 1 Pedro 1.2? Uma análise simples mostrará que esses textos, na verdade, não amparam em nada a concepção arminiana. Considere-se, a princípio, a frase, “aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou” encontrada em Romanos 8.29. Será que essa frase corrobora mesmo a tese de que Deus primeiro anteviu quais pessoas creriam e então as predestinou para a salvação? De modo nenhum! Para descobrir o verdadeiro significado da expressão “conheceu de antemão” basta observar a sua única outra ocorrência nos escritos de Paulo.


Essa expressão é, na verdade, a tradução do verbo grego proginósko e é usada outra vez pelo apóstolo somente em Romanos 11.2, onde escreve sobre Israel: “Deus não rejeitou o seu povo, o qual de antemão conheceu”. Ora, é evidente que aqui, conhecer de antemão não significa prever a fé, uma vez que Israel nunca creu na mensagem de Deus (At 7.51-53). Resta, pois, somente um sentido possível para a fórmula sob análise, a saber: Deus conheceu de antemão a quem mostraria seu favor. Esse é, portanto o modo como Romanos 8.29 deve ser entendido. Não se trata de Deus saber previamente quem creria, mas sim de Deus saber previamente a quem favoreceria. Esse entendimento, aliás, se harmoniza plenamente com outras passagens do Novo Testamento onde ser conhecido por Deus significa ser alvo do seu favor (1Co 8.3; Gl 4.9; 2Tm 2.19). Aliás, Em 1Pedro 1.20, existe a evidência de que o verbo proginósko também pode significar “fazer algo a fim de assegurar que um evento realmente ocorra”. Esse sentido também corrobora a tese defendida aqui (Veja-se ARICHEA, D. C.; NIDA, E. A. A handbook on the first letter from Peter. UBS handbook series. Helps for translators (42). New York: United Bible Societies, 1994.).


É assim também que o texto de Pedro deve ser interpretado na parte que diz: “escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai”. Note-se que nesse versículo, Pedro usa a preposição grega katá, traduzida como “de acordo com”, indicando que a escolha de Deus foi feita conforme ele sabia previamente que iria fazer. É, portanto, como se Pedro dissesse: “Vocês foram escolhidos conforme Deus Pai havia previsto que vocês seriam”. Ora, isso indica que Deus não escolheu os crentes porque anteviu a fé neles, mas sim porque sabia previamente a quem mostraria favor.


Na verdade, se Pedro quisesse indicar que Deus escolheu porque anteviu a fé, como ensinam os arminianos, ele certamente usaria a preposição diá, extremamente comum na língua grega e cujo significado, quando usada com o modo acusativo (como é o caso em 1Pe 1.2) é “por causa de”. A tradução, então, ficaria assim: “Vocês foram escolhidos por causa do pré-conhecimento de Deus Pai”. Isso sim indicaria que Deus previu a fé e, por causa disso, teria escolhido alguns. Porém, não é esse o caso aqui, de modo que a Bíblia permanece silente no tocante a qualquer suposta eleição divina alicerçada numa fé prevista.


***

Autor: Pr. Marcos Granconato


domingo, 3 de janeiro de 2016

Série Credo Apostólico - Creio no Espírito Santo.







Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.

Chegamos à parte final do Credo, que tem como “Creio” a terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo. O Credo, de forma lógica, após tratar da ascensão de Cristo, mostra agora a pessoa do Espírito Santo no estabelecimento da Igreja, a comunhão dos santos que estão espalhados pelo mundo entre povos, línguas e nações, a remissão de pecados, a nossa ressurreição no último dia e a entrada na vida eterna como parte de sua confissão. 

1. O Espírito Santo

O Credo é bem claro em não colocar toda a sua ênfase no Espírito Santo. Não que Ele seja menor, mas que suas funções são distintas. Algumas igrejas dão tanta ênfase ao Espírito Santo porque não conhecem o Seu trabalho no que chamamos “economia da Trindade”. Essas igrejas, possivelmente, não conseguem entender que a ênfase do culto não está sobre a pessoa do Espírito Santo, e sim, como o próprio Credo mostra, assim como o Novo Testamento, está sobre Cristo sendo o Senhor da Igreja. A nossa adoração é conduzida pelo Espírito Santo, nos levando a exaltar Cristo e sua obra de redenção feita na cruz por intermédio da Palavra para a glória de Deus Pai. Então, de forma breve e simples, duas grandes categorias sobre o Espírito Santo.

1.1. A pessoa do Espirito Santo

A resposta 53 do 20º Dia do Senhor no Catecismo de Heidelberg nos diz, sobre o Espírito Santo:

Ele é verdadeiro e eterno Deus, juntamente com o Pai e o Filho.
O Espírito Santo é uma pessoa porque ele tem funções de uma pessoa. Ele ensina (Lc 12.11-12), fala (At 13.2), intercede (Rm 8.26), se entristece (Ef 4.30). Ou seja, o Espírito Santo não é uma força ativa ou um modo de existência de Deus.

O Espírito Santo está em toda parte, não há nenhum lugar deste mundo que possamos nos esconder dele (Sl 139.7). Ele é eterno (Hb 9.14) e o único que conhece a mente de Deus (1Co 2.10-11). O Espírito Santo é plenamente Deus como esses textos mostram:

• Atos 5.3-4 mostra que mentir para Deus é mentir para o Espírito Santo;

• 1Co 3.16 e 6.19 mostram que Templo de Deus e Templo do Espírito Santo são usados como sinônimos;

• Mt 28.19 (cf. 2Co 13.14) mostra que Jesus ordena aos seus discípulos que fossem batizados em nome (singular) de todas as três pessoas (plural) da Trindade. Mostrando a mesma igualdade em poder, posição e majestade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

1.2. A obra do Espírito Santo

O Catecismo de Heidelberg prossegue dizendo:

Que ele foi dado também a mim, para fazer de mim, por meio de fé verdadeira, um participante de Cristo e de todos os seus benefícios, para que ele possa me confortar e habitar comigo para sempre.
O Espirito Santo, assim como Deus Pai, não é só transcendente, mas também, imanente. Ou seja, o Espírito Santo está conosco em todo lugar, por isso o catecismo diz que “ele foi dado também a mim”. E assim, a Bíblia diz que:

• O Espírito vive dentro de nós (1Co 6.19);

• O Espírito está em nosso coração para nos fazer clamar “Aba, Pai” (Gl 4.6; cf. 2Co 1.22);

• Temos comunhão com o Espírito Santo (2Co 13.14).

Essa vivencia que há do Espírito Santo em nosso coração não é que o nosso coração é um compartimento que guarda Ele. Mas que o Espírito Santo habita conosco nos animando, moldando o nosso caráter, renovando a nossa mente e agitando as nossas emoções. Ou seja, a Sua presença não é uma residência física, mas uma realidade vivida.

1.3. O Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento

Qual a diferença da atuação do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento?

No Antigo Testamento o Espírito Santo habitava entre os crentes, como mostra o profeta “segundo o pacto que fiz convosco, quando saístes do Egito, e o meu Espírito habita no meio de vós; não temais” (Ag 2.5). Então, a habitação do Espírito Santo sempre existiu mesmo quando Cristo estava na terra. O que diferencia o Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento é a sua atuação. O que havia na Antiga Aliança eram enchimentos a certos tipos de pessoas, pois na conversão quem sempre agiu foi o Espírito Santo (Zc 4.6). Algumas pessoas eram cheias do Espírito Santo para certos tipos de obras que deveriam fazer, por exemplo, em reis, profetas e sacerdotes.

Já na Nova Aliança, a atuação do Espírito Santo é diferente, começando com o cumprimento da profecia de Joel 2.28 (cf. At 2.17,18). O cumprimento da profecia de Joel é o que marca a distinção da atuação do Espírito Santo na Antiga Aliança e na Nova. A profecia diz que Deus derramaria o seu Espirito sobre toda carne, não mais só em profetas, reis e sacerdotes. Mas derramaria sobre filhos e filhas, jovens e velhos, e sobre servos e servas e que a cada um concederia dons. Ou seja, na Nova Aliança todos quantos participam do corpo de Cristo recebem a ordem de encherem do Espírito Santo.

1.4. O Espírito Santo e a Igreja

Algumas pessoas entendem que estamos na Era do Espírito Santo, fazendo essa distinção da antiga aliança. É bem verdade que algumas coisas da antiga aliança não são praticadas hoje, mas o Espírito Santo já habitava na igreja do Antigo Testamento, como mostrei acima. O que nós temos em Pentecostes (At 2) é o que Abraham Kuyper diz: “a Igreja para o mundo”.[1] Naquele momento em diante a Igreja avançaria o mundo mostrando que o Evangelho é para todas as nações, algo bem visto quando cento e vinte pessoas receberam o dom de línguas e falaram das maravilhas de Deus nos idiomas daqueles que vieram visitar a festa (At 2.11).

 Sendo assim, o Espirito Santo concede dons à igreja para que a obra de Deus prosseguisse avante. Deus concede a Igreja, por intermédio do Espírito Santo, dons para que esses dons auxiliasse toda a comunidade e não como algo de vanglória e títulos. Entendemos que os dons ditos revelacionais não são necessários para os dias de hoje, até porque o modo que interpretam esses dons, principalmente o de línguas, não pode ser comparado com os de Atos e de 1º Coríntios. Seja qual for o dom que Deus nos dê, devemos obedecer as regras: não são para o nosso próprio prazer ou beneficio, mas para equipar a nossa tarefa como povo missionário de Deus.

1.4.1. No ministério da Palavra 

Além de o Espírito Santo conceder dons, o Espirito Santo age no cuidado da Palavra: sela, a interpreta e aplica. Pelo o selo entendo como a sua autoridade divina, se não a Palavra não pode ser palavra de Deus para nós. Ela é a autoridade final para qualquer decisão que há e devemos nos submeter a ela. As nossas experiências não podem ser comparadas à autoridade que a Escritura nos passa. As nossas experiências passam, a Palavra de Deus é eterna.

A Escritura, sendo autoridade de Deus, deve ser interpretada. A interpretação da Palavra de Deus não pode ser baseada em achismos e/ ou experiências. Ela deve ser acompanhada de oração. Uma vida cristã piedosa e auxilio do Espírito Santo. Somente aquele que selou a sua autoridade é o que pode dar a interpretação.

Após a interpretação, há a aplicação. A Escritura Sagrada é um verdadeiro manual para a atual sociedade e de qualquer época, pois ela é eterna. Mas tal aplicação só pode ser feita pela obra do Espírito Santo. Sendo assim, há duas formas que o Espírito Santo aplica a Palavra: por intermédio da pregação, devocional e/ ou leitura diariamente.

1.4.2. No governo da Igreja

Assim como foi na eleição do sucessor de Judas (At 1.24-26), o traidor, cremos que o Espírito Santo escolhe os oficiais que guia a igreja. Cremos que os oficiais da igreja, os quais são eleitos pela igreja (At 6.5; 14.23; 15.22,25;) são também eleitos pelo Espírito Santo. Tais homens pecadores, por intermédio da Santa Palavra, agem segundo a vontade de Deus, tanto na pregação da Palavra, administração dos sacramentos bem como na disciplina (Mt 18.20).

2. A Igreja

Como assim crer na igreja? O Credo não está afirmando para nós crermos na Igreja da mesma forma que cremos em Deus, em Cristo e no Espírito Santo. Mas devemos crer na igreja por aquilo que ela mesma é: O Corpo de Cristo, a Noiva do Cordeiro.
Por questão lógica, depois de apresentar a obra da Trindade, o Credo mostra a igreja como uma constituição da Trindade. Então, veremos abaixo algumas características concernentes a igreja.

2.1. Igreja visível e invisível 

Segundo a Confissão de Fé de Westminster, a igreja é:
A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas.
A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação.

A esta Igreja Católica Visível Cristo deu o ministério, os oráculos e as ordenanças de Deus, para congregamento e aperfeiçoamento dos santos nesta vida, até o fim do mundo, e pela sua própria presença e pelo seu Espírito, os torna eficazes para esse fim, segundo a sua promessa. (Cap. XXV. I, II e III).

Segundo a Confissão de Fé de Westminster, a Igreja Invisível é constituída por todos os salvos, tanto da Antiga Aliança como aqueles que conhecemos que morreram no Senhor e aqueles que estão espalhados pelo mundo. Igreja visível e invisível não são duas igrejas, mas uma só Igreja porque Cristo só tem um Corpo e uma Noiva a qual, em sua totalidade, será revelada na eternidade, uma multidão que não se pode contar (Ap 7.9). Ou como mostra a CFW: consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça.

A Igreja visível é a igreja local, a qual é uma porção da Igreja invisível na qual consiste de crentes e não crentes. E mesmo com governantes crentes a sua natureza carnal ainda não está totalmente livre do pecado, por isso que a história mostra vários problemas e duras lutas. Mas, mesmo assim, com todas as suas imperfeições, nos é exigido que cumpramos com que a Escritura exige de sua igreja.
E assim, entendo que a definição dada pela CFW seja mais fácil de explicar a unidade[2] e sua universalidade (igreja católica). Os dois termos propostos pela Confissão trata sobre a unidade da igreja como a igreja que estará presente no céu com o nosso Senhor para todo sempre, mas também trata da unidade da igreja aqui na terra, a qual é o Corpo de Cristo onde deve haver edificação mútua até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, ao homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef 4.13).

A universalidade da Igreja pode ser descrita pela Igreja Invisível. Pois, se uma igreja advoga para si a catolicidade haverá alguns problemas, como o exclusivismo. Mas a Igreja Universal, assim como a Igreja Invisível, está em todos os lugares compostos por eleitos de todos os tempos, não como afirma o romanismo – que as igrejas locais não podem ser chamadas de igrejas, mas que todas fazem parte da Igreja como um todo.

Assim, também, o termo Visível e Invisível pode ser aplicado ao termo que a SegundaConfissão de Helvética (1566), que diz:

Uma é chamada a Igreja Militante e a outra a Igreja Triunfante. A primeira ainda milita na terra e luta contra a carne, o mundo e o Diabo, que é o príncipe deste mundo, e contra o pecado e a morte. A outra, já deu baixa e triunfa no céu depois de ter vencido esses inimigos, e exulta diante do Senhor. Entretanto, essas duas igrejas têm comunhão e união uma com a outra. (Cap. XVII).[3]

A Igreja Visível é a mesma que Militante, pois está nesta terra com pecadores dentro dela lutando contra as hostes espirituais.
A Igreja Invisível é a mesma que a Triunfante, que gloriosamente está com o nosso Senhor Jesus, longe da corrupção que há aqui na terra, composta por todos os eleitos de todas as épocas.

2.2. As marcas da Igreja

Por marca podemos definir o que se entende certos tipos de sinais externos. François Turretini diz que as marcas são para:
Distinguir o verdadeiro aprisco de Cristo das covas dos lobos e a genuína sociedade dos cristãos piedosos.[4]

A Teologia Reformada define uma verdadeira igreja por três vieses, segundo a Confissão Belga:

As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho, a pura administração dos sacramentos como Cristo os instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados. Em resumo: ela se orienta segundo a pura Palavra de Deus, rejeitando todo o contrário a esta Palavra e reconhecendo Jesus Cristo como o único Cabeça. Assim, com certeza, se pode conhecer a verdadeira igreja; e a ninguém convém separar-se dela (artigo 29.2).

2.2.1. Uma fiel pregação

Segundo a reforma protestante a pura pregação é uma das características de uma verdadeira igreja. Mas concernente à pregação há o ensino. Ou seja, uma fiel pregação e um fiel ensino da Escritura é a primeira marca que distingue a verdadeira da falsa igreja.
Cremos que uma fiel pregação faz com que se cumpra o que Jesus disse, que as ovelhas ouvem a voz de Cristo e o seguem (Jo 10.27). É por intermédio da pregação fiel que Deus concede fé ao pecador (Rm 10.17). Uma igreja que é fiel à Escritura é aquela que se mantém nas palavras de Cristo (Jo 8.31,32).

Assim como a pregação mostra a fidelidade da igreja, o ensino também. Um exemplo claro disso é o que relata Atos 2.42 onde que os cristãos perseveraram na doutrina dos apóstolos. Uma pregação e um ensino fiel da Escritura cumpre com o que Paulo diz aos Coríntios, em sua segunda carta: “Somos, portanto, embaixadores por Cristo, como se Deus exortasse por nós” (2Co 5.20 – Sociedade Bíblica Britânica).

É como ser a voz de Cristo na terra quando pregamos, pois “quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10.16).

2.2.2. Uma fiel administração dos sacramentos

A fiel administração dos sacramentos é consequência de uma fiel pregação da Palavra de Deus, pois os sacramentos administrados são como uma pregação. Pois, os sacramentos são sinais visíveis de uma graça invisível. Portanto, quando o ministro administra bem a Santa Ceia, conforme a fiel explicação da mesma, ele está pregando, por meio de sinais. Quando bem explicada, a igreja entende, a cada dia, de que Cristo lhes proporcionou tal benção de participar de seu Corpo por causa da Sua carne partida e Seu sangue derramado em favor de muitos. Da mesma forma, quando bem explicado, é o batismo. O batismo é uma forma de professar publicamente aquilo que foi feito sobrenaturalmente na vida deste pecador, os quais foram regenerados.

2.2.3. Uma fiel aplicação da disciplina

A necessidade da disciplina faz parte de toda sociedade ordenada e moral. Assim também é na Igreja de Cristo, para que aquele que está sofrendo a disciplina aprenda a não pecar mais e aqueles que estão presenciando a disciplina não pequem da mesma forma ou diferente. Uma igreja que não disciplina ela se torna imoral da mesma forma daquele que merece a disciplina. Portanto, com um faltoso dentro da igreja, este fermento faz com que levede toda a massa (1Co 5.6), levando outros consigo a praticar o mesmo erro.

Uma igreja que não luta contra o pecado não é fiel à pregação e nem aos sacramentos, pois se pregasse fielmente à Palavra de Deus notaria, com o testemunho dos dois Testamentos, que Deus sempre disciplinou os faltosos. Da mesma forma, não haverá uma boa administração dos sacramentos. Pois, todos quantos participam da Santa Ceia devem ter consciência do que está participando, caso contrário, se o mesmo come e bebe sem discernimento, come e bebe juízo para si (1Co 11.29).

2.3. Fora da igreja não há salvação? 

A Confissão de Fé de Westminster diz:

A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação (XXV.II)

A confissão reformada diz que fora da igreja visível não há salvação, será que todos quantos estão desigrejados estão perdidos? A CFW não está dizendo que todos quantos, por algum motivo válido, estão sem congregar não estão salvos. Mas que não é habitual (ordinário) haver salvação fora da Igreja.

De uns tempos para cá algumas pessoas saíram de suas igrejas e começaram a congregar em seus lares. Não direi que é pecado a igreja iniciar os seus trabalhos nos lares, mas sim quando essas pessoas saíram de suas congregações e passaram a se reunir em lares sem um governo. Pois, cremos que para administrar os sacramentos devem ser pastores legalmente ordenados, como descrevem as confissões reformadas (CFW: XXVII.IV e Confissão de Fé Batista de Londres de 1689: XXVIII. II).

Mas no atual cenário dos desigrejados, o que vemos é a insubmissão aos lideres de suas igrejas e com algumas desculpas que não convém, por exemplo: Na igreja só há hipócritas, na igreja há injustiças, na igreja há erros e etc. Bom, infelizmente pecadores sempre haverão de compor a Igreja. Em Atos dos Apóstolos vemos uma má distribuição de benefícios às viúvas judias e gregas (At 6), onde as judias eram mais beneficiadas do que as gregas e vemos dois missionários entrando em conflito, Paulo e Barnabé (At 15.37-39). Portanto, a corrupção sempre haverá na igreja até Cristo voltar. A questão que envolve é “como resolvem o problema”. A Bíblia não mostra em lugar nenhum algum exemplo de “desigrejamento”, mas mostra que devemos lutar pela pureza da igreja identificando os hereges e admoestando-os (2Tm 2.25).

Alguns falam que no Novo testamento o local de congregar era em lares, ou seja, não houve nenhum outro lugar em que os membros se reuniam. É bem verdade, mas as igrejas que estavam em suas cidades, como mostra o caso de Priscila e Aquila, que possivelmente a Igreja de Éfeso era em sua casa (1Co 16.19; cf. At 18.19), eram fixas. A segunda questão a analisar é o modo que Tiago se dirige a igreja:
Porque, se entrar na vossa sinagoga algum homem com anel de ouro no dedo e com traje esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido. (Tiago 2.2).

Tiago, criticando o modo que alguns da igreja se comportavam fazendo acepção de pessoas, usa o termo sinagoga para se dirigir ao local que aqueles irmãos se reuniam. Veja que o autor do texto toma o sentido judaico de igreja para aplicar à igreja aonde é direcionada a carta. A palavra “sinagoga” tem como sentido construções, onde aquelas assembleias judaicas solenes eram organizadas. Ou seja, percebe-se que antes mesmo das perseguições se concretizarem, possivelmente já havia um lugar de reunião como descreve Tiago, irmão do Senhor. Em Hebreus 10.25 o autor usa o termocongregação[5] para se referir ao local onde os cristãos se reuniam.

3. A comunhão dos santos

A comunhão dos santos, segundo descreve a Confissão de Fé de Westminster (cap. XXVI), mostra que aquele que tem comunhão com Cristo tem comunhão com seus irmãos. Mas que essa comunhão não o torna o individuo divino como o Senhor Jesus.

A união com Cristo teve seu inicio com o próprio Cristo, o qual se fez carne, morreu em uma cruz, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Tal obra de salvação feita por Cristo foi para que tenhamos paz com Deus e tenhamos comunhão com ele mesmo. Pois, outrora estávamos unidos a Adão, por sua representação federal sob a aliança das obras, sendo essa a nossa comum natureza antes do nosso resgate, feita pelo ultimo Adão, a saber, Jesus Cristo (1Co 15.45; cf. Rm 5.12-19) o cabeça da nova humanidade.

3.1. A natureza desta união

Como foi dito acima, tal união só pode ser obtida porque Cristo resgatou o seu povo para essa comunhão. E por isso rejeitamos a ideia de que Cristo morreu efetivamente por toda a humanidade, pois tal comunhão só pode ser feita com aqueles que foram dados a Cristo, como esses textos nos provam:

Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” (Jo 17.9)

Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” (Hb 2.13-15)

Estávamos sujeitos à morte eterna, mas Cristo nos resgatou nos abençoando em Cristo com “toda sorte de bênçãos espirituais” (Ef 1.3). E, como consequência, nós:

• Somos inseridos no Corpo de Cristo, onde que essa união é de Cristo com os crentes e dos crentes com os próprios crentes (Jo 15.5; 1Co 6.15-19; Ef 1.22,23; 4.15,16; 5.29,30);

• Temos uma união vital, a qual, por intermédio de Cristo, temos uma vida (Rm 8.10) que nos conduz rumo a Deus;

• Temos uma união mediada pelo Espírito Santo, pois é por intermédio do Espírito Santo que temos comunhão com Cristo (1Co 6.17; 12.13; 2Co 3.17,18; Gl 3.2,3);

• Uma união transformadora, pois a união com Cristo nos faz com que a cada dia sejamos mais à imagem de Cristo (Rm 8.29), segundo a nossa natureza humana.

3.2. O reflexo desta união

A Confissão de Fé de Westminster, diz:

Os santos são, pela sua profissão, obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais, que tendam à sua mútua edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas respectivas necessidades e meios; esta comunhão, conforme Deus oferecer a ocasião, deve estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar invoquem o nome do Senhor Jesus (CFW XXVI.II)

O reflexo desta união, segundo a Confissão, por ordem lógica, a nossa comunhão com Cristo deve ser refletida na sociedade, no cuidado da comunidade cristã. Sendo assim, por intermédio desta união com Cristo, o regenerado, o qual possui o Espírito, a mente, a semelhança e imagem de Cristo; isso deve ser refletida em suas atitudes (Rm 8.9; Fp 2.5; 1Jo 3.2).

Berkhof, diz sobre a união com Cristo e a união com a comunidade:
A união dos crentes com Cristo fornece a base para a unidade espiritual de todos os crentes, e, consequentemente, para a comunhão dos santos. Eles são animados pelo mesmo espírito, ficam cheio do mesmo amor, permanecem na mesma fé, empenham-se na mesma luta, e estão ligados pelo mesmo objetivo. Juntos estão interessados nas coisas de Cristo.[6]

Sendo assim, a Igreja tem a responsabilidade de fazer Cristo aparecer em sua vida, cuidando dos necessitados da igreja, necessidade essa que não é só material, mas espiritual também. A igreja, como uma comunidade que tem comunhão com Cristo, é uma comunidade auxiliadora.

Pois o que fazemos aos nossos irmãos, fazemos a Cristo:

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mt 25.34-40)

Willian Hendriksen, comentando a passagem diz:

Aqui se revela a mais estreita conexão entre Cristo e seus genuínos seguidores […]. Tudo o que se faz em prol dos discípulos de Cristo, por amor a ele, é considerado como feito a ele.[7]

3.3. O culto como comunhão dos santos

Assim como os anjos, os crentes aqui na terra adoram a Deus. O interessante é que quando a Bíblia mostra os anjos adorando a Deus, tal adoração é feita em conjunto (Sl 148.2,5; Is 6.3; Ap 4.8). Não estou dizendo que não podemos adorar a Deus em nosso lar sozinho, mas a questão é como a igreja se porta como uma comunidade, que está unida com Cristo, adorando a Deus.

3.3.1. O Dia do Senhor

Cremos que o Dia do Senhor, não mais o sábado, mas o domingo foi estabelecido por Deus como um dia de reunião para adorarem ao Deus que os libertou (Êx 20.2-11). Como o próprio salmista diz: “Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele” (Sl 118.24). No Antigo Testamento é visto por duas vias para que o guardem. Primeiro, o Quarto Mandamento foi estabelecido para que o povo de Deus se alegre na criação de Deus, pois o dia de descanso foi estabelecido após o término da criação. Mas esse dia não é um dia de adoração à criação, mas ao Criador que criou todas as coisas (Êx 31.16).

O segundo motivo da observância deste mandamento é como começa a própria introdução aos dez mandamentos, feito pelo próprio Deus: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20.2). O motivo pelo qual se deve observar o quarto mandamento, mas não só o quarto como todo o resto, é por causa da ação libertadora de Deus.

Mas alguém poderá responder: “Ok, isso é no Antigo Testamento, não para o Novo Testamento, porque não temos nenhuma ordenança para guardamos esse dia na Nova Aliança”. Veremos.

Cremos, biblicamente e confessionalmente, de que o dia estabelecido na Antiga Aliança fora mudado na Nova Aliança. Primeiro, porque o próprio Cristo é o Senhor do sábado (Mt 12.8), logo, sendo ele mesmo o Senhor, ele tem toda a autoridade para mudar o dia.
Segundo, cremos que o dia estabelecido na Nova Aliança é por causa do dia em que foi consumado a nossa libertação e justificação – o domingo, baseando-se no dia de sua ressurreição (Mt 28.1; Mc 16.2,9; Lc 24.1 e Jo 20.1). Juntamente com a nossa libertação, na sua morte e ressurreição, na qual Cristo vence a morte e nos faz participantes desta vitória (Hb 2.13-15), Cristo faz uma nova humanidade, uma nova criatura nele, “porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).

Terceiro, assim como os cultos na Antiga Aliança eram feitos aos sábados, na Nova Aliança os cultos eram feitos aos domingos.
• Começando pelo derramamento do Espírito Santo, como cumprimento da profecia, em um domingo (At 2.1ss; cf. Lv 23.15-21 – NVI).

• Em Atos 20.7 é dito que: “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite” (ênfase acrescentada). Veja que no primeiro dia da semana eles tomaram a ceia.


• Em 1 Coríntios 16.1,2 é dito: “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia.”  E,“no primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar”. As coletas ou recolhimento de ofertas eram feitas aos domingos, porque se entende que era o dia em que os cristãos se reuniam.

• E em Apocalipse 1.10: “Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta”. Simon Kistemaker comentando o versículo, diz: Essa é a única passagem do Novo Testamento em que esse dia é descrito dessa maneira, pois em outros lugares ele é chamado de primeiro dia da semana. É a ressurreição do Senhor, e no fim do 1º século os cristãos haviam começado a se referir a ele não como primeiro dia da semana, mas como dia do Senhor. É o dia dedicado ao Senhor.[8] Da mesma forma, documento o qual Kistemaker faz referência, a Didaquê dos apóstolos, nos diz que “reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro”.[9] Ou seja, o termo Dia do Senhor, já no primeiro século era considerado um dia de culto a Deus.

Vimos até agora as razões da mudança do sábado para o domingo, o qual foi mudado pelo próprio Senhor do sábado. É bem sabido que a ordenança de sua observância no Novo Testamento não há uma descrição direta. Mas cremos, pela validade dos Dez Mandamentos, que todos os mandamentos expressos em Êxodo 20 e Deuteronômio 5 estão válidos perpetuamente. Mas há uma passagem no Novo Testamento que nos mostra a ordenança da observância do sábado cristão (o domingo), quando Jesus disse: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2.27). Alguns entendem que Jesus estava invalidando a observância do sábado cristão aqui pelo o fato deles entenderem que o sábado não é nada se não fosse o homem. J.C. Ryle, explica:

Nessas palavras de Jesus, há uma fonte de profunda sabedoria. Merecem toda a nossa atenção, tanto mais porque ficaram registradas exclusivamente no evangelho de marcos. Vejamos o que elas contêm.

O sábado foi estabelecido por causa do homem.” Deus estabeleceu o dia de descanso em favor de Adão, no paraíso; e renovou-o para Israel, no monte Sinai. O dia de descanso foi estabelecido em favor de toda a humanidade, não somente para os israelitas, mas antes, para toda a descendência de Adão. Foi estabelecido tendo em vista o benefício e a felicidade do homem. Visava o bem de seu corpo, de sua mente e de sua alma. Foi dado ao homem como uma benção e uma graça, não como um fardo. Assim foi sua instituição original.
Porém, o homem não foi criado “por causa do sábado”. 

A observância do dia do Senhor nunca teve a finalidade de ser imposta como algo injurioso à saúde do homem; nunca foi instituída para interferir nas necessidades humanas. O mandamento original: Lembra-te do dia de sábado, para o santificar” (Ex 20:8), não tinha o intuito de ser interpretado como prejudicial ao corpo do homem, ou como empecilho aos atos de misericórdia em favor do próximo. Esse era o ponto crucial que os fariseus tinham esquecido ou sepultado debaixo de suas tradições.

Em tudo isso, nada existe que apoie a precipitada afirmação de alguns, que nosso Senhor anulou o quarto mandamento. Pelo contrário, Jesus falou manifestadamente sobre o dia do descanso como um privilégio e uma dádiva, e regulamentou a extensão de sua observância. Cristo mostrou que obras necessárias e de misericórdias podem ser realizadas no dia do Senhor; mas não proferiu uma única palavra que justificasse a noção de que os crentes não precisam lembrar-se do dia de descanso, “do dia de sábado, para o santificar.
Sejamos zelosos em nossa própria conduta, quanto à observância do dia de descanso. Há bem pouco perigo de que ele esteja sendo observado muito estritamente em nossos dias. Há um perigo muito maior de que o dia do Senhor esteja sendo profanado e esquecido completamente.[10]

Da mesma forma comenta Hendriksen:

O homem foi criado antes do sábado (Gn 1.26- 2.3). O sábado foi instituído para ser benção para o homem: para mantê-lo saudável, útil, alegre e santo, dando-lhe condições de meditar calmamente nas obras do seu Criador, podendo deleitar-se em Jeová (Is 58.13,14), e olhar adiante, com grande expectativa, para o “repouso que resta para o povo de Deus” (Hb 4.9). [11]

Portanto, vemos que observar o domingo não é algo penoso, mas para que reflitamos de nossas obras, principalmente da obra que Deus fez em nossas vidas nos libertando. E, por forma de gratidão e serviço, cultuando-o e adorando e prestando louvores. Isso foi estabelecido desde a Antiga Aliança.

No entanto, o autor de Hebreus nos dá outra razão pela qual devemos observar este dia de descanso enquanto estamos aqui. Ele diz: “Portanto, resta ainda um repouso [no grego ‘descanso sabático’] para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas” (Hb 4.9,10). Essa é a razão pela qual nós observamos o Quarto Mandamento, porque o descanso aqui é um emblema daquilo que será na eternidade, um verdadeiro descanso de nossas obras e um descanso de louvor a Deus.

3.3.2. A santa Ceia

Como forma de comunhão com os santos e com Cristo, o nosso Senhor instituiu a Santa Ceia para que isso fosse expresso nos cultos como forma de adoração, onde todos são beneficiados espiritualmente, nos alimentando e nos fazendo crescer. Todo e qualquer crente sincero deve participar da Ceia do Senhor, pois ela foi estabelecida pelo próprio Senhor (Mt 26.26-29) e confirmada por Paulo quando passa tal prescrição aos crentes de Corinto (1Co 11.23-25). Sendo assim, vemos que a Ceia do Senhor fazia e tem que fazer parte da vida da igreja, pois é uma atitude que deve ser contínua (1Co 11.24).

A Ceia do Senhor deve fazer com que nos lembremos do que Jesus fez por nós, obra essa que nos fez ter união com Ele. A Ceia nos serve de recordação. Nela nos recordamos do que Deus fez com Seu povo na saída do Egito, uma nova aliança (Êx 24.8); ela nos recorda da promessa da nova aliança profetizada por intermédio do profeta (Jr 31.31,33); ela nos recorda de que promessa foi cumprida com o “sangue da nova aliança” (Mt 26.28). Sangue este que foi derramado na cruz, pois “sem derramamento de sangue não há remissão de pecados” (Hb 9.22). A Ceia faz com que nós nos lembremos do pacto que Deus fez conosco, por sua grande misericórdia.

A Ceia do Senhor para a teologia reformada possui outros significados válidos, mas, em tese, quero destacar o fato de que a Ceia é uma manifestação de nossa comunhão. Pois, a Ceia do Senhor só pode ser celebrada por aqueles que foram redimidos e, por isso, fazem parte do Corpo de Cristo, sendo nossos irmãos. Dito isso, quando os redimidos participam da Ceia do Senhor, eles estão unidos na mesma fé, comendo do mesmo pão e bebendo do mesmo vinho, os quais simbolizam o sacrifício de Cristo.

Logo, a comunhão dos santos também o é retratada na participação da Ceia do Senhor, onde que, todos em um mesmo espírito, participam da mesa do nosso Senhor como uma preparação daquilo que vai ser na vinda de Jesus (Mt 26.29).

4. Remissão de pecados

Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniquidade, e que passa por cima da rebelião do restante da sua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na sua benignidade. Tornará a apiedar-se de nós; sujeitará as nossas iniquidades, e tu lançarás todos os seus pecados nas profundezas do mar.” Mq 7.18,19 (cf. Is 43.25).

A resposta 56 do Catecismo de Heidelberg se volta para essa passagem e mostra a grandeza do perdão de Deus:

Creio que Deus, por causa da expiação efetuada por Cristo, não mais se lembrará de meus pecados ou de minha natureza corrompida contra a qual tenho de lutar durante a vida terrena, mas que, graciosamente, me outorga a justiça de Cristo, para que jamais eu seja condenado.

De forma interessante, o Credo coloca o tema “remissão de pecados” no mesmo assunto sobre o Espírito Santo. Seria válido se o Credo colocasse este tema no “Creio em Deus” ou “Creio em Jesus Cristo”. Mas, de forma lógica, o Credo coloca o assunto sobre o perdão de pecados após o Espírito Santo, pois somente o pecador, após ser regenerado, reconhece a necessidade do perdão Divino. Pois, a ordem natural do pecador não regenerado é a mesma de Adão, ou seja, se esconder. À luz de toda a Escritura, o perdão de Deus é incomparável, e mesmo assim a sua santa justiça não é afetada em perdoar o pecador, porque é em Cristo que nós somos perdoados. (Rm 3.21-26).

4.1. Coram Deo

Toda a humanidade está diante de Deus, e ficará no último dia. E é este o significado desta palavra em latim: Diante de Deus.
Aqueles que não têm os seus pecados perdoados, jamais entenderão o que isso significa. Pois, um não regenerado não poderá entender o tamanho do significado desta palavra. Estar diante de Deus nos faz ter em mente duas coisas:

• Para um ímpio estar diante da face de Deus pode não ser nada, mas para o salvo pode ser doloroso. Pois, sendo Deus onipresente, sabendo de tudo quanto fazemos e/ou pensamos, deve nos encorajar a viver uma vida santa e piedosa, porque Deus está vendo cada passo que eu dou e antes mesmo de fazer Deus já sabe. Ou seja, não tem como pegar Deus de surpresa ou tentar ludibria-lo com desculpas esfarrapadas.

• Outro fato de entender o perdão de Deus e estar diante da face de Deus, tem de nos mover a uma integridade vocacional. Porque cremos que Deus criou todas as coisas e os meios de preservar e cultivar tais coisas, por exemplo, música, trabalho, arte, ciência e etc. Logo, estando diante da face de Deus e perdoados de nossa condenação, tudo quanto venhamos a fazer temos que fazer para Deus porque tais obras também são serviços para Deus, primeiramente obedecendo e agradando a Ele. Pois, viver de forma que agrade a Deus nesta integridade vocacional é tentar, com a ajuda do Espírito Santo, a viver e fazer aquilo que foi ordenado a Adão.

O profeta Isaías esteve diante de Deus e entendeu: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6.5).

Viver Coram Deo é entender que, diante de um Deus santo, somos pecadores que necessitam a cada dia da misericórdia de Deus.
Viver Coram Deo é viver como um redimido por Deus em Cristo Jesus, pois tal vida que outrora era pecadora agora é regenerada pelo Santo Espírito. Portanto esta vida, agora não mais escrava do pecado, é uma nova vida diante de Deus, a qual nos deve mostrar a cada dia que, diante de Deus, não há disfarces e/ou mentiras. Mas essa vida Coram Deo envolve santidade, arrependimento, integridade, obediência, temor do Senhor e humildade.

5. A ressurreição e a vida eterna

O Credo, como já tem mostrado, trabalha de forma lógica. Vimos acima que a “remissão de pecados ou perdão” só é possível após o ato sobrenatural do Espírito Santo na vida deste pecador. Assim o é na ressurreição, a qual também será obra do Espírito Santo (Rm 8.11).
Aquilo que, por intermédio da Queda de nossos primeiros pais, ficou deformado, na ressurreição e na vida eterna serão aperfeiçoados. Ou seja, a nova criatura feita em Cristo, enquanto nesta vida, sofre por causa das consequências do pecado, estando esse pecador em um estado de aperfeiçoamento. Mas na ressurreição e na vida eterna essa vida será perfeita onde “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor e nem dor” (Ap 21.4).

5.1. A ética da ressurreição

Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos. E, como ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez” (At 17.31-32).

A ressurreição final, em primeiro lugar, mostra que a ressurreição de Cristo foi real, como argumentei acima e como o próprio Paulo diz, “se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé” (1Co 15.14). Mas a ressurreição final tem o seu sentido moral ético, como o próprio texto de Atos 17.31,32 nos mostra, de que, por meio de Cristo, Deus julgará o mundo.

No último dia Deus vai julgar a todos quantos não se arrependeram, julgando as suas obras diante o tribunal (Rm 14.10). No último dia também, Deus sanará todas as nossas imperfeições, fazendo com que este corpo corruptível se torne incorruptível. No ultimo dia também Deus colocará um fim em todas as injustiças que aconteceu e todos os males, essa é a promessa desde o Antigo Testamento (cf. Ml 2.17 – 3.1-6). Esse é o nosso Bem Maior que sobrepõe o problema do mal, que um dia Deus porá um fim em toda a maldade, tanto a nossas quanto as daqueles que vivem impiamente.

Mas a ética da ressurreição não diz respeito só à questão da nova vida no futuro, mas diz respeito à nova vida aqui no presente:

De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6.4).

Por causa da ressurreição de Cristo e da nossa ressurreição, Deus exige que vivamos não mais como antes, mas como se já fôssemos ressuscitados como Cristo o fora, pois quando nós formos ressuscitados, seremos como Cristo é (1Jo 3.2).

Sendo assim, quando nós pensamos ou falamos da nossa ressurreição futura, não devemos nos esquecer de que, aqui neste mundo, devemos viver como se já fôssemos ressuscitados, pois aquilo que será feito na eternidade é o que foi começado aqui, como diz John Murray:

A perspectiva escatológica deverá sempre caracterizar nossa atitude para com as coisas temporais e temporárias.[12]

6. Amém

Chegamos no final do Credo Apostólico, onde ele termina de forma afirmativa, confirmando ser verdadeiro aquilo que fora dito antes. A palavra amém é usada de diversas formas e nossos dias, mas a Bíblia mostra a forma de como devemos usá-la.

A palavra amém é uma palavra hebraica usada no Antigo Testamento e na adoração da sinagoga.[13] O amém não é uma frase que conclui somente uma oração como um desejo ardente, mas expressa uma aceitação de ordens e/ ou ameaças (Dt 27.17-26).

Amém não é uma pergunta, mas sempre é usada de forma afirmativa em todas as suas circunstâncias. O amém enfatiza a declaração como importante para aquele que fala e se identifica totalmente com ela. Sendo assim, segundo cada afirmação do Credo, nada mais justo terminar essa confissão de forma afirmativa e crendo ser verdadeiro tudo aquilo que o Credo disse.

Por isso, quando terminamos a nossa oração, uma leitura bíblica e/ou uma pregação com um amém, nós estamos confirmando que isso é verdadeiro e estamos aceitando o que fora dito. Sendo assim, terminamos este breve comentário com o amém, crendo serem verdadeiros e confiáveis cada parte deste Credo. Amém!
______________
Notas:
[01] KUYPER, Abraham. A obra do Espírito Santo. 1.ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 205
[02] O Credo dos apóstolos não trata sobre a unicidade da Igreja. Mas o termo “una” vem no Credo Niceno-Constantinopolitano de 381 d.C.
[03] BULLINGER, Heinrich.  Segunda Confissão de Helvética. 30 de Dezembro de 2014.
[04] TURRETINI, François. Compêndio de teologia apologética: volume 3 – São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 117.
[05] Em Tiago 2.2 o termo sinagoga é συναγωγ
ν (sunagogén) e em Hebreus 10.25 o termo congregação é πισυναγωγν (episunagogé).
[06] BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. – 3ªed. Revisada_ São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 418.
[07] HENDRIKSEN, William. Comentário do NT – Mateus Vol. 02. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p.467.
[08] KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento – Apocalipse. 2ºed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p.128.
[09] A Didaquê dos apóstolos – http://www.monergismo.com/textos/credos/didaque.htm. 01 de Janeiro de 2015.
[10] RYLE, J.C. Meditações no Evangelho de Marcos. 1ªed. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2011, p.29
[11] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Marcos – 1ªed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p 144
[12] Principles of Conducts, p. 72. Citado por George Ladd em: LADD, George. Escatologia e ética. In: HENRY, Carl F. H. et al (org.). Dicionário da ética cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
[13] Cf. PACKER, J.I. A oração do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. P. 107


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Série Credo Apóstolico.






Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

Nesta segunda parte, o Credo Apostólico ratifica quem é Cristo, a Sua divindade como segunda pessoa da Trindade, como ele nasceu, morreu e ressuscitou.

Durante séculos Jesus sofreu vários ataques, alguns negaram a Sua divindade, sua humanidade, sua existência. Hoje, os ataques à pessoa de Cristo são um pouco diferentes, alguns desses ataques, ou melhor – blasfêmias, é inventar alguns títulos a Cristo, os quais não possuem base bíblica. Na verdade esses títulos não são para engrandecê-lo, mas para menosprezar sobre quem Ele é na realidade.

Certa feita Jesus pergunta aos seus discípulos: “Quem diz os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16.13-16). A resposta de Pedro é a mesma que afirma o Credo em outras palavras, Jesus Cristo, seu único Filho.

Para o homem moderno essa declaração de Pedro é antiquada, para eles, Jesus foi um grande psicólogo que já existiu, outros veem Jesus como um grande revolucionário de sua época, um profeta. Todas essas declarações e outras as quais fazem com que percam o sentido bíblico de quem é Jesus, podem ser consideradas como atitudes de um anticristo. João, em sua primeira carta, vai nos mostrar que o espirito do anticristo é aquele que não confessa que Jesus veio em carne. Provavelmente João estava se deparando com um pré-gnosticismo, mas o mais interessante é que não confessar como é Jesus e, como ele veio, e para que veio, essa pessoa tem o espirito do anticristo. Logo, qualquer pessoa que intitula Cristo de algo que faz com que se perca do foco da revelação bíblica, esse tem o espirito do anticristo.[1]
Mas não é assim que o credo trabalha, ele nos mostra de forma magnifica e resumida sobre quem é Cristo e o que Ele fez:

• Filho de Deus
• Nosso Senhor
• Nasceu da virgem Maria, concebido pelo Espirito Santo.
• Crucificado, morto e ressuscitado.
• A ascensão de Cristo
• Segunda vinda


1. Filho de Deus 

No Antigo Testamento o termo “Filho de Deus” era aplicado a nação de Israel, aos juízes, aos anjos e especialmente ao rei. No Novo Testamento a igreja toma o lugar de Israel e ela é consistida dos “filhos de Deus”, por adoção.
Mas, no caso de Cristo, este nome adquire um significado mais profundo. Se eu não reconheço Cristo como Filho de Deus, eu estarei negando o seu:

Sentido messiânico. Crer que Jesus é o Messias é crer que Cristo, o Filho de Deus, é o libertador profetizado na Antiga Aliança, o qual deveria morrer pelos pecados de seu povo (Is 52.13 – 53.12). Crer que Cristo é o Messias é crer que o Filho é o próprio Deus. Pois alguns textos mostram claramente de que a salvação pertence ao Senhor (Jn 2.9), e que o próprio braço do Senhor pode salvar (Is 59.15-20; cf. 43.3, 11; 45.15,21). A afirmação de que Jesus é o Messias é central no evangelho bíblico.

Sentido trinitário. A Escritura mostra que Cristo é a segunda Pessoa da trindade, o testemunho escriturístico e é claro em mostrar que Cristo é Deus porque é igual ao Pai em essência, poder e santidade, em essência, Cristo é igual ao Pai em eternidade (Jo 17.5,24), em honra e glória (Jo 5.23, 17.1,4,5), criador e redentor (Jo 1.3; 5.21), em domínio (Lc 10.22; 22.29), em perfeição (Hb 7.28), auto existência (Jo 1.4. 14.6) e digno de adoração (Mt 14.33); em poder, Cristo mostra sobre a natureza (Mt 4.3; 14.15-23), sobre satanás (Jo 5.21; 6.40), para perdoar pecado (Mc 2.5-7) e em santidade (Lc 1.35; Jo 10.36).

Assim, com as definições acima, podemos ver que há, de fato, duas naturezas em Cristo. Quando a Bíblia mostra Jesus como Filho de Deus, a Bíblia está mostrando a deidade de Cristo. E quando a Bíblia mostra Jesus como o Filho do Homem, a Bíblia está mostrando a sua humanidade. Mas Cristo é também chamado de Filho de Davi, onde que, esse título faz referência ao seu messianismo. É em Cristo que o trono de Davi é perpetuamente continuado (Sl 89.29,34-36), é onde que o tabernáculo de Davi é levantado (Am 9.11, cf. At 15.16). Este Rei, o Filho de Davi, não tem um reino politico, mas é Ele que inaugura e anuncia o Reino de Deus.

2. Nosso Senhor

Crer que Cristo é Senhor sobre tudo e todos para a atual sociedade é repugnante, para a atual sociedade a melhor forma de guiar o mundo é não tendo um governante, fazendo assim, com que todos sejam anárquicos.

Até para o evangelicalismo o título de Senhor atribuído a Cristo é menosprezado, um dos sentidos que o termo Senhor é usado é o fato de fazer referência a um senhor que é dono de escravos. E é isso que a Bíblia declara. Ela nos testifica que “…não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço…” (1 Co 6.19,20) e o mesmo Paulo fala em suas epístolas que é “escravo de Cristo”. Aqui o crente é visto como uma possessão de Cristo, mas para alguns ser escravo de Cristo é humilhante e opressor, mas o que alguns não entendem é que a verdadeira liberdade é ser escravo de Cristo.

Outro uso da palavra Senhor no Novo Testamento referindo-se a Cristo está relacionado com o Antigo Testamento. A palavra “senhor” no grego (Kyrios) foi usada para traduzir a palavra hebraica Adonai na Bíblia do Antigo Testamento em grego (LXX), palavra essa que foi usada na liturgia de Israel para substituir a palavra Yahweh, a qual não podia ser proferida.[2] No Novo Testamento Jesus recebe o título de Senhor o qual está assentado à direita de Deus, e assim, Cristo recebe o título de Adonai, pois quando Jesus é chamado de “Senhor dos senhores” não resta dúvida que o termo se refere a uma autoridade absoluta sobre toda a autoridade.

Por isso que para a atual sociedade crer que Jesus é Senhor sobre tudo e todos, é humilhante. Para os cristãos do primeiro século, crer que Jesus como Senhor era desonrar a César e esperar arcar com as consequências.

3. Nasceu da virgem Maria, concebido pelo Espírito Santo

Como uma expressão de fé, o Credo confirma que Jesus nasceu de uma virgem por obra do Espirito Santo, e este é um dos temas mais descridos. Como uma virgem pode dar a luz se não houver um contato com um homem? Mas qual a implicação de crer que Cristo nasceu de uma virgem?

3.1. A necessidade de uma virgem

A necessidade de uma virgem não era para fazer com que Jesus fosse santo, no entanto, Cristo seria e é santo por ser a sua natureza eternamente santa. Mas a necessidade de que Cristo nascesse de uma virgem era para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta “Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho…” (Is 7.14). Alguns entendem que o termo almah não é tão apropriado assim para fazer jus ao termo “virgem” que Mateus descreve em 1.23. Holladay define o termo almah como uma “moça (em idade para se casar)”.[3] E assim surgiram vários ataques dizendo que a referência de Mateus a Isaias era forçada demais. A questão é que a profecia se cumpre nos tempos de Isaias (a curto prazo) e ela aponta para o futuro por causa doDeus Conosco (a longo prazo).[4] Além de ser uma dupla referência, a própria Septuaginta (LXX – uma tradução do 1º século antes de Cristo do Antigo Testamento) traduz o termo “virgem” do hebraico para o grego perthernos, da mesma forma que cita Mateus. Logo, seria difícil concluir que os tradutores da Septuaginta queriam favorecer o cristianismo, como acusam Mateus, o evangelista, de ter feito isso.

Beale explica sobre o significado de explícitos e implícitos que há em tais passagens, G.K. Beale defende que tal concepção, o qual ele chama de “O conceito de visão periférica cognitiva,[5] era mantida pelos escritores do AT (significados explícitos) e que estes possuíam, o significado implícito. Ou seja, segundo Beale, “quando os autores neotestamentários e veterotestamentários fazem afirmações diretas com um significado explicito, essas afirmações sempre pressupõem uma gama correlata de significados secundários que ampliam o significado explicito”.[6] Por exemplo, quando o autor neotestamentário diz que os crentes estão “em Cristo”, quais aspectos envolvem essa união? Essa união de estar “em Cristo” envolve todos os aspectos salvívicos concedidos por Cristo e em Cristo. Ou seja, quando o apóstolo Paulo fala de justificação, é óbvio que o apóstolo não estava deixando de lado o tema sobre santificação.

3.2. Por que crer que Jesus nasceu de uma virgem? 

Vimos acima que o fato de Cristo nascer de uma virgem não era para que Ele nascesse santo, mas para se cumprir a profecia que fora dita pelo profeta. Mas, por que é essencial para a fé cristã crer que Jesus nasceu de uma virgem?
Além de crer que a Escritura é inerrante, pelo fato de cumprir a profecia, é crer na salvação como uma obra sobrenatural. Crer que o nosso Senhor nasceu de uma virgem mostra a eficácia da redenção, isso mostra que Cristo era verdadeiro homem e verdadeiro Deus, pois Cristo era um homem perfeito porque não herdou a natureza pecaminosa de Adão, e era Deus por ser a sua natureza santa, sendo assim, um redentor perfeito. O milagre do nascimento virginal de Cristo mostra a realidade do milagre do novo nascimento na vida do pecador.

Rousas John Rushdoony, diz:

“O nascimento virginal é um milagre, o milagre de uma nova criação, uma nova humanidade. O renascimento de todo cristão é um milagre, o milagre da regeneração por Jesus Cristo. Esse segundo milagre depende do primeiro. Porque Jesus Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus, ele é capaz de refazer o homem segundo a sua imagem. Ele é capaz de preservar o homem dos poderes das trevas, e é capaz de sujeitar todas as coisas ao seu domínio. De fato, o objetivo da história é declarado de antemão: “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15). Temos um destino glorioso naquele que nasceu da virgem Maria.[7]

Somente aquele que nasceu de novo, provou a graça do novo nascimento, pode afirmar que o nosso Salvador nasceu de uma virgem, não herdando a sua natureza pecaminosa porque o seu Pai é Deus e sua natureza é santa.

4. Crucificado, morto e ressuscitado

Esta parte, para qualquer teólogo liberal é difícil de aceitar. E isso pode ser um problema para a atual sociedade. Por exemplo, todo o mundo comemora o Natal (de forma errada, mas comemoram). É mais fácil crer no nascimento do que na morte e ressurreição de alguém. O Natal, até para os cristãos, é mais comemorado do que a Páscoa (que simboliza a ressurreição). Ou seja, crer em um nascimento é fácil, mas na ressurreição não. Mas, o que significa o fato de Cristo ter sido crucificado, morto e ressuscitado?

4.1. Por que Deus necessitou de uma cruz?

Sendo Deus todo poderoso, criador de todas as coisas, por que Ele precisou de uma cruz para com que recebêssemos o perdão de nossos pecados?

Paulo nos dá uma luz, dizendo:

Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro.” (Gl 3:13)

Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.” (1º Coríntios 1:23)
Paulo nos mostra que a cruz era maldição que produzia escândalo nos gregos. Para os romanos era o castigo mais cruel e asqueroso, morrer em uma cruz era a forma de morrer mais torturante que podia existir, era para os assassinos e rebeldes.

Se a cruz para os romanos era asquerosa, quanto mais para um judeu que, segundo a Lei, ser pendurado no madeiro era sinal de maldição (Dt 21.22,23).

A maldição da cruz é colocada sobre Cristo. Ele, sendo o nosso substituto, se faz maldito para nos tornar bendito diante de Deus, o Pai. O Justo morre pelos injustos. E Pedro, enfatizou aos judeus de sua época, lembrando-os da maldição de Cristo:

O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro.” (At 5.30)
E nós somos testemunhas de todas as coisas que fez, tanto na terra da Judéia como em Jerusalém; ao qual mataram, pendurando-o num madeiro.” (Atos 10.39)

Por não terem conhecido a este, os que habitavam em Jerusalém, os seus príncipes, condenaram-no, cumprindo assim as vozes dos profetas que se leem todos os sábados. E, embora não achassem alguma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto. E, havendo eles cumprido todas as coisas que D’Ele estavam escritas, tirando-O do madeiro, o puseram na sepultura.” (At 13.27-29)

Pedro, assim como outros cristãos, não tinha vergonha de falar que o seu Senhor foi amaldiçoado no madeiro, por causa de seus pecados. Como o próprio Pedro fala: “carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados.” (1Pe 2.24)

A cruz de Cristo mostra que os planos de Deus são bons, mesmo quando não entendemos, a crucificação de um inocente é a pior coisa que aconteceu, mas ao mesmo tempo foi a melhor coisa que nos aconteceu. Pois, se cremos que Deus tira um Bem Maior do mal, o maior bem que Deus fez foi moer o seu próprio Filho na cruz em favor de muitos.
Sendo assim, a razão da cruz, segundo Philip Ryken, era sofrer a maldição que nós merecemos pelos nossos pecados.[8]

4.2. O Servo sofredor

Jesus, em Isaías 53, é descrito como o “servo sofredor”. O termo não aparece no texto, mas mostra o Servo de Deus sofrendo, pela vontade e pelas mãos de Deus, em favor de muitos. Não podemos falar sobre a morte de Cristo sem falar de suas causas. Vejamos algumas coisas que o profeta Isaías nos revela sobre a morte de Cristo e o propósito da causa do sofrimento de Cristo.

4.2.1. O pecado humano

Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.” (Isaías 53.4-9)

Isaías mostra que as nossas dores, enfermidades, transgressões e iniquidades são a causa da morte de Cristo, o servo sofredor, por causa da desobediência de nossos primeiros pais e o pacto quebrado, toda a humanidade recebeu a condenação de Adão. Este, sendo o representante de toda a raça humana, condenou a todos ao inferno. Mas Deus o fez enfermar para que nos reunisse em um só rebanho com um só pastor.

4.2.2. O agrado do Pai

Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão.” (Isaías 53.10)
A morte de Cristo não foi um mero acaso, até porque Cristo é o cordeiro morto desde a fundação do mundo (Ap 13.8). Foi a vontade de Deus moer o Seu Filho. Aqui, a pergunta sobre o mal é respondida: Por que Deus permite que alguém bom (realmente bom) sofra, Deus seria capaz disso? Sim! Deus permitiu e fez com que o Santo de Israel, o Ungido, sofresse em favor de seu povo para que o bom prazer prosperasse em suas mãos.

John Piper, diz:

O seu alvo era destruir o mal e o sofrimento através do próprio mal e sofrimento. “Pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53.5). Por meio do sofrimento de Jesus Cristo, Deus deseja mostrar ao mundo que não há pecado nem mal tão grande do qual Ele, em Cristo, não possa fazer surgir justiça e alegria eternas. “O próprio sofrimento que causamos tornou-se a esperança de nossa salvação.” [9]

4.2.3. Expiação

A morte de Cristo, segundo o texto de Isaías 53.10, é expiatória. D.A. Carson define expiação como “o ato pelo qual o pecado é cancelado, anulado, apagado do registro”.[10] A morte de Cristo na cruz nos mostra que por nós mesmos os nossos pecados não poderiam ser pagos, muito menos cancelados. Em Cristo, Deus propôs expiação por nossos pecados (Rm 3.25), ou seja, removendo e afastando de nós o nosso pecado.

4.2.4. Para se satisfazer

O texto prossegue dizendo: “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento, o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles,  levou sobre si.” (Isaías 53.11)


Cristo morre na cruz sabendo que seu trabalho não seria em vão, tinha plena certeza do bom resultado do seu penoso trabalho. Aqueles que creem em uma expiação universal têm sérios problemas com esse verso, visto que, Cristo morre por toda a humanidade, sabendo que nem todos serão salvos, Ele ficaria com o fruto do seu trabalho? Creio que não, pois que fruto é esse de algo que não foi eficaz? Somente a morte substitutiva pode cumprir com este propósito.

Este belo trabalho envolve a justificação, esta só pode ser feita por alguém justo, e Cristo é Servo Justo, o qual justificará a muitos. A justificação é o ato pelo qual Cristo, tomando o nosso lugar, nos declarou quites para com a Lei de Deus.

Sendo assim, a morte de Cristo era necessária para se cumprir o que os Escritos já mostravam, pois era impossível a nós satisfazer à ira de Deus, e Cristo, Seu Filho, recebe a nossa condenação na cruz cancelando os nossos pecados e dividas diante de Deus.

4.3. Ele não está aqui

Esta foi a frase que o anjo disse às mulheres quando foram até o túmulo no domingo de manhã (Mt 28.6).
Nos pontos acima vimos a Sua humilhação, Cristo, sendo Deus, como Paulo descreve, não teve usurpação em ser igual a Deus, antes, foi um servo obediente até a morte e morte de cruz (Fp 2.5-11). Cristo, em seu estado de humilhação, nasceu de uma pecadora, viveu entre pecadores, comeu com esses pecadores, por causa dos pecadores foi humilhado, cuspido e morto na cruz. O credo agora vai mostrar o Seu estado de exaltação: Ressurreição e ascensão.

4.3.1. Cristo ressuscitou para quê?

Como mostrei acima quando falei do seu nascimento, abordei a questão de que a nossa sociedade, mesmo sendo a comunidade cristã, não dá tanta importância a Páscoa. Infelizmente alguns cristãos fazem mais festa no dia 25 de dezembro (tradicionalmente comemora-se o nascimento de Cristo), do que a sua ressurreição, a qual os primeiros cristãos, com o testemunho bíblico, entenderam ser Cristo a nossa páscoa (1Co 5.7).

Portanto, nós vimos acima que Cristo foi morto na cruz por causa dos nossos pecados. Mas, e se Cristo não tivesse ressuscitado? Paulo nos responde que “se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1Co 15.14)

Calvino, diz:

“É vã a pregação, não simplesmente porque ela inclua certo elemento de falsidade, mas porque é indigna e um completo logro. Pois o que fica se Cristo foi devorado pela morte; se foi aniquilado; se sucumbiu sob a maldição do pecado; se, finalmente, ficou cativo de Satanás? Numa palavra, uma vez que o principio fundamental foi removido, tudo o que resta será de nenhum valor”. [11]

A nossa fé e pregação, que é uma exposição daquilo que cremos, vai por água abaixo. Pois, a nossa justificação foi fruto da ressurreição de Cristo, vencendo a morte. Cremos e pregamos que todos quantos morrerem em Cristo antes da Sua volta, ressuscitarão para a vida eterna, porque Cristo também ressuscitou sendo a primícia dos que dormem (1Co 15.13,20). Se Cristo não ressuscitou a nossa vida continua a mesma, debaixo de maldição, sendo escravo do mundo, a carne e o Diabo, e assim, “comamos e bebamos que amanhã morreremos” (1Co 15.32).

A ressurreição é o elemento mais importante da igreja cristã, pois quando Cristo foi crucificado os discípulos fugiram, mas quando Cristo ressuscita eles saíram de onde estavam escondidos e passaram com Cristo quarenta dias ouvindo acerca do reino de Deus (At 1.3).

É nisso que está firmada a nossa fé, pois na ressurreição de Cristo temos:

         • A certeza de nossos pecados pagos;
         • A certeza de que fomos absolvidos diante de Deus;
         • A certeza de que Cristo não era pecador, porque a morte não o venceu;
         • Que na sua morte e ressurreição Cristo venceu a morte e despojou os principados e potestades;
         • A certeza de que ressuscitaremos e viveremos com ele eternamente.

4.3.2. A ressurreição de Cristo é uma prova da 
Trindade

Assim com a obra de salvação é realizada pela Trindade[12], a ressurreição de Cristo é também uma prova disto. A Escritura declara que a ressurreição de Cristo foi pelo:

Deus Pai – At 3.26 “Ressuscitando Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, no apartar, a cada um de vós, das vossas maldades.” (cf. Gl 1.1)

Deus Espirito – Rm 8.11 “E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.”

Deus Filho – Jo 10.18 “Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebeu de meu Pai.” (cf. Jo 2.9)

4.4. A ascensão de Cristo

A ascensão de Cristo é a ordem natural da ressurreição, se constituindo no selo do cumprimento da sua obra expiatória. A ressurreição de Cristo está ligada a três princípios: Eclesiologia, soteriologia e escatologia.

4.4.1. Eclesiologia

Cristo, ao ressuscitar, passa quarenta dias ensinando os seus discípulos e com mais de quinhentos irmãos (1Co 15.6). Antes de ascender aos céus Cristo incumbiu aos seus discípulos que ficassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24.49). Sendo assim, a igreja tem a incumbência de:

        • Pregar a Cristo – Mc 16.19,20; cf. At 4.13

• Viver diariamente como Corpo de Cristo – Ef 1.22,23

A ascensão de Cristo é um estimulo de perseveramos na fé, sabendo piamente, que o nosso Senhor estará conosco até a consumação dos séculos.

4.4.2. Soteriologia

A ascensão de Cristo ressalta o cumprimento de sua missão, revelando a Sua glória e poder, enquanto na encarnação Cristo se desprende de Sua glória, na sua ascensão Cristo volta ao seu estado anterior ao seu nascimento. E assim Paulo diz sobre a ascensão e salvação: “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro” (Ef 4.8). As suas ovelhas estavam mortas em pecado, cativos no poder de satanás. Mas, na ascensão de Cristo, Ele consome a sua obra para a plena posse da salvação dos eleitos.

4.4.3. Escatologia

A ascensão de Cristo é marcada por um dialogo entre os seus discípulos e seu Senhor e a resposta de dois homens vestidos de branco:

Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntou-lhe, dizendo: Senhor te restaurará neste tempo o reino a Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder […] E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.” (Atos 1.6,7, 9-11)
A resposta de Jesus aos seus discípulos é bem enfática, dizendo que não compete aos homens saber o dia de sua vinda (cf. 1Ts 5.1), mas que Jesus voltará da mesma forma que os vistes subir, afirmam os homens de branco.
Essa é a esperança que move a Igreja, pregar o Evangelho a todas as pessoas até que venha o fim, sabendo que o nosso Senhor Jesus voltará com grande poder e glória e consumará todo o mal, fazendo justiça começando pela casa de Deus (Ml 3.1-5, 13-18; cf. 1Pe 4.17).

4.4.4. Em que a ascensão de Cristo nos beneficia
Primeiro, temos um advogado junto ao Pai (1Jo 2.1), Cristo está no céu defendendo a nossa causa, para sempre. Satanás não pode nos acusar mais, pois Cristo é o nosso advogado que está pronto para nos defender.

Segundo, temos a nossa própria carne no céu. Cristo, quando ressuscitou, foi com o mesmo corpo, só que glorioso. Ou seja, o corpo que Ele viveu entre os pecadores foi o mesmo que ressuscitou e ascendeu aos céus. Essa é a nossa esperança, de que, da mesma forma que Cristo ressuscitou e ascendeu aos céus, nós, os que estamos em Cristo, ressuscitaremos e viveremos eternamente com ele (Cl 3.3-4).

Terceiro, temos o Espírito Santo como resultado, Cristo tinha dito aos seus discípulos que se Ele não fosse o Espírito não viria. Ele sobe aos céus, a promessa é cumprida e o Espírito passou a habitar em toda carne (Jo 16.7; At 2.17). Por intermédio do Espírito, Cristo está presente conosco.

4.4.5. Assentado a direita de Deus

No último aspecto sobre o seu estado de exaltação, após a ressurreição, o Credo mostra que Cristo foi levado às alturas, posto à direita de Deus em sinal de autoridade, ficando acima de todo principado, potestade, um nome que está acima de todo nome (Ef 1.10,21), sujeitando todas as coisas sob seus pés (1Co 15.27), tendo-se tornado tão superior aos anjos quando herdou mais excelente nome do que eles (Hb 1.3-4).

A.A. Hodge, diz:

“Cristo assentado sobre esse trono, durante a presente dispensação, como mediador, aplica eficazmente ao seu povo, por meio do seu Espírito, a salvação que previamente havia adquirido para eles em seu estado de humilhação.”[13]
Enquanto Cristo estiver à direita de Deus, Cristo está intercedendo pelos eleitos e por aqueles que serão salvos, mas Cristo virá outra vez para julgar os vivos e os mortos.

4.5. Segunda vinda

A vinda de Cristo, para o Credo, é enfática. Ele morre, ressuscita, ascende aos céus e voltará. Essa é a certeza de toda a história cristã, tendo como base a certeza de sua ressurreição, como mostrei acima.

A certeza da volta de Cristo é um sinal de esperança gloriosa e de medo, porque a Bíblia diz para nós vigiarmos todos os dias, pois não sabemos nem o dia e nem a hora da volta do Filho do Homem, e uma esperança, pois temos a certeza de que nossas lágrimas serão enxugadas.

O crente deve ter em mente que a volta de Cristo, para a sua igreja fiel, é um consolo. O Catecismo de Heidelberg, no 19º Dia do Senhor, pergunta:

Que consolo lhe dá o fato de que Cristo há de vir para julgar os vivos e os mortos?

Resposta: Que em todas as minhas aflições e perseguições eu de cabeça erguida e cheio de ânimo espero vir do céu, como juiz, Aquele mesmo que antes se submeteu ao juízo de Deus por minha causa, e removeu de sobre mim toda a maldição. Ela lançará todos os Seus e meus inimigos na condenação eterna, mas levará para Si mesmo, para o gozo e glória celestiais, a mim e a todos os Seus escolhidos. (pergunta 52)
A resposta da pergunta 52 do Catecismo nos mostra três motivos para nos alegrarmos sobre a sua segunda e única vinda.

Primeira, é um consolo porque não tememos o julgamento, porque a ira que nós merecíamos foi derramada sobre o nosso Senhor, sendo assim, todas as nossas aflições e perseguições que sofremos aqui na terra cessarão. Segundo, a sua vinda nos traz consolo porque Cristo subjugará todos os nossos inimigos debaixo de seus pés. Isso não surge com um tom de vingança pecaminoso, mas a certeza, a qual a Bíblia nos diz, que toda injustiça será feita justiça que é vinda do próprio Deus. Esse é o brado daqueles que estão debaixo do trono de Deus: “E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Ap 6.10).

Terceiro, nos mostra que na sua vinda teremos a certeza que em corpo e alma moraremos eternamente com o nosso Senhor. A vinda do juiz indica o fim de todo sofrimento, de toda depressão, de todo câncer e de todos os males causados pelo pecado.
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Notas:
[1] Cf. 1 João 2.18,22; 4.4.3; 2 João 1.7
[2] SPROUL, R.C. Discípulos hoje. 1º ed. – São Paulo: Cultura Cristã, p. 32
[3] HOLLADAY, William L. Léxico hebraico  e aramaico do Antigo Testamento. 1ªed. – São Paulo: Vida Nova, p. 389
[4] Cf. OSWALT, John. Comentário do Antigo Testamento – Isaías – vol. 01. 1ªed. – São Paulo: Cultura Cristã. p. 263-267
[5] BEALE, G.K. O uso do Antigo Testamento no Novo Testamento e suas implicações hermenêuticas. 1ª ed.– São Paulo: Vida Nova, p. 11-12
[6] Ibidem. p.55
[7] RUSHDOONY, Rousas John. Nascido da virgem Maria.
http://www.monergismo.com/textos/cristologia/nascido-virgem-maria_rushdoony.pdf
Acessado em 26/Dezembro/2014.
[8] Veja a obra de MONTGOMERY, James. A ofensa da cruz. In: GRAHAM, Philip. Et al. O coração da cruz. 1ª ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
[9] PIPER, John. Para sua alegria. 1ªed. São José dos Campos, SP – Ed. Fiel. 2008, p. 25
[10] CARSON, D.A. Qual a diferença entre propiciação e expiação? 
https://www.youtube.com/watch?v=Zz8rDC8pess. Acessado em 26/12/2014.
[11] CALVINO, João. 1 Coríntios. – 2.ed. – São Bernardo do Campo, SP: Edições Parakletos. 2003, p. 465
[12] Ef. 1.3-5 (Deus Elege); 6-12 (Jesus redime); 13-14 (Espirito Santo sela) (cf. 1Pe 1.2).
[13] HODGE, A.A. Esboços de teologia. 1.ed. – São Paulo: PES, 2001, p. 617.