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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Aspectos Bíblicos da doutrina da Trindade





Aqueles que negam a existência da Trindade, em geral acusam os trinitarianos de inventar uma doutrina que não está na Bíblia. Embora o termo “Trindade” realmente não seja encontrado na Escritura, existe toda uma convicção de que essa doutrina é amplamente comprovada pelos textos sagrados. Aliás, de onde tal doutrina poderia surgir senão da Revelação de Deus? Quem poderia formular essa doutrina do nada?

A igreja teve que reconhecer e defender a Trindade exatamente para poder conciliar os elementos bíblicos. Como crer que há somente um Deus como as Escrituras afirmam (Dt 6.4), se as próprias Escrituras dizem que Jesus também é Deus (Jo 20.28)? E do mesmo modo afirma que Jesus e o Pai são pessoas distintas (Mt 3.16-17)?

Evidências do Antigo Testamento

No Antigo Testamento podemos encontrar indícios da existência da Trindade. Ela não está explicitamente exposta no Antigo Testamento, mas à luz da revelação do Novo Testamento podemos ver indícios claros dessa doutrina ainda no Antigo Testamento.

Uma coisa que fica absolutamente clara é a ênfase do Antigo Testamento na unicidade de Deus (Dt 4.35,39; 32.39; 2Sm 22.32; Is 37.20; 43.10). A principal confissão de fé do povo hebreu em Deuteronômio 6.4 diz: “Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Da mesma forma Isaías 45.18 diz: “Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o único Deus, que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o SENHOR, e não há outro”. Porém, encontramos em muitos outros textos claras indicações de que dentro da divindade há mais de uma pessoa.

O Nome de Deus

O título “Elohim”, traduzido como Deus em Gênesis 1.1, é o nome mais comum aplicado à divindade no Antigo Testamento. Esse nome está no plural. Isso por si só não quer dizer que haja três pessoas na divindade, mas de alguma maneira implica em pluralidade dentro da divindade. Entendemos o texto de Gênesis 1.1-3 à luz do texto de João 1.1-2 como sendo uma referência à obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo na Criação.

A comunicação de Deus consigo mesmo

Textos como Gênesis 1.26, 3.22, 11.7 e Isaías 6.8 têm sido bastante difíceis de explicar. Nesses textos é como se Deus falasse consigo mesmo na primeira pessoa do plural: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” (Gn 1.26). Com quem Deus estava falando nesses momentos? Certamente não era com os anjos, pois o homem não foi feito à semelhança dos anjos, nem os anjos estão no mesmo nível de Deus. [5] E a Bíblia não diz que Deus tome conselho com anjos ou qualquer outra criatura (Is 40.13-14). A resposta mais plausível é que Deus falava consigo mesmo dentro da Trindade.
Esse entendimento só é possível à luz da revelação do Novo Testamento, a qual de uma maneira ainda mais clara demonstra o relacionamento dentro da Trindade, conforme pode ser visto nas palavras do próprio Jesus: “Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14.23). O mesmo “nós” dos textos do Antigo Testamento pode ser visto no relacionamento de Jesus com o Pai.

A repetição dos nomes de Deus na Bênção Araônica

Na Bênção Araônica lemos: “O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26). Três vezes aparece no texto o título SENHOR. À luz da revelação do Novo Testamento, especialmente da Bênção Apostólica, onde as três pessoas estão claramente distintas (2Co 13.13), conseguimos ver na Bênção Araônica indícios da Trindade. [6]

O Anjo do SENHOR

Uma boa referência do Antigo Testamento sobre a Trindade encontra-se na pessoa do Anjo do SENHOR. O caso é que algumas vezes esse Anjo, que deve ser distinguido dos demais anjos, se identifica com o próprio Senhor, enquanto que em outras ocasiões ele é distinguido do Senhor, o que nos leva a pensar em pluralidade de personalidade (Ver Gn 16.7-13; 22.15-16; Gn 31.11-13; Ex 3.2-6; Ex 23.23, 32.34 e Nm 20.16). Geralmente associa-se essa figura do Anjo do SENHOR com a Segunda Pessoa da Trindade.

Aparições de Deus

Talvez a prova mais evidente do Antigo Testamento com relação à Trindade encontre-se nas aparições de Deus. A Escritura do Novo Testamento diz que ninguém jamais viu a Deus (Jo 1.18; 5.37; 6.46; 1Jo 4.12). Como explicar, então, todas as supostas aparições de Deus no Antigo Testamento? (Gn 18.1; 28.13; Ex 33.18-23; Dt 34.10). João mesmo explica: “Ninguém jamais viu a Deus, o Deus unigênito que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18). João chamou Jesus de Logos (Jo 1.1) que é traduzido como Palavra ou Verbo, e traz a ideia de fala ou comunicação.

Entendemos então, que Jesus foi o revelador da pessoa divina no Antigo Testamento. Jesus disse que Abraão havia visto o seu dia, pois existia antes de Abraão (Jo 8.56-58), referindo-se com certeza à ocasião da destruição de Sodoma e Gomorra, quando Abraão viu o Senhor, conforme relata Gênesis 18.1: “Apareceu o SENHOR a Abraão nos carvalhais de Manre, quando ele estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia”. Quem Abraão viu naquele dia, foi o próprio Jesus antes de sua encarnação. Depois daquele encontro, os anjos desceram e destruíram as cidades.

Outro texto que ajuda a perceber que Jesus se manifestou no Antigo Testamento é João 12.37-41: “E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso, não podiam crer, porque Isaías disse ainda: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados. Isto disse Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito”. Note que João disse que Isaías viu a glória de Jesus. Mas, quando, e em que ocasião? O verso 40 é uma citação direta do capítulo 6 de Isaías. E podemos ler o seguinte no início do capítulo 6:

“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” (1-5).

Isaías disse ter visto o SENHOR dos Exércitos. E se João disse que Isaías tinha visto Jesus, então o SENHOR e Jesus são a mesma pessoa. A conclusão é que todas as vezes que Deus foi visto no Antigo Testamento, era a Segunda Pessoa da Trindade se manifestando. Portanto, o Antigo Testamento tem bons indícios da existência da Trindade.

Provas do Novo Testamento

O Novo Testamento é muito mais decisivo em sua ênfase trinitária. Há muitos relatos que nos dão a justa ideia de que Deus é um e é três ao mesmo tempo.

No Batismo de Jesus

O texto do batismo de Jesus narra: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16-17). Note que há três personagens presentes no relato. Jesus está sendo batizado, o Espírito está descendo sobre ele, e o Pai está falando dos céus. Inconfundivelmente, aí estão, simultaneamente as três pessoas da Trindade.

Na Fórmula Batismal

Jesus disse: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Nesse texto, não somente as três pessoas são citadas conjuntamente, como a expressão “em nome” está no singular. A Escritura não diz “batizando-os no nome do Pai, no nome do Filho e no nome do Espírito Santo”. Há apenas um nome para o Deus que subsiste em três pessoas.

Na Bênção Apostólica

O texto diz: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13.13). Por que Paulo colocaria esses três nomes em pé de igualdade, se não considerasse como pessoas da mesma divindade? Seria Paulo idólatra? Então, fica claro que a Bíblia afirma a existência da Trindade.

Em Apocalipse 1.4-5 a Bênção é pronunciada de forma ligeiramente diferenciada, mas as três pessoas estão presentes: “Graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra”.

Na obra da Salvação

A Escritura mostra em passagens como 1Pedro 1.1-2 e Judas 20-22, Pai, Filho e Espírito Santo agindo em pé de igualdade na vida dos crentes na eleição, na redenção e durante todo o processo da santificação. A Trindade conjuntamente age em favor dos escolhidos.

Na Capacitação da igreja

Nas passagens de 1Coríntios 12.4-6 e Efésios 4.4-6 que tratam da maneira como Deus capacita sua igreja, para em unidade, desenvolver sua tarefa no mundo, as três pessoas da Trindade são mencionadas como sendo a base pela qual a igreja sobrevive e age no mundo. João 14.16 também faz menção da Trindade, mas nesse caso é o Espírito Santo que vem através do pedido do Filho ao Pai para substituir o próprio Filho no meio da igreja.

No Ensino de Cristo

Ao mesmo tempo em que Cristo disse que Deus era seu Pai que estava no céu (Mt 5.16; 7.21; 11.25-27), disse que não eram a mesma pessoa (Mt 16.27; Jo 10.17), e disse também que era “Um” com ele (Jo 10.30, 38). A comparação entre as palavras de Jesus nos leva a crer que existe mais de uma pessoa na Divindade. E esse certamente é o maior argumento bíblico a favor da divindade: a consciência do próprio Jesus. Ele sabia e demonstrou que era alguém diferente do Pai e ao mesmo tempo “um” com o Pai.

Em 1João 5.7. O texto mais claro na Bíblia com relação à Trindade é 1João 5.7. Entretanto, esse texto é amplamente controvertido, e muito provavelmente não seja realmente original, pois não aparece na maioria dos códices gregos antigos, nem nos latinos e não é citado pelos pais Anti-Nicenos. Mas, há grande evidência da antiguidade desse texto, quem sabe antes mesmo de 160 d.C [7], demonstrando que a doutrina da Trindade já era tão antiga quanto essa data sugere.

Todos esses elementos bíblicos considerados conjuntamente deixam a certeza de que há um só Deus, que subsiste em três pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Notas:
[5] Ver Gerard Van Groningen. Criação e Consumação, Vol I, p. 32.
[6] Embora alguns vejam na repetição dos adjetivos “santo, santo, santo” em Isaías 6.3 um indício claro da Trindade, não desejamos ir tão longe, pois na língua hebraica a repetição visa enfatizar aquilo que está sendo dito. O mesmo talvez não possa ser dito de Daniel 9.19 e Isaías 33.22.
[7] Ver Excelente estudo sobre o texto em Herman Bavinck. The Doctrine of God, p. 265-266. Para uma opinião contrária ver John Sttot. I, II, III João – Introdução e Comentário, p.155.

Fonte – Bereianos Apologética Cristã Reformada


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Aspectos Teológicos da Doutrina da Trindade





Falar sobre a base teológica da doutrina da Trindade significa estabelecer conceitos que nos ajudem a entender melhor a doutrina. É claro que jamais podemos nos esquecer que estamos lidando com algo que ultrapassa em muito o nosso entendimento. As palavras de Calvino sobre a Trindade são muito instrutivas nesse sentido, e servem de advertência contra especulações:

Entendamos que se nos secretos mistérios das Escrituras nos convém ser sóbrios e modestos, certamente este que tratamos no presente não requer menor modéstia e sobriedade; mas é preciso estar de sobreaviso, para que, nem nosso entendimento, nem nossa língua vá além do que a Palavra de Deus nos tem demonstrado. Por que, como poderá o entendimento humano compreender, com sua débil capacidade, a imensa essência de Deus, quando nem se quer consegue determinar com certeza qual é o corpo do sol, mesmo que todos os dias o vê com seus olhos? Assim mesmo, como poderá penetrar por si só a essência de Deus, uma vez que não conhece nem a sua própria? Portanto, deixemos a Deus o poder de conhecer-se. [8]

Definições

Podemos definir a doutrina da Trindade dizendo que há somente um Deus em essência, mas que este Deus subsiste em três pessoas distintas. Não há analogia ou ilustração que possa nos ajudar a entender como isso é possível. No passado, os Pais da igreja acostumaram-se a usar analogias para ajudar a entender a unidade dentro da Trindade. Falava-se, por exemplo, da união da luz, calor e esplendor em uma só substância do sol; da raiz, tronco e folhas de uma planta, ou mesmo do intelecto, vontade e sentimentos na alma humana. O fato é que todas as ilustrações conseguem acrescentar muito pouco, e às vezes, só mesmo distorcer a doutrina da Trindade.

Essência é a tradução da palavra grega “ousia” que também pode significar substância [9], e refere-se à natureza divina. Essa natureza essencial é compartilhada pelas três pessoas da Trindade. Quando pensamos na raça humana, sabemos que todos compartilham a mesma natureza, a humana, mas, cada um é um indivíduo autônomo. Compartilhamos a mesma natureza, mas somos seres diferentes. Na Trindade há apenas uma natureza, pois há apenas um ser. Há três pessoas, mas apenas um ser. Cada uma das três pessoas da Trindade compartilha da mesma natureza divina, a qual é numericamente uma. São três pessoas distintas, mas não separadas. Há apenas uma vontade, um poder, uma mente, uma determinação, um sentimento, um ser. A essência de Deus não é dividida entre as três pessoas da Trindade, ela é absoluta, completa e perfeita em cada uma delas. Não são três partes de um só Deus, nem três deuses, é um Deus, uma substância e três pessoas.

Pessoa é tradução dos termos gregos “prosopon” e “hypostasis” ou o latino “persona” que foram usados pelos escritores antigos para indicar as distinções da Divindade. Modernamente tem se falado em subsistência como um termo mais adequado e livre de ambiguidades. Na verdade, muito tempo foi gasto na tentativa de encontrar uma palavra que melhor definisse o sentido da distinção, e isso por si só, já mostra o quanto todas são na verdade inadequadas. O importante é que o termo essência nos fala da unidade de Deus, enquanto que o termo pessoa ou subsistência nos fala das distinções que existem no ser divino. Pessoa é o elemento diferenciador na Trindade. Essência é uma, pessoas são três. Não são três modos de manifestações, mas três existências, ou subsistências reais dentro de um único ser. No Ser de Deus unidade e diversidade não são antônimas. Deus, em seu ser, pode ser tri-pessoal, sem deixar de ser um.

A Trindade em essência (ontológica)

Dentro da Trindade existe absoluta igualdade de essência, logo, não existe qualquer grau de subordinação, nem mesmo de honra. O Pai não é maior em essência do que o Filho e nem o Filho maior do que o Espírito Santo. O Pai não deve ser mais adorado do que o Espírito, ou o Espírito mais do que o Filho. Entretanto, há características próprias em cada uma das pessoas da Trindade, as quais não encontramos nas demais. Estamos falando da Paternidade, da Filiação e da Processão.

A paternidade é uma característica exclusiva do Pai. Nesse sentido não podemos chamar o Logos de Pai e nem o Espírito de Pai. A paternidade do Pai é diferente da que os homens concebem por ser eterna. Não houve um tempo em que Deus não fosse Pai. Desde toda a eternidade ele é o Pai do Filho. O Pai se difere do Filho e do Espírito Santo por não ser gerado e nem proceder de ninguém, e por ser o único que gera.

O Filho possui a característica exclusiva de ser gerado. Somente o Filho é filho do Pai. Não houve um tempo em que o Filho não existia (Mq 5.2), ele é eternamente gerado da essência do Pai. A igreja tem historicamente afirmado que a geração do Filho é desde toda a eternidade como um ato atemporal. Se o Pai gerou o Filho em algum momento da história, então, isso significa que ele mudou de essência e que o Filho não é eterno em essência. A geração do Filho não cria uma nova essência na Trindade, pois é a mesma essência que é compartilhada tanto pelo Pai quanto pelo Filho. A Geração é uma comunicação da essência do Pai ao Filho, num ato atemporal, que faz com que tanto o Pai, quanto o Filho tenham vida em si mesmos (Jo 5.26).

Berkhof dá a seguinte definição da geração do Filho: “É ato eterno e necessário da primeira pessoa da Trindade, pelo qual ele, dentro do Ser Divino, é a base de uma segunda subsistência pessoal, semelhante à Sua própria, e dá a esta segunda pessoa posse da essência divina completa, sem nenhuma divisão, alienação ou mudança”. [10]

Em geral os argumentos mais usados para dizer que Cristo não é eterno são os textos de Colossenses 1.15 e Apocalipse 3.14 que falam respectivamente de Jesus como o “primogênito” e o “princípio” da criação de Deus. Dizem os unitários, especialmente as Testemunhas de Jeová, que esses termos colocam Cristo como a primeira criatura de Deus, não sendo, portanto eterna. Em Colossenses 1.15 “primogênito” da criação não pode se referir ao primeiro ser criado, pois subentenderia que Cristo é o primeiro filho da própria Criação, e isso não faz sentido. A interpretação mais provável é que Cristo é o herdeiro de toda a Criação de Deus. Do mesmo modo em Apocalipse 3.14 falar de Cristo como o primeiro por causa da palavra “princípio” não faz justiça ao uso dessa palavra no próprio livro do Apocalipse, pois o próprio Deus é chamado de princípio (Ap 1.8; 21.6; 22.13). Faz muito mais sentido pensar que o texto está falando de Cristo como o mais proeminente de toda a criação, o principal, o mais importante, o chefe (Ver Cl 1.18).

O Pai gera o Filho, o Filho é eternamente “gerado” do Pai, e o Espírito Santo “procede” eternamente do Pai e do Filho. Nas línguas grega e hebraica as palavras “pneuma” e “ruach”, que são traduzidas como “espírito”, derivam de raízes que significam “soprar, respirar, vento”. Daí a ideia do Espírito ser soprado por Deus (Jo 20.22). A doutrina de que o Espírito “procede” do Pai e do Filho levou algum tempo para ser formulada pela igreja, sendo que somente em 589 no Sínodo de Toledo foi formulada a seguinte declaração de fé: “Cremos no Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho”. [11]

A base bíblica de que o Espírito procede do Pai e do Filho é João 15.26, e os textos onde o Espírito é chamado de Espírito de Cristo ou de Espírito do Filho (Rm 8.9; Gl 4.6; Fp 1.19; 1Pe 1.11). Berkhof define a “espiração” do Espírito como sendo “o eterno e necessário ato da primeira e da segunda pessoas da Trindade pelo qual elas, dentro do Ser Divino, vêm a ser a base da subsistência pessoal do Espírito Santo, e propiciam à terceira pessoa a posse da substância total da essência divina, sem nenhuma divisão, alienação ou mudança”. [12]

A Trindade no trabalho (econômica)

Uma maneira interessante de ver a Trindade é entender a forma como a Trindade age, não em relação a si mesma, mas em relação à criação. Quando falamos em essência, vimos que embora haja características próprias em cada pessoa da Trindade, não existe qualquer grau de subordinação entre elas. Porém, quando falamos em trabalho (economia) da Trindade, percebemos que há uma ordem como Deus trabalha. Isso nos revela bastante do caráter Trinitário.

Jesus fez algumas declarações que certamente poderiam nos deixar confusos se não entendêssemos a diferença de Trindade em essência (ontológica) e Trindade econômica. Já vimos que ele disse ser um com seu Pai, porém, em outros textos ele afirmou ser submisso ao Pai, como por exemplo, João 6.38: “Porque desci do céu não para fazer a minha própria vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou”. E também noutra ocasião ele disse: “O Pai é maior do que eu” (Jo 14.28).

Já dissemos que de acordo com a Bíblia há igualdade absoluta entre as pessoas da Trindade, mas então, por que Jesus disse que o Pai era maior do que ele? Certamente porque se referia a sua encarnação e a obra que precisava fazer. Ele foi submisso ao Pai nesse sentido, e portanto, inferior em função, mas não em essência. Estamos agora falando das obras que se realizam, não dentro do ser divino, mas em relação à criação, providência e redenção. Vemos nas Escrituras algumas obras sendo mais atribuídas a uma das pessoas da Trindade do que a outra. Entretanto, devemos tomar o cuidado para não exagerarmos nas distinções, pois de certa forma, a Trindade participa conjuntamente de todas as obras externas.

Não precisamos temer falar de uma subordinação econômica do Filho ao Pai, desde que entendamos que não há qualquer subordinação de essência. É por isso que Paulo diz: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo” (1Co 11.3). No contexto ele está tratando da diferença que existe entre o homem e a mulher, e da subordinação que a mulher deve ao homem. Ele não está dizendo que a mulher é inferior ao homem, mas que deve ser submissa e guardar as diferenças proporcionais. [13] Da mesma forma o Pai é o cabeça de Cristo, mas isso não quer dizer que ele é superior, pois a essência é a mesma. A questão está nas funções que são diferentes.

Devemos evitar a formulação simplista de que o Pai é o responsável pela Criação, o Filho pela Redenção, e o Espírito pela santificação, pois a Trindade participa conjuntamente de tudo isso. A distinção que podemos fazer é a seguinte: Ao Pai pertence mais o ato de planejar, ao Filho o de mediar, e ao Espírito o de agir. Isso pode ser visto no relato da criação.

No texto de Gênesis 1.1-3 as três pessoas da Trindade estão agindo. O texto diz: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Note que a criação é atribuída a Deus. Entretanto, em seguida veja algumas manifestações diferentes desse Deus: “A terra, porém, era sem forma e vazia, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1.2). Aí está a Terceira Pessoa, o “Espírito de Deus”. A maioria dos comentaristas concorda que o Espírito Santo está numa função de “energizar” a matéria, sendo, portanto, o ponto de contato entre Deus e a matéria. Mas, e onde está o Filho? O Filho é a “palavra” de Deus. Foi João quem chamou Jesus de o “verbo” de Deus (Jo 1.1). Ele é a Palavra proferida, o “haja luz”, é o instrumento através do qual todas as coisas foram criadas. A Bíblia afirma isso categoricamente: “Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16).

Portanto, podemos dizer que na obra da criação, o Pai fala, o Filho é a Palavra falada – Mediador, e o Espírito Santo é o agente direto sobre a matéria. Em termos semelhantes, a Trindade trabalha na Redenção, cada pessoa executando uma tarefa particular. O Texto de 1Pedro 1.2 é claro nesse sentido, pois diz que os crentes são: “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”. Aqui também o Pai é o idealizador da salvação, pois a ele pertence o ato de escolher os que devem ser salvos. Nesse sentido, o Pai é o autor da eleição. O Filho está novamente na função de Mediador, ele possibilita a obediência a Deus através da aspersão de seu sangue. Já ao Espírito Santo é indicada a tarefa de santificar, ou seja, separar para si os eleitos. Então, o Pai elegeu, o filho salvou e o Espírito aplicou a salvação.

Na verdade essa ordem de funções pode ser vista por toda a Escritura: O Pai planejando a salvação (Jo 6.37-38) e escolhendo os eleitos (Ef 1.3-4), o Filho executando o plano de Deus (Jo 17.4; Ef 1.7), e o Espírito Santo confirmando essa obra sobre os crentes (Ef 1.13-14). De fato, como declara Lloyd-Jones, “essa é uma ideia atordoante, ou seja, que estas três bem-aventuradas Pessoas, na bem-aventurada santíssima Trindade, para minha salvação, quiseram dividir assim o trabalho”. [14]

Notas:
8 João Calvino. Institutas, I, 13, 21.
9 Berkhof fala da diferença entre “essência” e “substância” e da tendência moderna de não usar os dois termos como sinônimo pelo fato de que na igreja Oriental “substância” traduzia tanto “ousia” como “hipostasis”, sendo, portanto, um termo ambíguo (Ver L. Berkhof. Teologia Sistemática, p. 88-89).
10 Louis Berkhof. Teologia Sistemática, p. 95. 
11 A igreja Oriental (Católica Ortodoxa) nunca aceitou essa formulação. 
12 Louis Berkhof. Teologia Sistemática, p. 98. 
13 Ver Augustus N. Lopes. O Culto Espiritual, p. 64-65.
14 D. M. Lhoyd-Jones. Deus o Pai, Deus o Filho, p. 122-123.

Fonte – Bereianos Apologética Cristã Reformada



quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Série Trindade - Introdução





Introdução

A doutrina da Trindade é uma das mais importantes doutrinas do cristianismo ortodoxo. Percebe-se, entretanto, que, pelo menos no contexto brasileiro, essa doutrina é tida em pouca consideração. A razão disso talvez seja o pragmatismo que a religião brasileira tem como base. As pessoas só se interessam por aquilo que entendem que pode ser útil para sua vida. Elas querem coisas práticas e estão enjoadas de teoria. Esse é justamente o motivo pelo qual não gostam de estudar teologia. Teologia sugere algo teórico, e as pessoas dizem que estão mais interessadas em “experiências” com Deus, e na prática demonstram que desejam “soluções” de Deus para seus problemas.

Não é o caso de que os cristãos não acreditem na veracidade da doutrina da Trindade, apenas, de forma geral, as pessoas não sabem para que ela serve. É aquela velha história de que para que algo seja importante, precisa “falar ao coração”. Talvez, para a maioria, pouco importa se Deus é um ou três.

Entretanto, esquecer-se ou descaracterizar a doutrina da Trindade é perder muito do que a Bíblia e especialmente Deus tem a nos dizer no real sentido da palavra. É perder de vista a coisa mais essencial de Deus que podemos saber. Na verdade, é ignorar a própria essência de Deus. Poucas pessoas pensam na Trindade hoje em dia, e quando pensam, não seria absurdo dizer que em muitos casos imaginam três deuses. Esse importante assunto precisa ser melhor estudado.

Num certo sentido, a doutrina da Trindade é de fato a mais misteriosa e também a mais difícil de todas as doutrinas bíblicas, porém, como afirma Lloyd-Jones:

“Ela é, em certo sentido, a mais excelsa e a mais gloriosa de todas as doutrinas, a coisa mais espantosa e estonteante que aprouve a Deus revelar-nos sobre Si mesmo” [1]

Ou como afirma Bavinck:

“O artigo sobre a santa Trindade é o coração e o núcleo de nossa confissão, a marca registrada de nossa religião, e o prazer e o conforto de todos aqueles que verdadeiramente crêem em Cristo. Essa confissão foi a âncora na guerra de tendências através dos séculos. A confissão da santa Trindade é a pérola preciosa que foi confiada à custódia da Igreja Cristã” [2]

Deus quis mostrar aos seus filhos esse detalhe tão impressionante de sua essência. Queremos demonstrar que a doutrina da Trindade não é apenas um conceito teórico ou desinteressante, mas um elemento essencial para a espiritualidade.

Notas: 
[1] D. M. Lloyd-Jones. Deus o Pai, Deus o Filho, p. 114. 
[2] Herman Bavinck. Our Reasonable Faith, p. 145.

Fonte – Bereianos Apologética Cristã Reformada.


10/09/2014


terça-feira, 9 de setembro de 2014

A grande questão: – “Onde está o teu tesouro? – Está naquilo que mais amas!”



“Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lucas 12.34).


Temos de… negar a nós mesmos e abandonar qualquer coisa que obstrui o caminho da salvação da nossa alma. Precisamos dar, ou seja, demonstrar caridade e gentileza a todos, estando mais dispostos a gastar nosso dinheiro em ajuda aos outros do que guardá-lo para satisfazer os nossos propósitos egoístas. Temos de fazer para nós mesmos tesouros nos céus, ou seja, assegurar-nos de que o nosso nome está escrito no Livro da Vida, apropriar-nos da vida eterna, acumular evidências de que suportaremos a inspeção do Dia do Juízo. Nisso consiste a sabedoria e a prudência verdadeira. O homem que faz o bem a si mesmo é aquele que desiste de tudo por amor a Cristo. Ele faz a melhor de todas as trocas. Por alguns anos ele leva a cruz neste mundo; porém no mundo por vir desfrutará da vida eterna. Ele obtém o mais valioso de todos os bens. Ele leva consigo suas riquezas para além do sepulcro . É rico em graça nesta vida e no porvir. E, o melhor de tudo, ele jamais perderá aquilo que obtém pela fé; é “a boa parte” que “não lhe será tirada”.

Desejamos saber o que realmente somos? Procuremos saber se temos um tesouro nos céus ou se todas as nossas coisas encontram-se na terra. Você deseja saber qual é o seu tesouro? Perguntemos a nós mesmos o que mais amamos. Esse é o verdadeiro teste de nosso caráter; é a vitalidade de nosso cristianismo. Pouco importa o que falamos, o que professamos, o pregador que admiramos ou que igreja frequentamos. O que mais amamos? Em que estão colocadas as nossas afeições. Essa é a grande questão. “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.

______________________________________
J. C. Ryle (1816-1900), em “Meditações no Evangelho de Lucas”
Editora Fiel, São José dos Campos,
2011, p.222



sexta-feira, 5 de setembro de 2014

É Deus quem estabelece a diferença – Por A.W. Pink






"Ao Senhor pertence a salvação!" (Jn 2.9), Mas o Senhor não salva a todos. Por que não? Ele salva alguns; e, se salva alguns, por que não salva os demais? Porventura é por que são demasiadamente pecadores e depravados? Não; pois o apóstolo escreveu: "Fiel é a palavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (1 Tm 1.15). Por conseguinte, se Deus salvou àquele que foi o "principal" dos pecadores, ninguém é excluído por ser demasiadamente depravado. Então, por que Deus não salva a todos? É por que alguns têm o coração tão endurecido, que não se deixam vencer? Não, porque está escrito a respeito daqueles que têm o coração mais endurecido do que o de quaisquer outras pessoas: "Tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne" (Ez 11.19). Então, será que alguns são tão obstinados, tão intratáveis, tão atrevidos, que Deus não pode atraí-los para Si? Antes de responder a essa pergunta, vamos formular outra; apelemos para a experiência de pelo menos alguns dentre os do povo do Senhor.



Amigo, não houve um tempo quando você andava segundo o conselho dos ímpios, se detinha no caminho dos pecadores e se assentava junto aos escarnecedores e com aqueles que diziam: "Não queremos que este reine sobre nós" (Lc 19.14)? Não houve um tempo quando você não queria vir a Cristo para ter vida (Jo 5.40)? Sim, não houve um tempo quando você mesclava a sua voz à daqueles que diziam a Deus: "Retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos. Que é o Todo-poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos orações" (Jó 21.14, 15)? Envergonhado, você tem de reconhecer que houve um tempo assim.


Como é que tudo isso mudou? O que o levou a abandonar sua orgulhosa auto-sufíciência, para ser um humilde suplicante; a deixar sua situação de inimizade contra Deus, para fazer as pazes com Ele, passando da rebeldia à sujeição, do ódio ao amor? "Pela graça de Deus, sou o que sou" (1 Co 15.10), responderá você, se é "nascido do Espírito". Você percebe que não é por causa de qualquer falta de poder da parte de Deus que outros rebeldes não são salvos também? Se Deus teve a capacidade de subjugar a sua vontade e ganhar o seu coração, sem interferir em sua responsabilidade moral, então não poderia fazer o mesmo com as outras pessoas? Certamente que sim. Logo, quão incoerente, ilógico e estulto você se mostra em procurar explicar a atual situação dos maus e o destino final deles, argumentando que Deus é incapaz de salvá-los e que eles não deixam que Deus os salve. Você talvez argumente: "Mas chegou o momento em que me dispus, desejoso de receber a Cristo como meu Salvador". É verdade, mas foi o Senhor quem lhe deu essa disposição (SI 110.3 e Fp 2.13). Nesse caso, por que Deus não faz com que todos se disponham? Pelo fato de que Ele é soberano e age como bem Lhe apraz!


Mas, voltemos à nossa indagação inicial. Por que razão todos não são salvos, especialmente todos quantos ouvem o evangelho? Você continua argumentando: "Não será porque a maioria se recusa a crer?" Bem, é verdade, mas isso é apenas parte da verdade. É a verdade do lado humano. Há também o lado divino, e esse lado precisa ser ressaltado; caso contrário, Deus será despojado de sua glória. Os não-salvos estão perdidos porque se recusam a crer; os demais estão salvos justamente porque crêem. Mas, por que estes crêem? O que os leva a confiarem em Cristo? Porventura são mais inteligentes do que os seus semelhantes, mais prontos a discernirem a sua própria necessidade de salvação? Longe de nós tal ideia, "Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?" (1 Co 4.7).


É o próprio Deus quem estabelece a diferença entre os eleitos e os não-eleitos, porque está escrito acerca dos que lhe pertencem: "Também sabemos que o Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo 5.20).

A fé é um dom de Deus, e "a fé não é de todos" (2 Ts 3.2). Portanto, vemos que Deus não concede esse dom a todos. Quem, pois, recebe essa graça salvadora? Nós, seus próprios eleitos, respondemos — "e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (At 13.48). Por isso é que lemos: "A fé que é dos eleitos de Deus" (Tt 1.1). Mas, é Deus soberano na distribuição dos seus favores? Não tem Ele o direito de ser assim? Existem ainda aqueles que "murmuram contra o dono da casa"? Então, as próprias palavras do Senhor são resposta suficiente: "Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu?" (Mt 20.15). Deus é soberano na distribuição dos seus dons, tanto no âmbito das coisas naturais como das espirituais.

Fonte – Matérias de Teologia - 05/09/2014

 



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O problema do ensino da graça preveniente.





Porque os arminianos wesleyanos afirmam a eleição condicional, enquanto os calvinistas afirmam que a eleição é incondicional? A resposta é a graça preveniente. De acordo com essa doutrina, em uma ação sobrenatural de graça e misericórdia, Deus restaura a todos os seres humanos o livre-arbítrio perdido na queda de Adão. A graça preveniente proporciona às pessoas a capacidade de escolher ou rejeitar Deus.
(...) A graça preveniente apenas possibilita a fé salvadora, mas é o próprio indivíduo que faz com que ela seja real. Então, ainda precisamos perguntar: “Quem, em última análise, é responsável por uma pessoa vir a ter fé e outra não?”. No sistema arminiano, a resposta é a própria pessoa, e não Deus. 

(...) O arminiano sustenta que Deus prevê tanto que alguns crerão quanto que outros não crerão em Cristo em resposta ao Evangelho. Ele também afirma que Deus sabe por que eles respondem com crença ou descrença, pois Deus é onisciente e conhece os segredos e as motivações internas do coração. Deus também conhece aquilo que, na apresentação do Evangelho, terá êxito em convencer alguns a dizer “sim” e o que não terá êxito em persuadir aqueles que dizem “não”.

A pergunta, então, é: se Deus realmente deseja que todos sejam salvos como sustenta o arminiano, e se Ele sabe o que entre os meios de persuasão contidos no Evangelho podem levar as pessoas a responderem “sim”, por que Ele não orquestra a apresentação do Evangelho de tal maneira que ela tenha êxito em convencer todas as pessoas a crerem? Não há dúvidas de que o Deus que conhece perfeitamente cada coração humano é capaz de criar um mundo no qual o Evangelho teria êxito em todos os casos. E se Deus desejou que todos sejam salvos da maneira como o arminiano sustenta, por que não levou todos eles a salvação? 
*** Fonte: Texto extraído do capítulo 2 da obra Escolhidos: Uma exposição da doutrina da eleição.
Divulgação: Bereianos – 03/09/2014



terça-feira, 2 de setembro de 2014

Expiação Limitada.






Texto base: Rm 5.8-11

Introdução

Expiação limitada é o terceiro dos 5 pontos do calvinismo, e é uma doutrina que se desenvolveu especificamente na tradição reformada. Ao contrário do que muitos pensam, não foi Calvino quem escreveu esta linha doutrinária. Os 5 pontos do calvinismo são apenas uma parte, e não um resumo de toda a doutrina de Calvino baseada nas Escrituras.

Estes 5 pontos foram elaborados somente 54 anos após a sua morte (1509-1564) pelo Sínodo de Dort, “composto de 84 teólogos, 18 representantes seculares, 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e outros países da Europa reunidos em 154 Sessões, desde 13 de novembro de 1618 até maio de
1619”.1

Contudo, o objetivo de se ter formulado os 5 pontos do Calvinismo era de responder e questionar o documento apresentado pelos “discípulos do professor reformado de um seminário holandês chamado Jacob Arminius (1560-1600), que tinha sérias dúvidas quanto à graça soberana de Deus, visto que era inclinado aos ensinos de Pelágio e Erasmo, no que se refere à livre vontade do homem”.2

No entanto, os alunos de Arminius que formularam este documento (os 5 pontos do arminianismo) tinham em mente mudar os símbolos oficiais das doutrinas das Igrejas da Holanda, que se apoiavam na Confissão Belga e no Catecismo de Heidelberg, substituindo assim pelos ensinos de Arminius. Em contra partida, a razão pela qual os 5 Pontos do Calvinismo foram elaborados.

Todavia, a doutrina da expiação limitada salienta a obra da redenção realizada por Cristo através de sua morte na cruz. Não obstante, Jesus se ofereceu como o único e perfeito sacrifício pelos pecados para satisfazer a justiça de Deus, sofrendo a ira divina, tornando-se maldição e morrendo no lugar de pecadores. Em suma, é “a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”.3

Esta doutrina também tem como base a doutrina da predestinação, onde se diz que, desde toda a eternidade, antes do mundo vir a existir, e antes que houvesse a queda, Deus escolheu para si um número limitado de pessoas para salvar (Ap 5.9), enquanto o restante é “entregue” aos seus próprios pecados e, por fim, como punição pela desobediência ao Senhor a morte eterna (Rm 1.18-21, 24-32; 6.23).

“A palavra expiação é usada muitas vezes no Antigo Testamento. Além de ser um termo teológico muito incomum”4, significa um “ato ou efeito de expiar; o cumprimento da pena ou castigo que se reputa equivalente à culpa ou delito de alguém.

Significa remir culpas ou delitos pelo cumprimento de pena; ou seja, sofrer as consequências de alguém, cumprir a pena que reabilita uma pessoa, e por fim, purificar”.5 Vejamos uma ilustração como exemplo que elucida esta verdade sobre a expiação:

“Se um homem não pode pagar uma dívida que tem com o banco, mas se um amigo voluntariamente paga esta dívida por ele, então, esta dívida é coberta e o homem está livre de toda obrigação. Esta é a idéia da expiação”6 e literalmente o que Cristo Jesus fez pelos seus escolhidos na obra da redenção pagando a dívida que tínhamos com Deus.

Explanação

Para que possamos compreender de forma crível todo o conteúdo que compõe a doutrina da expiação limitada, precisamos saber em:

1. O motivo da expiação

Qual foi a razão que levou a Cristo se abdicar de toda a sua glória, vindo a este mundo em forma de homem, nascer do ventre de uma mulher tendo de passar por todo o processo de nascimento, crescimento e desenvolvimento humano e sofrer todas as nossas limitações, fraquezas e tentações que nos assolam, ser perseguido, maltratado e, por fim, morto?

“Por qual motivo Deus operou deste modo para realizar seu fim e cumprir seu propósito? Por que o sacrifício do filho de Deus? Por que, ao morrer, morreu a morte maldita da cruz”? 7

Indubitavelmente, o motivo da expiação foi “afetar a relação de Deus com o pecador, o estado e a condição de Cristo como o Autor Mediatário da salvação, e o estado e a condição do pecador”.8 Contudo, o motivo da expiação é caracterizado por estes 2 pilares:

a) O imensurável amor de Deus.

Podemos ver o amor de Deus explícito como a fonte da expiação nesta passagem em pauta:

João 3.16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Esta passagem denota o quão grande amor Deus teve para com o “mundo perverso e pecador”.9 A expressão de tal maneira não se encontra no grego, mas podemos entender não somente por essa passagem, mas por todo o Novo Testamento, especificamente sobre os textos que abarcam a missão de Jesus, a intensidade do amor de Deus.

O amor de Deus é algo que não se pode medir. A atitude de dar o seu único filho para morrer no lugar e em favor de pecadores (Rm 5.8), para que aqueles que acreditarem em Cristo como o salvador e filho de Deus não serem condenados à morte eterna, mas terem a vida eterna é tremendo!

b) A Sua justiça.

Além do amor de Deus ser o motivo da expiação (Jo 3.16; Ef 2.4), todavia, a justiça de Deus também faz parte deste epítome. A justiça de Deus requeria que Ele “encontrasse o meio para que a penalidade por causa dos nossos pecados fosse paga. Deus não poderia nos aceitar em comunhão consigo mesmo a menos que a penalidade fosse paga.”10

Esta foi à razão pela qual Deus enviou a Cristo para fazer a propiciação. O sacrifício que aplacaria a ira de Deus contra nós por termos ofendido a sua santidade pelos nossos pecados foi transferido para Jesus. Nós que merecíamos todo o sofrimento que Cristo passou a cruz e por fim a morte (Ez 18.4; Rm 6.23). 

Porém, o Senhor se fez maldito por nós sendo imputado sobre si os nossos pecados, suportando a ira de Deus e morrendo na cruz derramando o seu sangue carmesim para que Deus se tornasse propício em nosso favor. Fomos reconciliados com Deus para termos comunhão com o Senhor mediante Cristo pelo Espírito Santo e glorificá-lo em toda a nossa vida.

Romanos 3.25-26 – “A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impune os pecados anteriormente cometidos; Tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.

Na versão da NBV podemos entender melhor o que Paulo quis dizer nessa passagem. Senão vejamos:

Romanos 3.25-26 – “Deus foi quem enviou a Cristo Jesus para levar o castigo pelos nossos pecados, e assim pôr fim à ira de Deus contra nós. Ele usou o seu sangue para, mediante a fé, nos salvar da sua ira. Deste modo, Ele foi justo, mesmo não tendo castigado aqueles que pecaram em tempos passados. Isto porque aguardava a chegada do dia quando Cristo viria e apagaria os pecados anteriormente cometidos”.11 (veja Rm 5.9-11).

2. A necessidade da expiação

Será que não haveria outra forma de Deus salvar a humanidade sem a necessidade da expiação? Era realmente preciso Jesus morrer em nosso lugar?

Indubitavelmente, sabemos pela doutrina da eleição incondicional, o segundo ponto do calvinismo, que o homem não escolhe se voltar para Deus através do seu livre arbítrio, mas é Deus que escolhe salvar quem Ele quiser pela sua “livre e soberana graça”12 independentemente das obras (Ef 2.8; Jo 6.44; 10.24-28; 15.16; 17.6-9,20).

“Contudo, salvar homens perdidos não era necessidade absoluta, mas bondade soberana de Deus”.13 “Portanto, a expiação não foi absolutamente necessária, mas, como conseqüência da determinação de Deus de salvar pessoas, a expiação tornou-se absolutamente necessária”.14 Esta é a visão da expiação chamada de necessidade absoluta.

No entanto, como Deus não era obrigado abrir a porta da salvação a ninguém, devido à necessidade absoluta, a expiação se tornou necessária. “Uma vez que foi proposta, a salvação deveria ser assegurada por meio da satisfação que poderia ser conquistada somente pelo sacrifício substitutivo e pela redenção comprada pelo sangue”.15

Heber Carlos de campos complementa esta verdade acerca da necessidade absoluta dizendo que em Hebreus 2.17 Cristo “teve que experimentar as coisas próprias de um ser humano, ou seja, limitações, fraquezas e tentações.

Ele teve de sofrer para entender as coisas relativas à misericórdia e tinha de ser fiel para ser um sumo sacerdote perfeito. Para que isso viesse acontecer, o redentor teve de passar por um processo de aprendizagem”.16 Também em hebreus é mencionado que é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados (referência aos rituais de purificação do AT) (10.4) e que um sacrifício superior é requerido (9.23).  

Conclui-se, então, que somente o sacrifício de Cristo é eficaz para aniquilar completamente o pecado (9.26), e que não havia outro modo pelo qual Deus pudesse salvar pessoas a não ser pela morte de Jesus em nosso lugar.

3. A natureza da expiação

Acerca deste tema, que trata de forma indelével sobre a obediência de Cristo, que é descrita como obediência ativa e passiva, veremos que nestes 2 aspectos estão inseridos “as categorias mais especificas com que as Escrituras apresentam a obra expiatória de Cristo, que são sacrifício, propiciação, reconciliação e redenção”.17

John Murray corrobora que “a distinção entre a obediência ativa e passiva não é a despeito de tempos.

Deve-se descrever toda a obra de obediência de nosso Senhor em cada fase e período, como ativa e passiva, e deve-se evitar o engano de pensar que a obediência ativa se aplica em sua vida, enquanto a obediência passiva em seu sofrimento final e morte. O uso e o propósito legítimos dessa fórmula servem para enfatizar 2 aspectos da obediência vicária de Nosso Senhor”.18 Senão vejamos:  

a) A obediência ativa

Este termo trata especificamente sobre a obediência de Cristo por nós. Como é impossível para o homem obedecer totalmente a Deus, Jesus teve de viver durante toda a sua vida aqui na terra em total obediência a lei de Deus em nosso favor (Fp 2.8), “de modo que os méritos positivos de sua obediência perfeita pudessem ser atribuídos a nós” 19 (Rm 5.19). Isso é o que chamamos de obediência ativa.

b) A obediência passiva
      
Este segundo termo ressalta que “Cristo tomou sobre si os sofrimentos necessários para pagar a penalidade pelos nossos pecados”,20 como havia sido profetizado em Isaías 53.3 sobre a vinda do Messias, o qual seria um homem de dores e experimentado no sofrimento. Hebreus 5.8-9 diz-nos que “mesmo sendo Filho, aprendeu a obediência por aquilo que padeceu. E tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.”

Os sofrimentos durante toda a vida de Jesus como fraquezas, limitações, tentações, rejeição e oposição dos homens, a dor psicológica de suportar o pecado e a culpa como se Ele mesmo pecasse, a dor física da crucificação, o abandono do Pai na cruz, a dor de suportar a ira de Deus contra o pecado e o pecador e por fim a morte, é que fizeram de Jesus o perfeito salvador.

Por outro lado, a obra da expiação tem inúmeros efeitos sobre nós. Veremos agora os 4 efeitos da expiação, os quais eu mencionei anteriormente que são o sacrifício, a propiciação, a reconciliação e a redenção. “Estes 4 termos mostram como a morte de Cristo satisfez as 4 necessidades que temos como pecadores”.21

a) Sacrifício: Cristo morreu em nosso lugar como substituto e pagou a penalidade da morte que merecíamos por nossos pecados contra Deus (Hb 9.26). 

b) Propiciação: Para que a ira de Deus contra o pecado e contra nós (pecadores) fosse aplacada e removida, Cristo morreu em nosso favor, propicio a nós (1Jo 4.10).

c) Reconciliação: Para que a parede que nos separava de Deus fosse derrubada (Ef 2.14-18), e a barreira que nos impedia de ter comunhão com Deus fosse removida (Is 59.2), era preciso que alguém intervisse em nosso favor, nos reconciliando novamente com Deus (2Cor 5.18-19).

d) Redenção: Como pecadores somos escravos do pecado e de satanás”22 (Jo 8.34; Rm 6.16; Ef 2.2-4), por isso era necessário que alguém nos redimisse dessa escravidão.

Redenção traz a idéia de um resgate, que é “o preço pago para redimir alguém da escravidão ou do cativeiro”23. É de vital importância ressaltar que Cristo não pagou resgate algum a satanás e muito menos ao pecado, e também não digo que foi a Deus, porque não foi Ele que nos manteve na escravidão, mas satanás e nossos pecados.

Cristo comprou e buscou a redenção, e, portanto, nos “é suficiente saber que o preço foi pago e aceito por Deus (a morte de Cristo), e o resultado foi termos sido redimidos da escravidão”.24  

4. A extensão da expiação

A pergunta crucial que envolve a síntese da extensão da obra expiatória é esta: Por quem Cristo morreu? “No lugar de quem Cristo se ofereceu como sacrifício”25? Mediante a esta pergunta, existem inúmeras passagens nas Escrituras referente à morte de Cristo, onde é afirmado que a expiação “aparentemente” foi universal, ou que a morte de Cristo foi por todas ou muitas pessoas ou pelo mundo todo.

No entanto, se analisarmos detalhadamente todo o contexto em geral sobre a questão da morte de Cristo, veremos que a expiação não foi universal, mas foi limitada ou particular. Em outras palavras, Jesus não morreu por todas as pessoas e nem pelo mundo inteiro.

Embora o sangue de Jesus derramado na cruz fosse “suficiente para cobrir os pecados de todos os homens e para satisfazer a justiça de Deus contra todo o pecado, ele efetua a salvação somente aos eleitos”.26 A expiação se reduziu ou foi eficazmente aplicada somente para algumas pessoas a quem Deus escolheu salvar.

Outro fator importante que envolve a extensão da expiação é que ela também abrange os não eleitos, que desfrutam dos benefícios da morte de Jesus, no que se refere as bênçãos físicas e materiais, dentre outras coisas (Mt 5.45). Isto é o que chamamos de “graça comum” ou “providência geral”. 

Outra questão agora está em pauta – Como interpretar as diversas passagens onde é mencionado que Cristo morreu por todas as pessoas e pelo mundo todo?

Tanto os cristãos arminianos quanto os cristãos reformados concordam que “o sangue de Cristo é suficiente, em valor, e que sua morte vicária é de valor infinito aos olhos de Deus, e é eficiente ou eficaz somente em relação aos eleitos. Atualmente, o ponto de vista arminiano da expiação universal não é sustentável.

Não obstante, a única saída dos arminianos para dizer sobre os que rejeitam a Cristo é dizer que a vontade de Deus é frustrada pelo homem, porque Cristo, ao que pressupõe, morreu por todos os homens aos quais Deus quis salvar, porém, não pôde fazê-lo”27, devido ao “livre arbítrio” que o homem possui em escolher ou não se voltar para Deus.

Todavia, sabemos pelas Escrituras que só Deus possui o livre arbítrio, e que esta linha de interpretação contradiz totalmente a doutrina da eleição. Vamos analisar algumas passagens onde os termos muitos e mundo aparecem e comprovar que estes a textos, apesar de favorecer outra interpretação, falam acerca da expiação limitada.

Senão vejamos: (Is 53.4-12; Mt 26.28; Mc 10.45; Jo 1.29; Jo 3.16; Rm 5.7-10; 1Cor 15.3; Gl 1.3-4; Tito 2.14; 1Jo 2.1-2; Hb 2.9; Ap 5.8-9; Mc 4.11-12; Jo 10.11,15, 26-28; Jo 17.6-9, 19-21...)

Conforme estas passagens e várias outras, vemos que “a bíblia utiliza expressões que são universais em forma, mas que não se referem a todos os homens no sentido distributivo e inclusivo.

Palavras como mundo e todos, expressões como cada um e todo homem nem sempre significam, nas Escrituras, todos os membros da raça humana”;28 mas sim, à universalidade e diversidade dos eleitos espalhados por todo o mundo, e à inclusão dos gentios também na obra da expiação.

Nessa mesma linha de pensamento, Ronald Hanko afirma que “o que tais passagens ensinam é que Cristo morreu por todos os homens sem distinção, não por todos os homens sem exceção. Em outras palavras, tais passagens ensinam que Cristo morreu por todos os tipos de homens (1Tm 2.6a), por todos que estão nEle (1Cor 15.22), ou pelo mundo de seu povo, isto é, por seus eleitos de todas as nações”.29

Por isso cai por terra a teoria de que Jesus morreu por todos os homens mesmo que todos não sejam salvos. Seria o mesmo que dizer que a obra de Cristo no projeto da salvação não foi perfeita, sendo assim ineficaz, e que o sangue de Jesus foi derramado em vão por alguns que não o querem. Contudo, seria necessário acrescentar algo a mais para ajudar a Jesus, a saber, a livre escolha do homem. 

Não obstante, a expiação limitada não é um meio que pode vir tornar possível a salvação, mas sim, é um meio que fez, faz e fará possível a salvação de todos os eleitos que foram predestinados para ela por nosso Deus e Pai. Aleluia!

Conclusão
  
5. A perfeição da expiação

Cristo não veio fazer os pecados expiáveis; Ele veio para expiar pecados!

Hebreus 1.3 – “Depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da majestade, nas alturas.

Cristo não veio para fazer Deus reconciliável, Ele reconciliou Deus conosco por meio de seu sangue.30

“A expiação é uma obra completa, jamais repetida ou passível de repetição”.31 “Ela é a provisão eterna do amor no coração de Deus”.32 Ela não força nem constrange o amor de Deus; antes, o amor de Deus constrange a expiação, que se fez instrumento para a realização do propósito determinado do amor”.33

A obra expiatória foi perfeita em todos os aspectos e alcançou o seu objetivo. “Cristo não morreu por todos os homens! A expiação é limitada! A redenção é particular! Só a noiva eleita de Cristo (a igreja) é o objeto do amor de Deus no plano da salvação”.34  

Efésios 5.25b – “Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela...”

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Notas:
1.Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism 
2. Duane E. Spencer, TULIP, Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras, pág 111-112, Parakletos.
3. Teologia sistemática Wayne Grudem, pág 259.
4. Gise J. Van Baren. Expiação limitada.
5. Dicionário Priberam da língua portuguesa.
6. Gise J. Van Baren. Expiação limitada.
7. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 12.
8. Louis Berkhof. Teologia sistemática, pág 386.
9. Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé.
10. Wayne grudem. Teologia sistemática, pág 271.
11. NVB.  
12. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 13.
13. Ibid.
14. Wayne grudem. Teologia sistemática, pág 272.
15. Turretin, Francis. Institutio Theologiae Elencticae, Livro XIV, Q.X; Thornwell, James Henley. “The Necessity of the Atonement”, em Collected Writings, vol II (Richmond, 1886), pág 205-261; Stevenson, George. A Dissertation on the Atonement (Filadélfia, 1832), pág 5-98; e Hodge, A.A. The Atonement (Londres, 1868), pág 217-222.
16. Heber Carlos de Campos. As Duas Naturezas do Redentor, pág 109-110.
17. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 19.
18. Ibid, pág 21.
19- Wayne grudem. Teologia sistemática, pág 273.
20. Ibid, pág 274.
21. Ibid, pág 278, 279.
22. Ibid.
23. Ibid.
24. Ibid.
25. R.C. Sproul. Eleitos de Deus, pág 152.
26. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 55.
27. Duane Edward Spencer. Artigo sobre a Expiação Limitada.
28. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 53.
29. Ronald Hanko. Doctrine according to Glodiness, Reformed free publishing Association, pág 155-156.
30. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 47.
31. Ibid.
32. Ibid, pág 48.
33. Hugh Martin. The Atonement: in Relations to the Covenant, the Priesthood, the Intercession o four Lord (Edimburgo), pág 19.
34. Duane Edward Spencer. Artigo sobre a Expiação Limitada.