Como
Criador e Governador infinitamente inteligente e providente, Deus certamente
teve um propósito definido com referência à existência e destino de tudo quanto
criou, compreendendo em um só sistema todo-perfeito seu fim principal nesse
particular e todos os fins e meios subordinados em referência a esse fim
principal. E já que ele é um Ser eterno e imutável, seu plano certamente
existiu em todos os seus elementos, perfeito e imutável, desde a eternidade.
Visto ser Deus uma Pessoa infinita, eterna, imutável e absolutamente sábia,
poderosa e soberana, certamente que seu propósito participa dos atributos
essenciais de seu próprio ser. E visto que a inteligência de Deus é
absolutamente perfeita e seu plano eterno; visto que seu fim último é revelado
como que almejando unicamente sua própria glória, e toda a obra da criação e da
providência é observada como a formar um sistema único, segue-se que seu plano
é também único — uma intenção todo-compreensiva, provida de todos os meios e
condições, bem como dos fins predestinados.
O plano
de Deus compreende e determina todas as coisas e eventos de todo gênero que
venham suceder.
Isso se
faz infalível à luz do fato de que todas as obras de Deus, da criação e da
providência, se constituem num sistema.
Nenhum
evento é isolado, quer no mundo físico quer no mundo moral, quer no céu quer na
terra. Todas as revelações super-naturais de Deus, e cada avanço da ciência
humana, corroboram para tornar esta verdade conspicuamente luminosa. Daí a
intenção original que determina um evento deve também determinar todos os
outros eventos relacionados a ela, como causa, condição, ou conseqüente, direto
e indireto, imediato ou remoto. Por isso, o plano que determina os fins gerais
deve também determinar até mesmo o elemento mais minúsculo compreendido no
sistema do qual esses fins são partes. As ações livres de agentes livres
constituem um elemento eminentemente importante e efetivo no sistema de coisas.
Se o plano de Deus não determinou eventos dessa classe, ele não poderia ter
feito nada certo, e seu governo do mundo seria feito contingente e dependente,
e todos os seus propósitos, falíveis e mutáveis.
As
Escrituras expressamente declaram essa verdade:
a.
De todo o sistema em geral. Ele "opera todas as coisas segundo o conselho
de sua própria vontade". Ef 1.11.
b.
Dos eventos fortuitos. Pv 16.33; Mt 10.29,30.
c.
Das livres ações dos homens. "Como ribeiros de águas assim é o coração do
rei na mão do Senhor, que o inclina a todo o seu querer." Pv 21.1.
"Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as
quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas." Ef 2.10.
"Porque Deus é quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo
sua boa vontade." Fp 2.13.
d.
Das ações pecaminosas dos homens. "A este que foi entregue pelo
determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e
matastes pelas mãos de injustos." At 2.23. "Porque verdadeiramente
contra o teu Santo Filho Jesus, que tu ungiste, se juntaram, não só Herodes,
mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o
que tua mão e teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de
fazer." At 4.27-28. Compare-se Gn 37.28 com Gn 45.7-8; Is 10.5.
Deve
lembrar-se, contudo, que o propósito de Deus com respeito aos atos pecaminosos
dos homens e anjos réprobos, em nenhum aspecto causa o mal nem o aprova, mas
apenas permite que o agente mau o realize, e então o administra para seus
próprios sapientíssimos e santíssimos fins. O mesmo decreto infinitamente
perfeito e autoconsistente ordena a lei moral que proíbe e condena todo o
pecado, e ao mesmo tempo permite sua ocorrência, limitando e determinando o
canal preciso ao qual ele se confinará, o fim preciso ao qual se dirigirá e
governando suas conseqüências para o bem. "Vós bem intentastes mal contra
mim; porém Deus o intentou para o bem, para fazer como se vê neste dia, para
conservar muita gente com vida." Gn 50.20.
Esse
propósito todo-compreensivo não é condicional, nem no todo nem em qualquer de
seus elementos constituintes. Em nenhum aspecto sua presciência depende de
eventos não compreendidos em e determinados por seu propósito. Ele é
absolutamente soberano, dependendo somente do "sábio e santo conselho de
sua própria vontade".
Uma
distinção bastante óbvia deve sempre ser mantida em mente entre um evento ser
condicionado a outros eventos, e o decreto de Deus, com referência a esse
evento, ser condicionado. Os calvinistas crêem, como todos os homens deveriam,
que todos os eventos no sistema de coisas dependem de suas causas e são
pendentes de condições. Isto é, se um homem não semeou, também não colherá; se
semeou, e todas as influências climáticas favoráveis agem, ele colherá. Se um
homem crê, ele será salvo; se não crê, também não será salvo. Mas o propósito
todo-compreensivo de Deus abarca e determina a causa e as condições, tanto
quanto o evento interrompido nelas. O decreto, em vez de alterar, determina a
natureza dos eventos e suas relações mútuas. Ele faz as ações livres, livres em
relação aos seus agentes; e os eventos contingentes, contingentes em relação às
suas condições. Enquanto que, ao mesmo tempo, ele faz todo o sistema de
eventos, e muitos elementos envolvidos nele, infalivelmente futuros. Decreto
absoluto é aquele que, enquanto pode determinar muitos eventos condicio-nais,
determinando suas condições, ele mesmo não é interrompido em nenhuma condição.
Decreto condicional é aquele que determina que certo evento acontecerá sob a
condição que algum outro evento não decretado aconteça, a que evento não
decretado o próprio decreto, tanto quanto o evento decretado, se acha pendente.
Os decretos de Deus são incondicionais.
Todos
quantos crêem num governo divino concordam com os calvinistas em que os
decretos de Deus relativos aos eventos produzidos por causas necessárias são
incondicionais. O único debate se relaciona aos decretos que são concernentes
às livres ações dos homens e dos anjos. Os socinianos e racionalistas mantêm
que Deus não pode infalivelmente prever as livres ações, porque à luz de sua
própria natureza elas são incertas até que sejam realizadas. Os arminianos
admitem que ele infalivelmente as prevê, mas negam que ele as determine. Os
calvinistas afirmam que ele as prevê como infalivelmente futuras, porque ele
determinou que elas assim o fossem.
A
veracidade do ponto de vista calvinista prova-se:
À luz do
fato de que, como demonstrado supra, os decretos de Deus determinam todas as
classes de eventos. Se cada evento que vem a lume é preordenado, é evidente que
não há nada indeterminado sobre o qual o decreto pudesse ser condicionado.
Porque os
decretos de Deus são soberanos. Isso é evidente — (a) Porque Deus é o eterno e
absoluto Criador de todas as coisas. Todas as criaturas existem, e são o que
são, e possuem as propriedades peculiares a elas, e agem sob as próprias
condições em que agem, em obediência ao plano divino, (b) É diretamente
afirmado na Escritura. Dn 4.35; Is 40.13-14; Rm 9.15-18; Ef 1.5.
O decreto
de Deus inclui e determina os meios e condições dos quais os eventos dependem,
tanto quanto dos eventos propriamente ditos: "Como também nos elegeu nele
antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis."
Ef 1.4. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de
vós, é o dom de Deus." Ef 2.8. "Deus desde o princípio vos elegeu
para a salvação, pela santificação do Espírito e fé da verdade." 2 Ts
2.13. No caso do naufrágio de Paulo, Deus primeiramente prometeu a Paulo que
absolutamente nenhuma vida se perderia. At 27.24. Paulo, porém, disse, no
versículo 31: "Se estes não ficarem no navio, não podereis
salvar-vos."
As
Escrituras declaram que a salvação de indivíduos está condicionada ao ato
pessoal de fé, e ao mesmo tempo que o decreto de Deus com respeito à salvação
dos indivíduos repousa tão-só em "o conselho de sua própria vontade",
"seu próprio beneplácito". "Porque, não tendo eles ainda
nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a
eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que
chama)." Rm 9.11. "Sendo predestinados segundo o propósito daquele
que opera todas as coisas segundo o conselho de sua própria vontade." Ef
1.11; 1.5; Mt 11.25-26.
Fontes – O calvinista. - 31/07/2014