(Estudo feito no Colégio de
Pastores na Obra da Restauração de Tudo [1] - Abril/2003)
O propósito destes dois breves artigos é justificar porque
não adoto o sistema teológico que ficou conhecido na história da igreja cristã
como arminianismo, nome devido ao seu defensor, Tiago Armínio (1560-1609), em
contraposição ao sistema oposto que foi cognominado de calvinismo, em homenagem
ao grande reformador francês João Calvino (1509-1564). O presente artigo
revelará para o leitor a primeira razão.
O sistema arminiano foi apresentado de forma sistemática à
igreja holandesa em 1610, por discípulos de Tiago Armínio, na forma de cinco
pontos que sintetizavam os ensinos do professor holandês e alteravam os ensinos
dos reformadores, diferenciando deles não apenas em termos de ênfase, mas de
conteúdo. Os cinco pontos do arminianismo apresentados na Remonstrance
(Representação) são os seguintes: (1) Livre-Arbítrio (ou capacidade
humana: o homem, mesmo caído, ainda tem condições de atender por si mesmo ao
chamado do evangelho, vindo por seus próprios recursos a arrepender-se e
exercer a fé; para os arminianos não existe morte espiritual em termos
absolutos; (2) Eleição Condicional (Deus não teria marcado ninguém para
salvar-se ou perder-se, mas a eleição antes da fundação do mundo seria baseada
na presciência divina, que elegeria aqueles que de antemão previu que iriam
arrepender-se e crer, sendo, portanto, o conjunto dos eleitos aberto, sem
garantir a segurança de qualquer pessoa antes do encerramento de sua história; (3)
Expiação Geral ou Ilimitada (Jesus Cristo não teria morrido por pessoas
específicas, mas sim por toda a humanidade, apenas possibilitando a salvação de
qualquer pessoa que, dentro da história, creia em sua morte expiatória, embora
isso não seja suficiente para garantir-lhe a absoluta segurança, uma vez que a
salvação depende da perseverança na fé, e não se sabe com certeza quem irá
perseverar até o fim; (4) Graça Resistível (Na concepção arminiana, a
graça de Deus pode ser resistida no ato da salvação e, quando o pecador
aquiesce a ela, até mesmo depois de "salvo", o homem pode resistir a
Deus de modo a vir a perder-se total e finalmente); (5) Insegurança da
Salvação (Ninguém pode garantir que os que são verdadeiramente regenerados
vão perseverar até o fim, ou seja, uma pessoa que hoje se presume salva, amanhã
poderá vir a perder sua salvação). É bom lembrar que, do sistema arminiano
formulado pelos remonstrantes, Armínio discordaria do 5o ponto, pois, apesar de
toda a sua incapacidade de entender o que os reformadores ensinaram, jamais
duvidou da Perseverança dos Santos.
Em 1618, um concílio internacional constituído de 84
renomados eruditos reformados reuniu-se na cidade de Dort, na Holanda, para
analisar e responder aos remonstrantes, formulando, em 1619, após sete meses de
discussões em 154 seções, os importantes Cânones de Dort, dispostos em cinco
capítulos cujos títulos ficaram sendo conhecidos como os Cinco Pontos do
Calvinismo, em homenagem ao grande reformador João Calvino. Esses cinco pontos,
pois, são a síntese do ensino reformado, não apenas subscrito por João Calvino,
mas por todas as confissões de fé históricas e catecismos reformados, a saber,
Confissão de Fé dos Países Baixos, Catecismo de Heildelberg, Segunda Confissão
Helvética e Confissão de Fé de Westminster, e, como bem ficou demonstrado nos
Cânones de Dort, refletem o verdadeiro ensino das Escrituras reafirmado pelos
reformadores e negado pelos remonstrantes.
Os Cinco Pontos do Calvinismo são os seguintes: (1)
Depravação Total (Os homens não regenerados, após a queda, são totalmente
incapazes de escolher o bem quanto a questões espirituais, visto que estão
mortos em delitos e pecados, sendo habilitados apenas por um milagre de
ressurreição espiritual, que ocorre quando da regeneração, veja Ef 2:1-10);
(2) Eleição Incondicional (Deus, antes da fundação do mundo, em seu
propósito eterno e soberano, segundo o conselho da sua vontade, em amor elegeu
alguns pecadores para a salvação, independente de quaisquer méritos que neles
se observassem, nem tampouco previsão de arrependimento e fé, veja Ef 1.3-12;
2Ts 2.13; Jo 6.37, 39, 6.65; At 13.48); (3) Expiação Limitada (Ao
enviar seu Filho para ser morto por causa dos pecados dos homens, Deus, na
verdade, tinha em mente propiciar o único meio para que seus eleitos pudessem
ser salvos, o que lhes garante eterna salvação, enquanto a expiação arminiana é
universal e, contudo, não garante a salvação de ninguém em termos absolutos; a
melhor demonstração desta verdade foi feita por John Owen no livro Por quem
Cristo morreu?, PES, e eu o aconselho a ler a discussão detalhada ali,
inclusive as respostas às objeções a este ensino lógico e claro das Escrituras;
Mc 10.45; Tt 2.14; Hb 9.28; At 20.28; Ef 5.25; Jo 17.6, 9; Hb 9.12; Ap 5.9); (4)
Graça Irresistível (Os eleitos, dentro do tempo, serão chamados por Deus
para sair de suas sepulturas espirituais, isto de um modo irresistível, no ato
da aplicação da redenção pelo Espírito Santo (regeneração), uma vez que esta
redenção eterna foi-lhes conquistada objetivamente por Deus Filho. O apóstolo
Paulo diz Rm 8.28-30: "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29
Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que
chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também
glorificou." (Veja também Jo 6.37, 39, 65; Tt 3.3-6; Ef 2.1-10); (5)
Perseverança dos Santos (A salvação do eleito é eterna, uma vez que a
mesma graça de Deus que os salvou agirá eficazmente em suas vidas, de maneira
que não poderão cair total e finalmente, pois justificação, regeneração e
adoção são irreversíveis. É verdadeira a afirmação da Escritura que "nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1). Veja também
Jo 10.28-30: "25 Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As
obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. 26 Mas vós não
credes, porque não sois das minhas ovelhas. 27 As minhas ovelhas ouvem a minha
voz; eu as conheço, e elas me seguem. 28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais
perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. 29 Aquilo que meu Pai me deu é
maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. 30 Eu e o Pai somos
um.".
Pois bem, ao analisar o que os reformadores ensinaram
fundamentalmente, cujo resumo são os Cinco Pontos do Calvinismo, e constatar a
total consistência desses ensinos com as Escrituras, não pude fazer outra opção
e o meu pêndulo teológico se inclinou irresistivelmente para o Calvinismo.
No dizer de Paulo Anglada, em Calvinismo - As Antigas
Doutrinas da Graça, Editora Os Puritanos, SP, 1996, "As antigas
doutrinas da graça são um sistema lógico, coerente e harmonioso. Os assim
chamados pontos do calvinismo revelam como é possível a redenção eterna de
pessoas pecadoras totalmente depravadas, em conseqüência do pecado original,
pelo Deus Triúno: o Pai elege incondicionalmente, o Filho redime objetivamente
os eleitos, e o Espírito Santo aplica eficazmente a redenção ao coração
daqueles por quem Cristo morreu". Por fim, Anglada diz: "A
doutrina calvinista da perseverança dos santos é a conclusão inevitável e
bíblica da obra da redenção. O homem, em seu estado natural, está totalmente
depravado - isto é, teve suas faculdades espirituais completamente corrompidas,
tornando-se inimigo de Deus, morto nos seus delitos e pecados. Deus o Pai
movido pelo seu infinito amor escolheu, antes da fundação do mundo, alguns
dentre estes para manifestar a sua misericórdia, elegendo-os para ser santos e
irrepreensíveis. Vindo a plenitude dos tempos, o Senhor Jesus Se fez carne,
cumpriu a lei e morreu na cruz pelos eleitos de Deus, expiando objetivamente a
culpa que lhes fora imputada pelo pecado de Adão. Na época própria, aprouve a
Deus chamá-los eficazmente, aplicando soberanamente a Sua graça especial para a
salvação, independentemente de qualquer mérito da parte deles. Que absurdo
imaginar que, depois de tudo isso, o redimido possa apartar-se totalmente da
graça de Deus e perder a salvação!"
Assim, como estou convencido de que esses dois sistemas
são os dois pólos em que podemos nos situar teologicamente, de modo que não se
pode ser lógica, coerente e biblicamente, arminiano e calvinista, ou uma
mistura "calviminiana" que contenha uma porcentagem de um e de outro
sistema ao mesmo tempo, segue-se que tive de optar entre um e outro. Ou você é
arminiano ou você é calvinista, e não uma mistura desses dois sistemas
mutuamente exclusivos. Optei, como não poderia deixar de ser, pelo calvinismo,
uma vez que ele reflete o sistema ensinado pelos apóstolos e pelo próprio
Jesus. Não me envergonho de estar na companhia dos mais nobres santos da
história da igreja, como Agostinho, Lutero, Calvino, John Knox, John Bunyan,
John Gill, John Owen, George Whitefield, Jonathan Edwards, Spurgeon e outros.
Estou em boa companhia, você não acha?
Agora, quando se fala em arminianismo, o sistema da incerteza,
da dúvida, do pessimismo, do medo, da insegurança, só quem sofre dos mesmos
problemas que seu articulador é que pode abraça-lo. Só pode ser calvinista quem
tem fé suficiente para submeter-se à soberania de Deus e pode aceitar o que as
Escrituras ensinam claramente, só os eleitos convictos de sua posição é que
podem ser calvinistas.
Por séculos, os arminianos conviveram com seu sistema sem
leva-lo aos seus extremos lógicos e, por conseguinte, sem revelar de fato a sua
verdadeira face. Os cinco pontos que enumeramos são apenas a ponta do iceberg
do arminianismo. Você quer saber o que realmente estava escondido no sistema
arminiano e que hoje declaradamente está sendo defendido pelos arminianos que
ousaram levar o arminianismo aos seus extremos lógicos? Uma frase só: Open
theism (Teísmo aberto)! Sabe o que é isto? No próximo artigo eu explico.
Esta será a segunda razão porque não sou arminiano. A ponta de seu iceberg já
me afastou dele, e o corpo do iceberg, por certo, me manterá definitivamente no
outro pólo, no porto seguro do calvinismo, em excelente companhia. Até o
próximo número de Pregação Hoje.
25/07/2014
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